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terça-feira, 10 de agosto de 2021

Os Açores e a Maçonaria

 

Com a presente nota pretendemos partilhar uma reflexão sobre a Sociedade e Loja Amor da Pátria, contextualizando a sua intervenção, enquanto motivo de interesse para uma (re)descoberta da Maçonaria nos Açores.


A maçonaria tem sido portadora de importantes valores da humanidade como a liberdade, a igualdade, a fraternidade, a neutralidade religiosa do estado e o exercício de uma cidadania activa e participativa.


Tem tido especial afirmação, nos momentos considerados de crise, estruturando a sua acção enquanto reserva de valores sociais. Em Portugal e também nos Açores, este (Publicado em freemason.pt) contexto ganha significado, nomeadamente ao considerarmos a revolução liberal de 1820, a revolução republicana de 1910 ou mesmo a revolução da Abril de 1974.

A Cidade da Horta, nos Açores, ‘cruza’ alguns momentos do seu percurso com estes importantes períodos da história de Portugal, constituindo a Sociedade e a Loja Amor da Pátria, elementos agregadores e potenciadores de uma intervenção social de alcance assinalável.


Na Europa, nos inícios do sec. XVIII, a procura da razão, da perfectibilidade humana e social constituíram elementos essenciais no desenvolvimento do iluminismo, intimamente relacionado com a história da maçonaria.


Em Inglaterra, em 1717, no mês de Fevereiro, associam-se quatro lojas de maçons aceites, (distinguindo-se da maçonaria operativa), estabelecendo que a maçonaria seria para todos os homens livres e de bons costumes, que fossem regularmente admitidos na maçonaria. Desta forma inicia-se um processo de expansão por toda a Europa.


Estima-se que, em 1727, a loja registada pela inquisição como a “Loja dos Hereges Mercadores”, terá sido a primeira a surgir em Portugal, fundada por comerciantes britânicos, que viviam em Lisboa. Em 1735, regulariza-se, pedindo a sua admissão à Grande Loja, de Londres. Em 1755, abate colunas, especialmente devido às perseguições à maçonaria decorrentes da bula papal de 1738, emanadas por Clemente XII.


Neste período também, a Maçonaria nos Açores dá os seus primeiros passos, de forma algo rudimentar, sem locais fixos para a realização das sessões, reunindo sobretudo em casas particulares e sem vínculo entre as diferentes lojas.


Os primeiros registos da existência de uma Loja, nos Açores, com data de 1772, encontram-se na Ilha do Faial , Cidade da Horta, tendo como primeiro Venerável, Tomaz de Ornelas Frazão. As sessões decorriam na farmácia de um dos seus obreiros, Manuel do Paraíso, na Rua da Misericórdia.


Por esta altura, (finais do sec. XVIII e inícios do séc. XIX ) os Açores, em especial na cidade da Horta, assumem forte centralidade, enquanto importante escala de navegação comercial, no Atlântico Norte.


Entre 1807 e 1811, registam-se as invasões Francesas a Portugal, num contexto de confronto entre a Inglaterra e a França, originando a partida da família real para o Brasil.


Inicialmente os franceses não se assumem como ocupantes. Contudo a partir de 1808, aumenta a animosidade com expressão em medidas como o lançamento do imposto de guerra, a confiscação de prata e ouro das igrejas e das casas, cujos nobres haviam partido com a corte para o Brasil, assim como a substituição da bandeira Portuguesa, pela Francesa, no castelo de S. Jorge, em Lisboa.

Este contexto, aliado ao início dos conflitos com a maçonaria portuguesa, que rejeita o general francês, Junot, como seu representante, na qualidade de Grão-Mestre, originando que ordenasse a proibição da actividade do Grande Oriente Lusitano, faz despoletar o debate politico, dando-se assim os primeiros passos para um Portugal aonde sobressaem as questões da cidadania e do desenvolvimento socioeconómico, em detrimento de um Portugal do antigo regime, aonde predominava o privilégio e a inquestionabilidade do poder.


Na sequência da 3a invasão de Portugal pelas forças de Napoleão e da consequente perse­guição à Maçonaria, na noite de 10 para 11 de Setembro de 1810, muitos são os maçons (cerca de 38) que são presos (Setembrada) e posteriormente deportados para os Açores, na fragata “Amazon”, que parte do Tejo, a 18 de Setembro, chegando aos Açores, a 27 do mesmo mês.


A presença nos Açores dos Maçons deportados constitui um factor de expansão da maçonaria no arquipélago, bem como motivo de desenvolvimento de uma cultura liberal, que viria a marcar o posicionamento da Região nos tempos seguintes.


Na Horta, é dinamizada a criação de uma loja, reunindo antigos maçons, iniciando profanos, tendo como principal obreiro Luís Francisco Risso. Esta loja trabalhou na casa de Manuel Gutierres, irmão do morgado Francisco Manuel Gutierres. Com a partida de Riso do Faial bem como de Manuel Gutierres, a loja (Publicado em freemason.pt) passou a funcionar numa pequena casa na Canada das Galinhas (actual Vista Alegre), que era pertença da propriedade dos irmãos Thomaz Luis Leal e António Silveira Leal. Entre a partida de Manuel Gutierres e os preparativos para o novo local, as reuniões realizaram- se no Convento Franciscano.

As múltiplas divisões políticas, que caracterizam o inicio do sec. XIX, começam a esbater-se após a Regeneração. No final da década de cinquenta e início da década de sessenta, regista-se um período de consolidação da Maçonaria Portuguesa, ocorrendo a 30 de Outubro de 1869 a constituição do Grande Oriente Lusitano Unido, reunificando várias obediências Maçónicas.


Na Horta, em 28 de Novembro de 1859 é criado a Sociedade Amor da Pátria, a face profana da Loja “Amor da Pátria”, que se instala formalmente a 20 de Junho de 1860, tornando-se uma das mais importantes lojas açorianas e até da Maçonaria Portuguesa, tendo pertencido a várias obediências, no contexto das várias divisões politicas, que caracterizavam a época.


Ao longo do seu percurso foram-lhe concedidos os títulos de Ilustre, de Capitular, afastando-se do Grande Oriente de Portugal em 1862. A 29 de Janeiro de 1863 integrou-se no seio da Confederação Maçónica Portuguesa, vindo a transitar, em 1867, para o Grande Oriente Português e posteriormente, em 1869, para o Grande Oriente Lusitano Unido, onde se manteve até à ilegalização da Maçonaria, em 1935.


Teve uma forte actividade social, nas áreas do ensino, na criação de escolas, de bibliotecas, tendo constituído a Caixa Económica Faialense, que subsidiou várias obras de beneficência e instituições como os Asilos de Mendicidade e Infância Desvalida, assim como a organização de diversas acções culturais.

A sede da Sociedade, funcionou no solar do Morgado Terra, localizado a norte do actual edifício, reflectindo-se na história da cidade da Horta como um espaço simbólico, como a maior e mais nobre sala de visitas da Ilha do Faial, ligando-se a importantes eventos institucionais.


Recordamos a visita do imperador D. Pedro IV, na companhia da corte liberal portuguesa que ali ficou hospedado quando visitou a Horta em Abril de 1832, e recebeu a vereação camarária presidida por António José de Ávila (maçon), o futuro Marquês de Ávila e Bola- ma. Anos mais tarde, em Novembro de 1858, foi feita, uma recepção festiva ao neto do imperador, o príncipe D. Luiz.


A 13 de Agosto de 1930 ocorreu um violento incêndio, que destruiu o espaço ocupado pela Sociedade e pela Loja Maçónica, tendo inclusive o arquivo, sido perdido por completo. Neste contexto foi deliberada a construção de um novo edifício, tendo sido criado o cargo de Delegado da Direcção para a construção, que durou 3 anos, tendo a primeira pedra sido lan­çada em Agosto de 1931 e a concluindo-se o edifício a 30 Junho de 1934.O novo edifício, destaca-se no tecido urbano da cidade da Horta, pela sua escala e qualidade, com uma (Publicado em freemason.pt) nítida valorização da “Art Deco” reflectindo bem o novo ciclo de produção arquitectónica nacional, que ocorre de forma mais densa na capital do Pais, Lisboa, em que o arquitecto Manuel Joaquim Norte Júnior, (que entre outras distinções obteve por cinco vezes o Prémio Valmour) é um dos seus expoentes.


Nesse edifico, teve lugar acto inaugural da I Legislatura do Governo Regional dos Açores, a 4 de Setembro de 1976, na presença do Presidente da Republica, General Ramalho Eanes, e do Primeiro Ministro , Mário Soares, e funcionou durante vários anos (até 1980) a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores.


( Cortesia a  F. Azevedo )



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