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quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Natália de Oliveira Correia

Intelectual, poetisa e activista social, autora de extensa e variada obra publicada, com predominância para a poesia, Natália Correia (Natália de Oliveira Correia) nasceu a 13 de Setembro de 1923, na Fajã de Baixo, ilha de S. Miguel –Açores. Após a emigração do pai para o Brasil (1929), a mãe decide fixar residência em Lisboa, pedindo a transferência dos estudos das duas filhas para o Liceu D. Filipa de Lencastre e, em 1938, funda um colégio particular na Rua Moraes Soares, onde passa a residir com as filhas.
Natália Correia iniciou-se na literatura com a publicação de uma obra destinada ao público juvenil, mas rapidamente se afirmou como poetisa.
Notabilizada através de diversas vertentes da escrita, já que foi poetisa, dramaturga, romancista, ensaísta, tradutora, jornalista, guionista e editora, tornou-se conhecida na imprensa escrita e, sobretudo, na televisão, com o programa “Mátria”, onde advogou uma forma especial de feminismo (afastado do conceito politicamente correto do movimento), o matricismo, identificador da mulher como arquétipo da liberdade erótica e passional e fonte matricial da humanidade; mais tarde, à noção de Pátria e de Mátria acrescenta a de Frátria.
Dotada de invulgar talento oratório e de grande coragem combativa, tomou parte activa nos movimentos de oposição, tendo participado no MUD (Movimento de Unidade Democrática) em 1945, no apoio às candidaturas para a Presidência da República do general Norton de Matos (1949) e de Humberto Delgado (1958) e na CEUD (Comissão Eleitoral de Unidade Democrática, 1969). Foi condenada a três anos de prisão, com pena suspensa, pela publicação da Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, considerada ofensiva dos costumes, (1966) e processada pela responsabilidade editorial das Novas Cartas Portuguesas de Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta. Foi responsável pela coordenação da editora Arcádia, uma das maiores na altura.

Deputada à Assembleia da República (1980-1991), interveio politicamente ao nível da cultura e do património, na defesa dos direitos humanos e dos direitos das mulheres. É autora da letra do Hino dos Açores. Juntamente com José Saramago (Prémio Nobel de Literatura, 1998), Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues foi, em 1992, foi fundadora da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC).
A obra de Natália Correia estende-se por géneros variados, desde a poesia ao romance, teatro e ensaio. Colaborou, com frequência, em diversas publicações portuguesas e estrangeiras. Foi uma figura ,importante, das tertúlias que reuniam em Lisboa nomes centrais da cultura e da literatura portuguesas nas décadas de 1950 e 1960. Ficou conhecida pela sua personalidade livre de convenções sociais, vigorosa e polémica, que se reflecte na sua escrita. A sua obra está traduzida em várias línguas.
Fundou em 1971, com Isabel Meireles, Júlia Marenha e Helena Roseta, o bar “Botequim”, onde durante as décadas de 1970 e 1980 se reuniu grande parte da intelectualidade portuguesa. Foi uma grande entusiasta e impulsionadora do “café-concerto” em Portugal. Na sua casa foi anfitriã de escritores famosos como Henry Miller, Graham Greene ou Ionesco.
Recebeu, em 1991, o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores pelo livro “Sonetos Românticos”. No mesmo ano, foi-lhe atribuída a Ordem da Liberdade; era já detentora da Ordem de Santiago (1971).

Faleceu, subitamente, em sua casa, na madrugada de 16 de Março
de 1993,vítima de ataque cardíaco. A sua morte precoce deixou um vazio na cultura portuguesa muito difícil de preencher. Legou a maioria dos seus bens à Região Autónoma dos Açores, que lhe dedicou uma exposição permanente na nova Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, instituição que tem à sua guarda parte do seu espólio literário (que partilha com a Biblioteca Nacional de Lisboa) do qual constam volumes éditos, inéditos, documentos biográficos, iconografia e correspondência, incluindo múltiplas obras de arte e a biblioteca privada.

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