O povoamento da zona oeste da ilha Terceira
iniciou-se nos finais do século XV, quando as terras das vertentes da Serra de
Santa Bárbara foram distribuídas em sesmaria por João Vaz Corte-Real, então
capitão-do-donatário em Angra, prosseguindo a política de distribuição de
terras naquela zona que havia sido iniciada por Jácome de Bruges. A maioria dos
povoados a oeste de Angra apenas ficaram estruturados na década de 1510, mas a
paróquia de Santa Bárbara das Nove Ribeiras já existia como entidade autónoma
no ano de 1489, sendo a única existente
na jurisdição de Angra quando Jácome de Bruges era capitão-do-donatário na
ilha.
Um dos primeiros documentos que identificam a
localidade de Santa Bárbara data desta época e refere que João Vaz Corte Real,
pelo ano de 1486, passou uma carta de dadas de terras a um tal Bastião, filho
de João Esteves, tecelão e morador nas Nove Ribeiras. Aquele documento
identifica o povoado de Santa Bárbara, ao estabelecer a delimitação das terras
"dadas", e refere também os lugares de Doze Ribeiras (então parte da
paróquia) e dos Biscoitos.
Os condicionalismos da topografia local, e
especialmente a escassez de nascentes de água, levou a que o povoamento
assumisse ali um carácter linear, ao longo do caminho que partindo de Angra se
dirigia para oeste. Os povoadores fixaram-se nas margens das ribeiras, nas
imediações do local onde estas eram atravessadas por aquele caminho, pois sendo
a região muito pobre em nascentes, os habitantes eram obrigados a recorrer à
água das ribeiras, elas também efémeras, já que durante o Verão raramente
correm.
Em consequência das restrições ao
abastecimento de água apontadas, o povoamento da vasta zona do sudoeste da
Terceira, que vai de São Bartolomeu dos Regatos até à Serreta, no extremo oeste
da ilha, ficou assim estruturada em torno das ribeiras, as quais foram
numeradas de leste para oeste, isto é de Angra para a Serreta, dando origem a
topónimos como Cinco Ribeiras, Nove Ribeiras ou Doze Ribeiras. O centro
administrativo e religioso da região acabou por se centrar na igreja de Santa
Bárbara, às Nove Ribeiras, sendo formada, em data anterior a 1489, uma imensa
paróquia que ia desde a Cruz das Duas Ribeiras até ao Biscoito da Serreta.
Inicialmente denominada Santa Bárbara das Nove
Ribeiras, por ter o seu núcleo principal Às Nove Ribeiras, a paróquia
estendia-se por toda a costa sudoeste da ilha Terceira, desde a Cruz da Duas
Ribeiras até ao Biscoito da Fajã, confinando aí com a paróquia de São Roque dos
Altares. Nesta paróquia ficava a maior serrania da ilha, a qual ficou conhecida
por Serra de Santa Bárbara (inicialmente era referida por Serra Gorda), nome
que ainda mantém apesar de hoje se encontrar dividida pelo território de sete
freguesias distintas, resultado da progressiva subdivisão das paróquias
originais.
À medida que o povoamento se foi estruturando,
a freguesia de Santa Bárbara foi sendo repartida em curatos e depois em
paróquias autónomas, precursoras das actuais freguesias. A paróquia de Santa
Bárbara, para além território da actual freguesia homónima, compreendia na sua
extensão original as actuais freguesias de Nossa Senhora do Pilar das Cinco
Ribeiras, de São Jorge das Doze Ribeiras e de Nossa Senhora dos Milagres da
Serreta.
Ao longo dos séculos, a freguesia de Santa
Bárbara alcançou uma considerável importância, assumindo-se como o principal
centro urbano do oeste da Terceira. Essa importância alimentou o desejo de ver
a freguesia elevada a cabeça de concelho,
o que nunca se chegou a concretizar, mas permitiu ser sede de um julgado
autónomo, com juiz ordinário. Para além disso, foi um pólo económico importante
naquela parte da Terceira, com uma população empreendedora e dinâmica.
Francisco Ferreira Drumond, escrevendo em
meados do século XIX, descreve da seguinte forma a freguesia e as suas gentes:
Os habitantes de Santa Bárbara das Nove
Ribeiras ocupam-se pela maior parte na cultura dos campos, que apesar de
elevados e desabrigados dos ventos gerais são mui produtivos; há também grande
número de oficiais de ferreiro, carpinteiros, fragueiros, cabouqueiros,
canteiros e galocheiros [...]. A freguesia toda padece de muita falta de águas
e de peixe, por ter somente mui pequeno porto denominado das Cinco. A costa é
toda alcantilada e pouco defendida aquela parte da ilha de qualquer tentativa
hostil. Gozam estes povos a fama de mui discretos e deles se costuma dizer
"Um de Santa Bárbara vale por sete de Coimbra"..
Para além da Igreja Paroquial, existe na
freguesia de Santa Bárbara a Ermida de Nossa Senhora da Ajuda, um pequeno
templo construído à beira-mar no fim da Canada da Ajuda (a que aliás empresta o
nome). A ermida da Ajuda foi edificada antes de 1545, ano de que data a primeira referência escrita
à sua existência. A sua traça foi profundamente alterada aquando da sua
reconstrução em 1877.
Durante as Guerras Liberais a freguesia de
Santa Bárbara foi sede do 7.º dos distritos militares em que António José de
Sousa Manuel de Menezes Severim de Noronha, o 7.º Conde de Vila Flor, dividiu a
ilha Terceira.
Foi comandante deste distrito militar o
coronel Bernardo da Fonseca, que atingiria depois o posto de brigadeiro e que
por decreto da rainha D. Maria II de Portugal seria agraciado com o título de
barão de Santa Bárbara, em lembrança do seu comando na ilha Terceira. O seu
filho usou o mesmo título.
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