Mariana Belmira de Andrade nasceu nas Velas a 31 de Dezembro de 1844 e faleceu nas Velas a 17 de Fevereiro de 1921. Foi uma professora do ensino primário, poetisa açoriana da geração realista, ficcionista, ativista republicana com laivos de socialismo e feminista.
Era proveniente de uma família de comerciantes, recebeu a educação própria de uma rapariga do seu tempo da média burguesia açoriana, com a instrução primária, francês e inglês e uns rudimentos de música. Foi a sua dedicação aos estudos e a sua vontade de saber mais que a levou a estudar e a obter por si mesma o lastro literário que completou a sua formação intelectual. Aprendeu quase sozinha a tocar piano e a ler e traduzir a língua francesa. A sua vasta cultura deve-se também ao convívio com outros intelectuais jorgenses do seu tempo, como João Caetano de Sousa e Lacerda e com Delfina Vieira Caldas, a perceptora dos filhos do conselheiro José Pereira da Cunha da Silveira, e às leituras que fez de autores como Victor Hugo, Jules Michelet, Gomes Leal e Antero de Quental.
Apresentava um carácter indómito e pouco sociável e assumia-se andrófoba e refractária ao casamento. Não deixou, porém, de casar com António Maria da Cunha, ainda que só aos 34 anos de idade, tardiamente para a época, e suportando por muito pouco tempo o que ela chamava a «treva do himeneu». Não tendo o casamento sido feliz, o seu génio insubmisso levou-a, com efeito, a separar-se do marido logo após o batizado do único filho do casal, Inocêncio, cujo nome foi motivo de discórdia entre os progenitores. Alice Moderno, sobre este assunto, escreveu o seguinte: Contava a ilustre poetisa que entre os cônjuges se travara acesa discussão, que foi até à pia batismal, tendo sido a contenda finalizada pelo pároco, que acedeu aos desejos do pai, objetando à mãe do neófito que: «onde há galo não canta galinha».
Separada do marido e com necessidade de garantir o futuro do filho, foi para Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, onde obteve o diploma de professora primária. Habilitada ao magistério primário, dedicou-se daí em diante ao ensino das primeiras letras. Praticamente viveu toda a sua vida na sua ilha natal de São Jorge, onde foi uma reputada professora primária na vila das Velas.
Foi já depois do casamento desfeito e de ter enveredado pelo ensino que, por volta dos 40 anos de idade, sentiu «bafejar-lhe a fronte / o fogo da inspiração» sob o signo do romantismo, mas rimou os primeiros «devaneios» poéticos já sem sacrificar a Eros, por o «orgulho de mulher» lhe tornar defeso o prazer do amor e não achar «o homem assunto digno de verso». Esta fase inicial da sua obra poética fez nascer o seu primeiro livro de poesias, que afina pela escola romântica.
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