Lá pelo século XVI, certo dia um pescador de uma povoação do norte da ilha das Flores andava na costa a apanhar peixe, como era seu costume. Começou a ouvir uma voz muito bonita de mulher a cantar por perto, mas numa língua que não conhecia. Cismou que por ali havia uma sereia. Logo espalhou pelo povoado a novidade e, pela maneira que se falava da sereia, todos ficaram a pensar que ela encantava os homens.
O pescador não pensava noutra coisa e, logo que pode, poucos dias mais tarde, voltou à pesca, sonhando com a ideia de que havia de ver a sereia.
Tinha acabado de lançar o anzol ao mar, quando começou a ouvir o canto que tanto o perturbava. Recolheu logo a linha e pôs-se a escutar com muito cuidado e a seguir o som. Por fim, encontrou a dona de tão melodiosa voz. Não era uma sereia, como ele pensava, mas uma linda mulher de olhos azuis, pele clara e sardenta e cabelos ruivos. Muito assustada, ao começo, nada disse, mas por fim o pescador ficou a saber a sua história. Era irlandesa e tinha escapado de um navio pirata, atirando-se ao mar quando avistou terra próximo.
O pescador ficou ainda mais encantado e, depois de conquistar a confiança da mulher, voltou para casa trazendo consigo a mulher mais bela que alguma vez a gente do lugar tinha visto. Algum tempo mais tarde, o pescador casou com a “sereia” e deles nasceram muitos filhos, todos de olhos azuis e ruivos como a jovem irlandesa.
Assim, aquele lugar da ilha das Flores passou a chamar-se, por causa da cor dos cabelos de muitos dos seus habitantes, Ponta Ruiva, e ainda hoje ali há muitas pessoas de pele clara, sardentas e de cabelos ruivos, como a jovem irlandesa que um dia ali apareceu.
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