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sábado, 30 de novembro de 2019

Narciso Lopes é dos últimos na Terceira a dedicar-se à arte da tanoaria


Na ilha Terceira, nos Açores, já não há muitos carpinteiros a dedicar-se à arte da tanoaria. Um deles é Narciso Lopes, cuja carpintaria fica perto da estrada entre as Quatro Ribeiras e a Agualva, na costa norte da ilha. Apaixonado pelo trabalho em madeira, Narciso até já escreveu num jornal regional sobre as virtudes e a segurança dos tectos em madeira numa ilha flagelada em 1980 por um forte terramoto: «É mais seguro que o betão».
A carpintaria Narciso de Narciso Lopes, 59 anos, fica à beira da estrada entre Quatro Ribeiras e Agualva, na costa norte da Ilha Terceira. Narciso é um dos poucos na ilha que ainda faz tanoaria.
«Não há nada que eu não saiba fazer em madeira», explica Narciso, que cresceu na lavoura mas cedo ganhou a paixão pelo trabalho com madeira. «Dos 13 aos 18 ia sozinho na companhia de um cão guardar vacas para a Serra do Labaçal. Mas nos tempos livres e na escola sempre gostei de trabalhar a madeira. Na escola eu é que fazia os piões para os outros, com uma navalha, um vidro para raspar e uma machada pequena». Após o serviço militar, casou com a filha de um marceneiro. «Fui para a oficina do meu sogro e ao fim de seis meses já fazia qualquer mobília».

Com o terramoto que abalou a Terceira em 1980, teve muito trabalho. «Meti tectos de madeira em casas da ilha toda». Ainda hoje, Narciso Lopes mantém que os tectos em madeira são bem mais seguros do que as placas de betão. «Durante o sismo, muitas casas ficaram sem paredes e os tectos ficaram em cima dos frontais em madeira que faziam as divisões dos quartos. As traves de madeira assentes em cima das paredes não deixam que estas caiam para dentro. A placa em betão é mais perigosa em caso de sismo porque está ligada às paredes. Se a terra tremer e a construção cair, cai para dentro».
De há uns anos a esta parte, Narciso Lopes dedica-se também ao artesanato. «Faço bordões de lavrador que muita gente gosta de comprar para levar para a América, para o Canadá ou para o continente». Também faz aguilhadas: «A aguilhada é a peça com que o lavrador em cima do carro de bois toca no animal e faço varas para o jogo do pau. Já fiz alguns arados e já reparei carroças e carros de bois».

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