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quarta-feira, 29 de maio de 2019

Cais da cidade de Angra do Heroísmo ilha Terceira Açores





O antigo Cais da Alfândega localiza-se na parte Norte da baía de Angra do Heroísmo, na freguesia da Sé, em pleno centro histórico da cidade e Concelho de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, nos Açores.
Constitui-se no mais antigo cais da cidade de Angra, estabelecido pouco depois da chegada dos primeiros povoadores, eventualmente por volta de 1470 ou 1500, altura em que foram promovidas grandes obras por determinação de Álvaro Martins Homem.
O cais dava comunicação directa com as Portas da Cidade, via Pátio da Alfândega, o Hospital da Misericórdia (na Rua de Santo Espírito, e o edifício da Alfândega, onde eram registados e armazenados produtos e mercadorias.
Aqui aportavam as embarcações em trânsito de, e para, o Ultramar carregadas com mercadorias e variedade de riquezas.

A imagem mais antiga que se conhece mostra o cais e a principal porta da cidade, cerca de 1590.
O ancoradouro ficava junto à costa do Monte Brasil, a reparação naval era feita na "ribeira"' com acesso pela Rua de São João e, fortificada, vê-se uma porta conduzindo à Rua Direita e à cidade, ficando a nascente as bicas de água de abastecimento aos navios.
Dos 100 anos antecedentes conhece-se pouco. Primeiro foi só um cais, depois a porta que teve, sobretudo, funções de garantia de cobrança dos direitos da alfândega. Esta porta foi fortificada, se bem que a grande protecção fosse dada, desde meados do século XVI, pelas fortificações á entrada da baía: Forte de São Sebastião a nascente, O Forte de São Benedito e logo depois o Forte de Santo António, a poente, mandadas fazer por recomendação do Provedor das Armadas Pero Anes do Canto.
Cerca de 1610 fizeram-se grandes reparações. A porta enobreceu-se e tudo se tornou conforme aos grandes negócios que faziam da cidade a universal escala do mar do poente.
O pátio da Alfândega, rodeando por nascente e sul por edifícios, favorecia os comerciantes que, de cima da muralha podiam ver as mercadorias em baixo no Cais da Alfandega, que era mais baixo e com outra configuração.

Esta porta durou cerca de 250 anos da vida, pois, em 1 de Novembro de 1755 o maremoto originado pelo terramoto de Lisboa, ao passar pela Baía de Angra do Heroísmo, passou acima da porta do mar e chegou à Praça Velha. No retorno arrastou consigo as estruturas da porta.
Criada a Capitania Geral dos Açores em 1766, por decreto de el-rei D. José I de Portugal e chegado a Angra o primeiro capitão-General, D. Antão de Almada, logo manda que o sargento-mor João António Júdice tire o plano de reedificação do cais, aproveitando-se o que pudesse conservar-se.
Data dessa época a segunda grande modificação da relação de Angra com o mar, ditando o aspecto geral até hoje. Assim, já entre o barroco e o neo-clássico, surge um pátio amplo, ao nível da Rua Direita, ligado ao cais por duas largas escadarias em ferradura, rematadas em cima por duas portas com arcos de pedra. Em fundo a Igreja da Misericórdia datando de 1746.
As bicas de abastecimento dos barcos foram transferidas para um chafariz de duplas pilastras laterais, ao centro das escadarias.
A guarda ainda se mantinha, sempre mais por razões administrativas que de defesa, e a porta de acesso de viaturas ficou em frente á Rua de Santo Espírito. O cais recebe novo revestimento sendo elevado e alargado.

A porta do mar, as casas da guarda e tudo o que fizera aquele lugar é enterrado debaixo do entulho destinado a apoiar a nova obra.
Posteriormente, no século XIX, chegou a receber embarcações a vapor embora estas, muitas vezes, tivessem de permanecer mais afastadas do porto devido à já então fraca profundidade das suas águas, causado pelo assoreamento da baía.

Aqui pisou pela primeira vez território açoriano, a 3 de Março de 1832, Pedro IV de Portugal.

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Quem partiu da cidade da Ribeira Grande Ilha de S. Miguel Açores para o Brasil



1-  André da Costa Leite (Ribeira Grande, Ilha de S. Miguel, Açores, Portugal, ? - Santana do Livramento, Rio Grande do Sul, c. 1781) casado com Clara Maria de Sousa.

2-  António Muniz Leite (Fenais da Ajuda, Ribeira Grande, Ilha de São Miguel, Açores, Portugal, 26 de Fevereiro de 1708 - Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 14 de Dezembro de 1810) casado com Francisca Fagundes de Oliveira Leite.

3- Francisco de Arruda Botelho (Ribeira Grande, Ilha de São Miguel, Portugal, c. 1641 - Santana de Parnaíba, São Paulo, c. 1684) casado com Maria de Quadros.

4-  Manuel da Silva Pacheco (Ribeira Grande, Ilha de S. Miguel, Açores, Portugal, ? - Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 3 de Junho de 1825) casado com Benvinda Gomes Martins e Bernarda Gomes Jardim.


5-  Paulo Machado de Sousa (Ribeira Grande, Ilha do Faial, Açores, Portugal, ? - Brasil, ?) casado com Anna Maria de São José.

6-  Sebastião Arruda Botelho (Ribeira Grande, Ilha de São Miguel, Portugal, c. 1642 - Brasil, ?) casado com Isabel de Quadros.


quinta-feira, 23 de maio de 2019

O porquê do nome Canada da Salga na freguesia dos Biscoitos ilha Terceira Açores





O nome desta via de comunicação, segundo reza a tradição popular deve o seu nome a um acontecimento que ocorreu durante o tempo da dominação filipina. Quando as forças castelhanas invadiram a freguesia dos Biscoitos e foi travado um combate tão violento que o sangue dos soldados correu de forma a tornar-se necessário espalhar sal, para se evitar uma pandemia de peste que segundo se acreditava na altura poderia provir simplesmente do sangue espalhado.

domingo, 19 de maio de 2019

António Lourenço da Silveira Macedo historiador da ilha do Faial


António Lourenço da Silveira Macedo (Horta, 11 de Setembro de 1818 – Horta, 18 de Dezembro de 1891), foi um historiador e político da ilha do Faial, Açores, autor da primeira obra historiográfica inteiramente dedicada àquela ilha. Foi ainda reitor do liceu da Horta, procurador à Junta Geral do Distrito da Horta, exercendo ainda diversos cargos públicos na administração da sua ilha.
António Lourenço da Silveira Macedo nasceu na Horta, Faial, a 11 de Setembro de 1818, filho de Lourenço António da Silveira Macedo e de sua mulher Maria delfina da Silveira Goulart, ambos
naturais da vila da Madalena, da fronteira ilha do Pico.

Filho de pai operário, foi com grande sacrifício que a família lhe propiciou uma educação literária que permitiu que, por Decreto de 3 de Dezembro de 1839, acedesse ao lugar de professor régio da cadeira de latim nas Lajes do Pico, que regia interinamente a desde 1837. Em 1844 foi transferido para a Horta, obtendo provisão definitiva no ano de 1848.

Sendo professor régio de latim, foi integrado no Liceu criado na Horta aquando da reforma do sistema educativo, já que a sua criação implicou a extinção das anteriores cadeiras-régias. No Liceu, Silveira Macedo foi encarregue das disciplinas de Matemática e Filosofia, iniciando uma longa carreira docente naquela instituição.

Ocupou sucessivamente os lugares de secretário e bibliotecário do Liceu da Horta, sendo depois nomeado seu reitor.

Sendo um destacado professor liceal, participou em múltiplas iniciativas cívicas e políticas, exercendo funções de destaque na Junta Geral, na comissão administrativa do porto artificial da Horta, na comissão de agricultura, com especial destaque na luta contra a filoxera que então arruinou as vinhas do Pico.

Silveira de Macedo foi um activo publicista, editando diversos jornais e publicando múltiplos artigos na imprensa da época. também se dedicou à produção de manuais escolares para os alunos do Liceu, que depois de aprovados, eram impressos localmente. Cultivou também os estudos históricos e biográficos, sendo a sua obra mais conhecida a "História das Quatro Ilhas que Formam o Distrito da Horta", publicada em três volumes, na Horta, a partir de 1871.


Por Decreto de 12 de Julho de 1833 foi agraciado com a comenda da Ordem de Cristo, pelos relevantes serviços prestados à sua terra.

Silveira Macedo faleceu na Horta, localidade onde tinha nascido e viveu a maior parte da sua vida, a 18 de Dezembro de 1891.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

A acção inquisitorial nos Açores aos judeus


Em 1592, o Inquisidor nos Açores Pe. Jerônimo Teixeira Cabral, denuncia a infiltração de cristãos-novos na Igreja como clérigos. A primeira ac
ção inquisitorial nos Açores foi em 1555, quando o bispo de Angra, D. Frei Jorge de Santiago mandou verificar vários casos de Judaísmo, mandando prender alguns homens e enviá-los para Lisboa. Dois anos após foram enviadas para Lisboa 22 pessoas acusadas de práticas judaicas. São elas: Ana Lopes; André Moniz; António Fernandes; Branca Dias, Cecília Rodrigues, Diogo Lopes; Fernão Lobo; Francisco Lopes; Mestre Gabriel; Gabriel de Andrade; Henrique Ribeiro; Inês Dias; Isabel Mendes; Isabel Moniz; Isabel Pinta; João Tomás; Jorge Álvares; Manuel Álvares; Rui Dias; Rui Fernandes e Violante Henriques. Logo seguiram para a capital da Metrópole: Pero Galvão; Antonio Carvalhais; Jácome Gonçalves e Maria Dias. Já em 1608 começava a ser montada a rede de funcionários inquisitorial. Iniciando pelos Comissários do Santo Ofício, e logo em 1612 a dos Familiares (os esbirros mais infames). Entretanto, desde 1597, já actuava como Comissário da Inquisição em Ponta Delgada o pe. Luís Pinheiro, reitor da residência da Companhia de Jesus e, como primeiro Familiar, o tanoeiro Pero Fernandes, residente em Ponta Delgada. E, em Angra, actuava como Comissário o Pe. Francisco Valente, reitor do Colégio Jesuíta. Para a Ilha do Faial, somente em 1749 foi nomeado Comissário o frei José de Santo António de Pádua. Existiram comissários do Santo Ofício no arquipélago açoriano até 1806 quando, então, perseguiam os franco-maçons.

Outros burocratas da Inquisição eram os Notários, os Qualificadores e os Visitadores das Naus. Havia também o trabalho de redução de estrangeiros, que procuravam converter para o catolicismo como foi o caso da família inglesa Fisher, residente no arquipélago. A primeira Visitação ao arquipélago foi a de D. Marcos Teixeira entre 1575-1576, o mesmo que esteve no Nordeste do Brasil. Ele visitou as ilhas de São Miguel, Terceira e Faial. A segunda foi em 1592, feita por D. Jerônimo Teixeira Cabral, tendo visitado as ilhas Terceira e São Miguel. Já a terceira e derradeira visita, foi realizada entre 1619-1620, por D. Francisco Cardoso do Torneio, que esteve nas ilhas de São Miguel e Terceira. Do total de 354 pessoas denunciadas, 172 foram por Judaísmo que, somadas às 27 prisões de 1555-1557, totalizam 199 cristãos-novos denunciados nos Açores. Foram gerados 114 processos entre 1557 e 1802, envolvendo 112 pessoas, sendo apenas 26 pela "heresia judaica". E, destes, somente 10 foram enviados a Lisboa, e apenas três condenados à morte na fogueira. Os condenados à pena capital foram: Leonor Marques, em 1584; António Borges, em 1559 e Maria Lopes, em 1576.
Os cristãos-novos encontraram nas Ilhas Atlânticas um local privilegiado para seu estabelecimento, uma vez que, ali, podiam praticar mais ou menos, livremente, seus rituais cripto-judaicos, pelo menos, longe da Inquisição, que só esteve em três das nove ilhas, como vimos.

 Essas crenças e costumes, resumidamente, eram os seguintes: dizer que a Lei de Moisés é mais suave e mais delgada que a de Cristo; invocar o Deus de Israel; a guarda do sábado, o Shabat, não trabalhando nesse dia; limpar candeeiros e neles colocar azeite limpo e torcidas novas às sextas-feiras, vestindo camisas lavadas e lançando lençóis limpos na cama, além de casarem nesse dia da semana; dizer orações em língua hebraica; a recusa em comer carne de porco, lebre, coelho, aves asfixiadas ou afogadas e peixe sem escama; tirar a gordura e o sangue da carne; refogar os alimentos com azeite; degolar animais cortando-o de alto a baixo com uma faca afiada e rezando uma oração e deitando fora o sangue do animal; fazer cerimonias judaicas como o jejum da Rainha Ester ou do Purim; o jejum de Yom Kippur, jejum Maior ou do Perdão, em Setembro; a Páscoa do pão ázimo, o Pesah ou do cordeiro, em Março; usar alguidar ou louças e utensílios novos nesses dias de festa. Além desses costumes, eram praticados os seguintes: carpir meneando o corpo e amortalhar os defuntos colocando-lhe uma moeda na mão; despejar toda a água existente na casa quando falecia alguém por acreditar que o anjo da morte lavasse a espada com que matara o falecido; lançar uma moeda ou peça de ouro na água do banho dos recém nascidos; olhar para o oriente meneando o corpo; a bênção judaica e a circuncisão. E, também, o conhecimento de lendas e histórias judaicas. Toda essa tradição era transmitida à família pela via feminina. A condenada à morte na fogueira Maria Lopes, denunciada pelo filho Fernão Lopes, de praticar ritos judaicos tinha, entre seus pertences, rezas escritas em hebraico que, traduzidas, se verificou tratar, dentre outras, do Shemá Israel (Ouve ó Israel), um trecho: "Ouve ó Israel. Adonai é nosso Deus. Adonai é uno. Bendito é o nome para a eternidade e perfeição".


Nem os nobres escaparam da perseguição da Inquisição nos Açores. D. Rodrigo da Câmara, Conde da Vila Franca, preso em 1650, em São Miguel, foi condenado à prisão perpétua com a perda de honras e títulos. D. José, seu filho, conseguiu herdar o título mudado para Conde da Ribeira Grande. É sabido que os Câmaras descendem todos de João Gonçalves Zarco, natural de Matosinhos, Portugal, que adoptou o sobrenome Câmara de Lobos e depois somente Câmara, referindo-se a uma gruta na Ilha da Madeira que era refúgio dos leões marinhos, descobridor da Ilha da Madeira e Porto Santo. Os Zarcos descendem de família judaica espanhola, provavelmente fugida dos massacres de Sevilha de 1391. Em Portugal, convertidos ao cristianismo, logo se tornaram fidalgos e obtiveram mercês reais ao entrarem para a Ordem de Cristo, a antiga Ordem dos Templários, sediada no castelo de Tomar. Exactamente nessa cidade existe, ainda hoje, uma das duas sinagogas reconhecidas oficialmente como representantes dos antigos templos das comunidades hebraicas. A outra, é a sinagoga de Castelo de Vide, ambas transformadas em museus judaico-portugueses. O grande Fernando Pessoa, descendente de Martinho da Cunha Pessoa de Oliveira, pertencente a uma numerosa família de cristãos-novos judaizantes do Fundão, tinha conhecimento de sua origem, daí a explicação para seus heterônimos.


terça-feira, 14 de maio de 2019

Origens do Divino Espírito Santo




Os Impérios do Divino Espírito Santo são um dos traços mais marcantes da identidade açoriano, constituindo um culto que para além de marcar o quotidiano insular, determina traços identitários que acompanham os açorianos para todos os lugares onde a emigração os levou. Para além dos Açores, o culto do Divino Espírito Santo está hoje bem vivo no Brasil (para onde foi levado há três séculos) e na América do Norte.

Apesar da colonização dos Açores só se ter iniciado a partir de 1432, quase 200 anos após o apogeu do joaquinismo, e do núcleo central da doutrina de Joaquim de Fiore já ter sido condenado em 1256 pelo papa Alexandre IV, há no arquipélago um claro reacender daquelas doutrinas, inspirando manifestações religiosas e acções rituais e simbólicas que perduram até aos nossos dias.
Seguramente por influência dos franciscanos espiritualistas, que foram os primeiros religiosos a instalar-se nas ilhas, partilhando com os primeiros povoadores as agruras da colonização, o culto do Divino Espírito Santo, então em apagamento na Europa devido à crescente pressão da ortodoxia religiosa, foi trazido para as ilhas. Aqui, em comunidades isoladas e sujeitas às pressões e incertezas da vida na margem do mundo conhecido, as crenças e ritos do Divino Espírito Santo ganharam raízes e recuperaram o seu vigor, reganhando um claro cunho joaquimita que ainda hoje está bem patente.
Os Açores, e as comunidades de origem açoriana, constituem assim os últimos redutos onde as doutrinas de Joaquim de Fiore sobrevivem, e, a julgar pelo recrudescer dos Impérios do Divino Espírito Santo, mantêm todo o seu vigor.
Sobre as origens do culto e dos rituais utilizados, pouco se sabe. A corrente dominante filia o culto açoriano ao Divino Espírito Santo nas celebrações introduzidas em Portugal pela Rainha Santa Isabel, que por sua vez as teria trazido do seu Aragão natal. De facto existem notícias seguras da existência do culto nos séculos XIV e XV em Portugal.


O seu centro principal parece ter sido em torno de Tomar (a Festa dos Tabuleiros parece ter aí raiz), localidade que era sede do priorado da Ordem de Cristo, a que foi confiada a tutela espiritual das novas terras, incluindo dos Açores. Outro centro relevante foi Alenquer, localidade onde, nos primeiros anos do século XIV, a rainha Santa Isabel terá introduzido em Portugal a primeira celebração do Império do Divino Espírito Santo, provavelmente influenciada por franciscanos espiritualistas, que ali fundaram o primeiro convento franciscano em Portugal. Pelo menos assim reza um velho pergaminho franciscano depositado na Câmara Velha daquela vila estremenha. A partir dali o culto expandiu-se, primeiro por Portugal (Aldeia Galega, na época Montes de Alenquer, Sintra, Tomar, Lisboa) e depois acompanhou os portugueses nos Descobrimentos.

As novas colónias, de início subordinado directamente ao prior de Tomar, e depois ao arcebispado do Funchal e ao novo bispado de Angra, estavam sobre a orientação religiosa da Ordem, a quem competia a nomeação do clero e a supervisão do seu desenvolvimento religioso.


Neste contexto, as referências ao culto do Espírito Santo aparecem muito cedo e de forma generalizada em todo o arquipélago, já que Gaspar Frutuoso, escrevendo cerca de 150 anos após o início do povoamento, já o menciona, indicando ser comum a todas as ilhas. Tal expansão apenas seria possível se contasse com a tolerância, ou mesmo o incentivo, da Ordem de Cristo. Também as referências a festejos feitas nas Constituições Sinodais da Diocese de Angra, aprovadas em 1559 pelo bispo D. frei Jorge de Santiago, demonstram que naquela altura já eram matéria a merecer a atenção da autoridade episcopal.
Tendo em conta que os povoadores vieram de múltiplas origens, desde o norte ao sul de Portugal, e ainda da Flandres e outras regiões europeias, o que aliás está bem patente na diversidade dos falares açorianos e das tradições e costumes das ilhas, e que excluindo a diocese, não existia no temporal qualquer forma de governo comum, a existência de um culto unificador, comum a todo o arquipélago, e com existência em fase tão precoce do povoamento, parece demonstrar que terá existido uma clara intenção e coordenação na sua introdução. Admitindo tal facto, não resta senão a presença franciscana como explicação para a propagação do culto e como veículo de introdução das doutrinas joaquimitas.

A existência de Irmandades do Divino Espírito Santo é já generalizada no século XVI. O primeiro hospital criado nos Açores (1498), a cargo da Santa Casa da Misericórdia de Angra, recebe a designação, ainda hoje mantida, de Hospital do Santo Espírito. A distribuição de carne e os bodos eram também já comuns em meados do século XVI.

domingo, 12 de maio de 2019

Joe Raposo director musical da série televisiva os Marretas



Joe Raposo nasceu em Fall River, em 1937 e faleceu ainda novo, em Nova Iorque, em 1989.
Foi director musical dos famosos programas "Sesame Street" ("Rua Sésamo"), Muppets ("Marretas") e outras produções de Jim Henson e escreveu canções de sucesso como "Bein’Green", "Sing" e "Something Come and Play", cantadas por Frank Sinatra, The Carpenters, Barbra Streisand, Ray Charles e outros.

Joe Raposo chamava-se na realidade Joseph Guilherme Raposo e era filho de José Raposo, professor de música e regente da Banda de Santo Cristo, natural dos Arrifes, S. Miguel.
Em 2004 foi publicado o livro "A Boy and his Music" da autoria de Odete Amarelo e Gilda Arruda, com ilustrações de Josette Fernandes, que é a biografia de Joe Raposo contada às crianças em português e inglês.


quarta-feira, 8 de maio de 2019

Emigrantes que partiram para o Brasil da cidade da Praia da Vitória ilha Terceira

1.  Águeda Maria Simões (Ilha Terceira, Praia da Vitória, Açores, Portugal, 19 de Agosto de 1731 - Rio Pardo, Rio Grande do Sul, 19 de Novembro de 1820) casada com Manuel Gonçalves, Mancebo.

2..  Antão Lourenço Rebolo (Quatro Ribeiras, Praia da Vitória, Ilha Terceira, Açores, Portugal, ? - Brasil, 26 de Julho de 1810) casado com Rosa da Conceição. O casal já havia emigrado para Desterro, estabelecendo-se no alto de um morro à Oeste da Ilha, de onde se avistava mar e continente a perder de vista. Quando o açoriano faleceu a história de seu primeiro habitante já havia baptizado aquele lugar: era o morro do Antão, actual Morro da Cruz.

3.  António Mendes Borges (Ilha Terceira, Lajes, Praia da Vitória, Açores, Portugal, ? - Brasil, ?) casado com Francisca Josefa e Maria de São José.

4.  Catarina dos Anjos (Fontinhas, Praia da Vitória, Ilha Terceira, Açores, Portugal, ? - Brasil, ?) casada com Bernardo Rodrigues de Souto.

5.  Isabel Inácia do Espírito Santo (Lajes, Praia da Vitória, Ilha Terceira, Portugal, 11 de Outubro de 1740 - Rio Grande, Rio Grande do Sul, 31 de Março de 1816) marido de Manuel Lucas.

6.  João do Couto Machado (Biscoitos, Praia da Vitória, Ilha Terceira, Açores, Portugal, ? - Taquari, Rio Grande do Sul, 16 de Junho de 1781) casado com Taquari, Rio Grande do Sul.


7.  José Francisco Lourenço (Quatro Ribeiras, Praia da Vitória, Ilha Terceira, Açores, Portugal, ? - Brasil, ?) casado com Joana Bernarda.

8.  José Martins Faleiro (Lajes, Praia da Vitória, Terceira, Açores, Portugal, 4 de Fevereiro de 1716 - Brasil, 15 de Março de 1783) casado com Jacinta Rosa Coelho.

9.  Manuel Gonçalves Dias (Lajes, Praia da Vitória, Ilha Terceira, Açores, Portugal, ? - Rio Pardo, Rio Grande do Sul, 7 de Fevereiro de 1789) casado com Cecília Maria dos Anjos.

10.  Manuel Luís (N.Sa. de Guadalupe de Agualva, Ilha Terceira, 13 de Março de 1712 - Brasil, ?) casado com Mariana Tomásia.

11.  Manuel Lucas (São Pedro de Biscoitos, Praia da Vitória, Ilha Terceira, Açores, Portugal, 7 de Setembro de 1731 - Rio Grande, Rio Grande do Sul, 24 de Junho de 1802) casado com Isabel Inácia Do Espírito Santo.

12.  Maria Francisca da Conceição de Melo (Biscoitos, Praia da Vitória, Ilha Terceira, Açores, Portugal, c. 1702 - Santo Amaro do Sul, General Câmara, Rio Grande do Sul, 28 de Junho de 1792) casada com António Nunes Corvelo.

13.  Maria de Jesus (São Pedro dos Biscoitos, Praia da Vitória, Ilha Terceira, Açores, Portugal, ? - Brasil, ?) casada com Thomé Machado Ourique.

14.  Maria do Nascimento (Praia da Vitória, Terceira, Açores, Portugal, ? - Brasil, ?) casada com Manuel de Freitas Teixeira.

15.  Maria de São Mateus (Fontinhas, Praia da Vitória, Terceira, Açores, Portugal, c. 1734 - Brasil, ?) casada com João Rodrigues Evangelho.


16.  Maria Silveira (Lajes, Praia da Vitória, Ilha Terceira, Açores, Portugal, c. 1710 - Taquari, Rio Grande do Sul, 23 de Junho de 1781) casada com Manuel da Silveira Golarte.

17.  Mariana Tomásia (S. Miguel Arcanjo das Lajes, Ilha Terceira, 18 de Outubro de 1710 -Brasil, ?) casada com Manuel Luís.

18.  Mateus Lourenço Coelho (Quatro Ribeiras, Praia da Vitória, Ilha Terceira, Açores, Portugal, ? - Brasil, ?) casado com Ana Maurícia Rosa.

19.  Thomé Machado Ourique (São Pedro dos Biscoitos, Praia da Vitória, Ilha Terceira, Açores, Portugal, c. 1710 - Brasil, ?) casado com Maria de Jesus.

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Piratas na ilha das Flores Arquipélago dos Açores



Remonta, todavia, a 9 de Setembro de 1591 aquela que ficou conhecida como a “Batalha da ilha das Flores”. Nesse dia, a esquadra de lord Tomas Howard, que se encontrava surta diante de Santa Cruz (possivelmente na baía da Ribeira da Cruz, onde Diogo das Chagas dirá depois ter visto ancorada, em 1597, a esquadra do conde de Cumberland, de 160 velas), lançou-se, precipitadamente, contra os barcos que surgiam de oeste, julgando pertencerem à armada espanhola provinda da Nova Espanha. Porém, em vez de encontrarem navios mercantes, mal armados, os ingleses depararam-se com a frota de defesa das ilhas, constituída por 40 navios de guerra, comandados por D. Alonso de Bázan, que lhes vinham dar caça. Consideravelmente mais pequena (22 navios), a armada inglesa, duramente fustigada pelo fogo inimigo, foi então obrigada a fugir como pôde. A excepção foi o Revenge, de sir Richard Greenville, que, tendo-se demorado em zarpar de Santa Cruz, acabou por ser capturado pelos espanhóis. Verdadeiramente épico, esse combate, que custou a vida a Greenville, seria depois glorificado por lord Alfred Tennyson no seu poema The Revenge: A Ballad of the Fleet [“At Flores in the Azores Sir Richard Grenville lay, / And a pinnace, like a fluttered bird, came flying from far away:” (…)], o qual, posteriormente, foi com notório sucesso musicado pelo compositor Charles Stanford.

Mas nem sempre foi conflituoso o relacionamento entre a pirataria e as gentes – e não apenas a arraia-miúda – das Flores. E nem sequer é difícil documentar situações em que, tanto aquela como estas, souberam, por interesse comum, cultivar uma convivência amistosa. Será disso exemplo maior o caso de Peter Easton, porventura o mais bem sucedido pirata do seu tempo – chegou a comandar 40 navios com alguns milhares de homens ao seu serviço, o que fazia dele o corsário mais temido no Atlântico Norte, e quando se “reformou” tinha uma fortuna pessoal avaliada em dois milhões de libras. Tanto quanto se sabe, o relacionamento deste pirata com a ilha das Flores remontará a Março de 1609, quando, andando já no corso, aqui fez, pela primeira vez, aprovisionamento de carne, água e lenha. Nos anos seguintes, sempre em Março, voltou à ilha, para fazer refresco e aguada, e, no verão de 1611, fosse por amor ou por simples conveniência, estava já de casamento marcado com uma filha do capitão-mor das Flores, de apelido Garro. Duplamente incomodado com os prejuízos causados pelos navios deste pirata e ainda com a cumplicidade entre florentinos e corsários, Filipe II ordenou, então, por decreto de 30 de Julho de 1611, que fossem tomadas as diligências necessárias à prisão do capitão Peter Easton. Poderoso e escorregadio, o Pirate Admiral nunca chegou a ser detido – mas nas Flores, dois anos depois, sob a acusação de acolher na ilha corsários estrangeiros, era preso o ouvidor e também capitão-mor Tomé de Fraga.