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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Museu do Vinho nos Biscoitos ilha Terceira Açores


 É um museu dos Açores localizado na freguesia dos Biscoitos, concelho da Praia da Vitória, ilha Terceira, arquipélago dos Açores.
Este museu que procura contar os 426 anos de história da cultura da vinha na freguesia dos Biscoitos e que igualmente procura integrar-se na tradicional paisagem de produção de vinho dos biscoitos, actualmente Região Demarcada, foi inaugurado em 2 de fevereiro de 1990, durante as comemorações do centésimo aniversário da Casa Agrícola Brum pelos herdeiros de Francisco Maria Brum, antigo produtor de vinha da freguesia dos Biscoitos.

Neste museu é possível ver todo o processo de produção de vinho, desde o cultivo da videira até à maturação da vinha e à transformação desta em vinho ou nos seus subprodutos. Aqui encontram-se também toda uma colectânea de alfaias agrícolas ligadas ao amanho do corrais onde a videira é cultivada de forma a ficar abrigada das inclemências dos clima.
A Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos encontra-se profundamente ligada a esta entidade museológica sendo um dos seus principais dinamizadores.
O edificio do museu propriamente dito encontra-se localizado à Canada do Caldeiro, a 50 metros do centro da Freguesia dos Biscoitos, a 18 km da cidade de Angra do Heroísmo e a 22 km da cidade da Praia da Vitória.

O museu é a fachada de uma propriedade com 10 alqueires, para além dos mais 60 que englobam a exploração de Verdelho e é constituído pelas seguintes secções: uma adega destinada ao Vinho Verdelho, uma Destilaria, uma Sala etnográfica, uma Sala de provas, uma Casa típica onde é feito o engarrafamento do Verdelho do Museu, uma Casa típica que é a sede da Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos, um Campo ampelográfico, uma Latada, Vários pátios que alojam peças de lagares, uma Torre, uma Eira, um palheiro com dois pisos. Neste museu encontram-se vários tipos de produtos vitivinícolas feitos com as vinhas da região como é o caso:
Brum, (I), vinho Vinho Licoroso de Qualidade Produzido em Região Determinada (VLQPRD), do tipo licoroso feito com as castas de Verdelho dos Açores e Terrantez (vestígios), que alcança teor alcoólico de 17º vol. ou 134 g/litro.

Brum, (II), vinho VLQPRD, do tipo licoroso feito com as castas de Verdelho dos Açores e Terrantez (vestígios), que alcança teor alcoólico de 17º vol.
Donatário, vinho do tipo branco, feito com as castas de Verdelho dos Biscoitos, que alcança um teor alcoólico de 12%.
Chico Maria, (I), do tipo Seco, licoroso, elaborado com as castas de Verdelho dos Açores e que alcança um teor alcoólico de 17%.
Chico Maria, (II), do tipo meio seco e licoroso, elaborado com as castas de verdelho dos Açores e vestígios de Terrantez da Terceira, alcançado um teor alcoólico de 18%.
Chico Maria, (III), do tipo doce e licoroso, elaborado com as castas de Verdelho dos Açores e vestígios de Terrantez da Terceira, alcançado um teor alcoólico de 19%.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

As danças e bailinhos na ilha Terceira , remonta ao tempo dos primeiros povoadores

Nos Açores, mais propriamente na ilha Terceira, reside uma das formas mais peculiares do Carnaval em Portugal, as Danças e Bailinhos de Carnaval. Esta tradição, tida como a maior manifestação de teatro popular em Portugal, remonta ao tempo dos primeiros povoadores e reflecte um estilo teatral bem ao jeito dos Autos vicentinos.

As danças e bailinhos de Carnaval da ilha Terceira são manifestações de teatro popular, acompanhadas por música, com textos em rima, que incluem habitualmente crítica social.
Mais de mil músicos e actores amadores actuam de forma gratuita em cerca de 40 palcos espalhados por toda a ilha, prolongando as actuações pela madrugada dentro, durante quatro dias.
As danças de pandeiro, os bailinhos e as comédias têm um texto cómico, enquanto as danças de espada representam um drama.
Desde Janeiro que decorrem os ensaios em sociedades filarmónicas ou em garagens, mas há quem também comece a preparar o Carnaval com antecedência nos bastidores.


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Piratas na ilha das Flores Arquipélago dos Açores


Remonta, todavia, a 9 de Setembro de 1591 aquela que ficou conhecida como a “Batalha da ilha das Flores”. Nesse dia, a esquadra de lord Tomas Howard, que se encontrava surta diante de Santa Cruz (possivelmente na baía da Ribeira da Cruz, onde Diogo das Chagas dirá depois ter visto ancorada, em 1597, a esquadra do conde de Cumberland, de 160 velas), lançou-se, precipitadamente, contra os barcos que surgiam de oeste, julgando pertencerem à armada espanhola provinda da Nova Espanha. Porém, em vez de encontrarem navios mercantes, mal armados, os ingleses depararam-se com a frota de defesa das ilhas, constituída por 40 navios de guerra, comandados por D. Alonso de Bázan, que lhes vinham dar caça. Consideravelmente mais pequena (22 navios), a armada inglesa, duramente fustigada pelo fogo inimigo, foi então obrigada a fugir como pôde. A excepção foi o Revenge, de sir Richard Greenville, que, tendo-se demorado em zarpar de Santa Cruz, acabou por ser capturado pelos espanhóis.

Verdadeiramente épico, esse combate, que custou a vida a Greenville, seria depois glorificado por lord Alfred Tennyson no seu poema The Revenge: A Ballad of the Fleet [“At Flores in the Azores Sir Richard Grenville lay, / And a pinnace, like a fluttered bird, came flying from far away:” (…)], o qual, posteriormente, foi com notório sucesso musicado pelo compositor Charles Stanford.
Mas nem sempre foi conflituoso o relacionamento entre a pirataria e as gentes – e não apenas a arraia-miúda – das Flores. E nem sequer é difícil documentar situações em que, tanto aquela como estas, souberam, por interesse comum, cultivar uma convivência amistosa. Será disso exemplo maior o caso de Peter Easton, porventura o mais bem sucedido pirata do seu tempo – chegou a comandar 40 navios com alguns milhares de homens ao seu serviço, o que fazia dele o corsário mais temido no Atlântico Norte, e quando se “reformou” tinha uma fortuna pessoal avaliada em dois milhões de libras. Tanto quanto se sabe, o relacionamento deste pirata com a ilha das Flores remontará a Março de 1609, quando, andando já no corso, aqui fez, pela primeira vez, aprovisionamento de carne, água e lenha. Nos anos seguintes, sempre em Março, voltou à ilha, para fazer refresco e aguada, e, no verão de 1611, fosse por amor ou por simples conveniência, estava já de casamento marcado com uma filha do capitão-mor das Flores, de apelido Garro. Duplamente incomodado com os prejuízos causados pelos navios deste pirata e ainda com a cumplicidade entre florentinos e corsários, Filipe II ordenou, então, por decreto de 30 de Julho de 1611, que fossem tomadas as diligências necessárias à prisão do capitão Peter Easton. Poderoso e escorregadio, o Pirate Admiral nunca chegou a ser detido – mas nas Flores, dois anos depois, sob a acusação de acolher na ilha corsários estrangeiros, era preso o ouvidor e também capitão-mor Tomé de Fraga.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Capitão do donatário nas ilhas do Faial e Pico Açores


Por carta de 29 de Dezembro de 1482, a capitania do Pico é anexada à capitania do Faial, criando-se a capitania do Faial e Pico, ficando van Hürter, que, desde 1468, já era capitão do Faial, na posse das duas ilhas.

1482 – 1495 — Jobst van Hürter.

1495 – 1549 — João Dutra, também designado por Joos van Hürten, filho do anterior.

1549 – 1553 — Manuel de Utra Corte Real.

1553 – 1573 — D. Álvaro de Castro.

1573 – 1582 — D. Francisco de Mascarenhas, 1.º conde da Vila da Horta, depois 1.º conde de Santa Cruz.


1582 – 1614 — Jerónimo de Utra Corte Real.

1614 – 1642 — D. Manuel de Moura Corte Real, 1.º marquês de Lumiares e 2.º marquês de Castelo Rodrigo. Por confisco, a capitania foi incorporada na Coroa entre 1642 e 1680, por D. Manuel de Moura Corte Real ter optado por permanecer em Castela aquando da Restauração da Independência de Portugal.

1680 – 1730 — Rodrigo Sanches Farinha de Baena.

1730 – 1737 — Pedro Sanches Farinha de Baena. Por morte deste, a capitania foi reincorporada nos próprios da Coroa pela mercê ter sido concedida apenas por duas vidas a Rodrigo Sanches Farinha de Baena.

1825 – 1832 — Manuel de Arriaga Pereira, mas como cargo meramente honorífico, pois em 1766 tinha sido criada a Capitania Geral dos Açores.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Lista de Capitães Donatários da ilha Graciosa Açores

1485 - 1497 — Pedro Correia da Cunha.

1499 - 1507 — Duarte Correia da Cunha (filho do anterior).

1507 - 1510 — D. Fernando Coutinho (por falta de descendentes do anterior, a capitania passou para outra família da mesma parentela).

1510 - 1524 — Álvaro Coutinho.

1524 - 1552 — Álvaro Coutinho (filho do anterior).

1552 - 1573 — Fernando Coutinho (filho do anterior).

1573 - 1593 — Fernando Coutinho (filho do anterior).

1593 - 1626 — Fernando Coutinho (filho do anterior).

1626 - 1666 — Fernando Coutinho (filho do anterior; morreu sem sucessão).

1666 - 1674 — Luís Mendes de Elvas (faleceu sem sucessão)


1674 - 1708 — Pedro Sanches de Farinha.

1708 - 1730 — Rodrigo Sanches Farinha de Baena.

1730 - 1737 — Pedro Sanches Farinha de Baena.

1737 - 1766 — Incorporada nos bens próprios da Coroa. A capitania é extinta com a criação, neste último ano, da Capitania Geral dos Açores.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Capitão do Donatário na ilha Graciosa Açores


Pedro Correia da Cunha (1440 — Lisboa, 1497), também conhecido simplesmente por Pedro Correia ou por Pero Correia da Cunha, foi um fidalgo da Casa Real do rei D. Afonso V de Portugal, casado com uma filha do capitão do donatário na ilha de Porto Santo, Bartolomeu Perestrelo. Foi o 2º Capitão do Donatário da Ilha do Porto Santo de 1458 a 1473, ano em que a perdeu numa demanda para o cunhado, Bartolomeu Perestrelo o Moço. Foi depois capitão do donatário na ilha Graciosa, primeiro apenas no norte da ilha (c. 1475-1485), na região em torno de Santa Cruz da Graciosa, e depois, de 1485 ao seu falecimento em 1497, governando toda a ilha.
Pedro Correia da Cunha pertencia à família dos Correia, da qual foi tronco em Portugal D. Payo Peres Correia, mestre da Ordem de São Tiago. Foi filho de Gonçalo Correia, senhor da antiga Casa e Honra de Farelães, e de sua mulher Branca Rodrigues Botelho (segundo alguns hitoriadores, Margarida de Prado). Desta família vieram depois para os Açores também Margarida Correia, Jácome Dias Correia e João Correia, o Velho, também oriundos da mesma Casa e Honra.
Foi casado com Izeu Perestrelo de Mendonça, filha de Bartolomeu Perestrelo, 1.° capitão do donatário de Porto Santo, e de sua mulher Catarina de Mendonça.

A 17 de Maio de 1458, Pedro Correia, fidalgo da casa do Infante D. Henrique, compra a Capitania do Porto Santo a Diogo Gil Moniz e sua irmã Isabel Moniz, na qualidade de tutores de Bartolomeu Perestrelo II, seu sobrinho e filho menor de idade, sendo já falecido Bartolomeu Perestrelo, primeiro capitão do donatário do Porto Santo. Em troca obriga-se a dar uma ter
ça anual de dez mil reais brancos, que revertem a favor da criança.
Pedro Correia da Cunha terá chegado à Graciosa por volta de 1475, sendo nomeado capitão do donatário no norte da ilha, então, pelo menos informalmente, dividida em duas capitanias: uma a sul, com sede na Vila da Praia, de que era capitão Vasco Gil Sodré; outra a norte, mais recente, com sede em Santa Cruz, de que Pedro Correia da Cunha foi o primeiro capitão. A partir de 1485, a esposa e filhos vieram para a Graciosa, passando Pedro Correia a ser o único capitão do donatário na ilha, unificando a ilha sob uma só capitania.
Faleceu em Lisboa em 1497, sendo sepultado na capela de São João, erecta na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, de que era padroeiro, e para onde foram mais tarde trasladados os ossos de sua mulher, que falecera na ilha Graciosa.

Do seu casamento com Izeu Perestrelo de Mendonça nasceram:
Jorge Correia da Cunha, casado com Leonor de Melo, faleceu antes de herdar a capitania.
Duarte Correia da Cunha, sucedeu a seu pai como capitão do donatário na Graciosa, casado duas vezes.
Branca ou Briolanja Correia da Cunha, mulher de Diogo Vaz Sodré.
Filipa Correia da Cunha, casada com João Annes Rodrigues Furtado de Sousa, gerou descendência nos Açores.
Maria Correia da Cunha.
Catarina Correia de Lacerda, casada com Heitor Mendes de Vasconcelos

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

A Lenda da Coroa Real de Cedros na ilha do Faial Açores

A lenda passa-se no tempo da ocupação das ilhas dos Açores pelas forças de Filipe II de Espanha. Já antes estas ilhas eram frequentemente assediadas e assaltadas por piratas da Barbária e por corsários. Atacavam de surpresa, muitas vezes em dias de nevoeiro ou a coberto da noite, outras vezes em plena luz do dia. Assaltavam, roubavam e muitas vezes levavam com eles homens da terra para trabalharem como escravos.

Num certo dia, uma embarcação pirata comandada por um rei mouro apareceu nas costas da ilha do Faial para atacar a ilha. Mas como a embarcação foi avistada a tempo, as populações locais tiveram tempo de se preparar. Os piratas encontraram uma forte resistência e foram obrigados a fugir de forma precipitada sem conseguirem pilhar a terra.

Na fuga apressada, o rei mouro esqueceu-se da sua coroa, que tinha posto sobre um muro de pedra quando combatia. A coroa era feita de prata lavrada e enfeitada em toda a volta com lindos ramos desenhados no metal luzidio. Já longe da costa, o rei mouro apercebeu-se da falta da coroa e imediatamente se lembrou que ela tinha ficado em terra. Não querendo perder o seu símbolo de poder, resolveu voltar à ilha para a recuperar. No entanto e como não podiam voltar à ilha como piratas para não serem novamente atacados pelos locais, disfarçaram-se de marinheiros comuns.
Depois de procurar onde o rei a havia deixado, deram início a uma busca pelo resto da ilha. Perguntaram aos habitantes se tinham visto uma coroa de prata, recebendo respostas negativas. Entraram em lojas de comércio e em todos os locais onde ela eventualmente poderia estar e nada. Depois de as populações começarem a desconfiar de tão estranha procura, os piratas tiveram de partir para a sua terra no Norte de África, para nunca mais voltar.


A coroa do rei pirata tinha sido encontrada por uma mulher da localidade dos Cedros, que quando soube que andavam à procura dela, desconfiou que era os piratas e tratou de a esconder como melhor pode - levantando as saias e metendo-a numa perna, como quem enfia um anel num dedo. Aí a conservou até ter a certeza que o rei se fizera ao mar, desistindo para sempre do precioso objecto.
Mas sabendo do valor do objecto que tinha consigo, e não desejando que os seus conterrâneos soubessem que o tinha, deixou-o ficar muito tempo na perna, que ao fim de alguns dias começou a inchar e a doer. Acabou então por dizer que tinha a coroa, mas como a perna estava muito inchada, a coroa tinha ficado presa. Puxaram de um lado e puxaram do outro, tiveram de lavar a perna com água e sabão de cinza para a pele ficar mais escorregadia, mas mesmo assim a coroa não saiu.

Assim, a população não teve outra alternativa senão cortar a coroa por um lado para a poderem tirar, e depois voltaram a soldar cuidadosamente a parte cortada. O objecto ficou para a freguesia dos Cedros, onde morava a referida mulher cujo nome se desconhece. Com o passar dos anos a coroa passou a ser usada pelos locais nas festas do Divino Espírito Santo.
Esta coroa tinha 13 Centímetros de altura e continha engastada uma gema de cor da qual se ignora o verdadeiro valor. Com o passar dos anos e com medo de estragar tão simbólico e rico objecto, foi mandada fazer uma nova coroa, uma imitação da primeira que passou a ficar sempre guardada.
Actualmente a antiga coroa continua a ser guardada todos os anos em casa do mordomo da festa do Espírito Santo e pode ver-se, ainda perfeitamente, tantos anos depois, num dos lados, o lugar onde a mesma foi cortada e de novo soldada para poder sair da perna da mulher que a tinha guardado.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

No dia 6 de Fevereiro Comemora-se nos Açores uma tradição com 100 anos


Calcula-se que esta tradição tenha cerca de 100 anos. Nas várias freguesias de cada ilha do Arquipélago dos Açores as pessoas reuniam-se às quintas-feiras, conhecidas como noites de serões, para escolher o trigo e outros cereais que seriam utilizados nas comemorações do Espírito Santo. Durante a noite eram declamadas poesias e cantigas que exaltavam a amizade.

Com o passar dos anos, a tradição manteve-se, mas o objectivo evoluiu ao sabor das vontades e a acompanhar os novos tempos.
As quatro quintas-feiras, antes do Carnaval, são dedicadas a um encontro diferente e diferenciado, os açorianos dedicam estes quatro dias a festejos muito particulares. Festejos estes, que começam com os amigos, passam para as amigas, seguem com os compadres e terminam nas comadres.


domingo, 2 de fevereiro de 2020

Lenda da Fajã de São João ilha de S. Jorge Açores






A lenda reporta-se a um acontecimento ocorrido no ano de 1757 na Fajã de São João. Nessa fajã da costa da ilha de São Jorge vivia uma mulher pobre e humilde juntamente com a sua filha. Essa mulher era já bastante idosa e, devido à sua simplicidade, era com frequência alvo da troça dos vizinhos.

Nessa altura vivam-se tempos de dificuldade e o pão de milho era a base de alimentação das populações. O pão era cozido em todas as casas, quase sempre aos sábados de manhã. À tarde limpava-se e enfeitava-se a casa com flores nascidas nos pequenos jardins das moradias, até que tudo ficasse pronto para o domingo, dia de descanso.
A velhinha e a sua filha estavam a pôr o lume ao forno para o aquecer, e a amassar a massa do pão, quando bateram à porta. Como não era costume receber visitas e tinha as mãos enfarinhadas, respondeu de onde estava que abrissem. A velha porta de madeira gasta rodou sobre as dobradiças de ferro e na ombreira apareceu uma formosa senhora vestida de branco que a idosa não conhecia. No entanto, disse com boa educação: "Entrai, vinde para junto do meu lar, gosto de dar a todos do pouco que Deus me deu'.
A senhora vestida de um branco imaculado deu apenas um passo casa dentro e respondeu á idosa: "Não me posso demorar, ide dizer a toda a gente da fajã que fuja deste lugar e vá para a serra antes de chagar a noite. Um caso estranho vai dar-se em breve". Assim a idosa deixou o seu trabalho e foi de porta em porta, chamando as pessoas e dizendo a todos que fugissem de suas casas e da fajã, porque ia dar-se um acontecimento terrível.

A população troçou dela, ninguém acreditando na profecia. Mas a idosa pôs-se imediatamente a caminho da serra, acompanhada apenas pela filha. Durante toda a longa caminhada a subir pelas estreitas veredas das arribas, a velhota que acreditara na Senhora de Branco pensava que as pessoas, por serem incrédulas, tinham ficado em perigo na Fajã de São João.
Foi então que por volta da meia-noite a terra começou a tremer, o mar uivava ao longe com um som sinistro, bramia de encontro aos rochedos. Teve início um grande terramoto, as encostas das montanhas e das altas falésias desabavam. Rochas enormes rolavam para a fajã, indo umas para ao mar, outras sobre as casas e os seus moradores, destruindo os terrenos cultivados na sua passagem veloz. Ao longe ouvia-se os gritos das pessoas que se misturava com o bramir da terra, com o barulho das rochas e o vibrar do mar.
Quando o Sol raiou pela manhã e começou a iluminar as cercanias da Fajã de São João, a velha encontrou uma enorme destruição. Assistiu ainda aos últimos gritos das pessoas que aos poucos se foram transformando em murmúrios até se extinguirem por completo. Daí para a frente os poucos sobreviventes passaram a dizer que a velhinha tinha feito uma profecia porque tinha falado com a Virgem Santa Maria e que, por ter tido fé, se tinha salvo e à filha.