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sábado, 21 de março de 2020

Lidador


O Lidador foi uma embarcação brasileira, que naufragou na ilha Terceira, nos Açores, no início de 1878.
Também conhecido como "naufrágio do barco do sal", actualmente constitui-se em sítio arqueológico integrante do Parque Arqueológico Subaquático da Baía de Angra do Heroísmo.
Embarcação característica da época de transição entre os navios a vela e os a vapor, foi construído nos estaleiros William Walker & Co., em Londres, em 1873. Baptizado como "Lidador", foi inspecionado, para fins de obtenção do seguro marítimo, em Cardiff, no País de Gales, onde também foram testadas as suas correntes e âncoras. Entrou então ao serviço da Empresa Transatlântica de Navegação, ficando registado no porto do Rio de Janeiro. Fazia a rota Portugal-Brasil, com escala nos Açores, transportando passageiros e carga em geral.
Ao final de Janeiro de 1878 o "Lidador", sob o comando do capitão da marinha mercante Augusto Borges Cabral, natural da ilha de Santa Maria, aportou à Horta, na ilha do Faial, onde embarcou emigrantes e passageiros faialenses com destino ao Brasil, e prosseguiu viagem rumo à ilha Terceira, na que seria a sua última escala.

Ao chegar à vista de Angra do Heroísmo, lançou âncora fora das fortalezas da cidade, ou seja, no exterior do alinhamento formado pela ponta de Santo António, no Monte Brasil, e o Forte de São Sebastião. No porto encontravam-se três embarcações de madeira, à vela, a saber: o patacho "Angrense", o patacho "Jane Wheaton" e o lugre "Zebrina", estes últimos de bandeira britânica.
Com o "Lidador" ancorado, as lanchas do porto deram inicio ao serviço da estiva. Ao anoitecer do dia 6 de Fevereiro, já com as operações de embarque quase à metade, o vento começou a soprar com intensidade crescente e rodou para o sul. Pouco mais tarde passou a soprar de sueste, materializando-se o temido vento conhecido localmente como "carpinteiro".
Sob forte pressão do temporal súbito, o Lidador recorreu à sua máquina e iniciou o levantamento da âncora, visando alcançar o mar aberto. Entretanto, possivelmente devido à precipitação, a sua equipagem deixou descair a âncora, não conseguindo voltar a recolhê-la atempadamente. A embarcação, com a máquina a vapor a trabalhar a toda a força, girou em torno da sua amarração vindo a embater - já a 7 de Fevereiro - no recife submerso que se estende a partir da ponta do Forte de São Sebastião por mais de duzentos metros.

A colisão provocou um rombo no casco da embarcação e a consequente submersão da máquina. A caldeira, subitamente inundada, explodiu. Impotente para manobrar, a embarcação flutuou para oeste vindo a colidir com o "Jane Wheaton", a quem quebrou o mastro do gurupés, vindo a naufragar em paralelo ao cais da Figueirinha, a não mais de cinquenta metros de distância da costa.
Os náufragos, em pânico, foram evacuados pelos botes dos demais navios ancorados na baía e pelas lanchas da cidade. A carga e as bagagens dos passageiros e tripulantes tiveram destino diferente: as divergências suscitadas entre o representante da agência da Empresa Transatlântica de Navegação e o Consulado Brasileiro deram azo a que nada se fizesse acerca do material que ainda se encontrava por salvar e que acabou por afundar com o navio desconhecendo-se do que se compunha.
Visando minorar a delicada situação dos náufragos, o prelado da diocese de Angra do Heroísmo abriu uma subscrição pública para auxiliar as vítimas e João de Bettencourt de Vasconcellos Correia e Ávila acolheu, na sua própria casa, oito homens e dezanove mulheres.  Este acto do visconde de Bettencourt foi bem visto aos olhos da população à época.

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