A primeira tentativa de povoamento da ilha das
Flores ocorreu por volta de 1480, na foz da Ribeira da Cruz, hoje no limite
entre as freguesias da Caveira e de Santa Cruz das Flores, quando o aventureiro
flamengo Willem van der Hagen, depois aportuguesado para Guilherme da Silveira,
fundou uma pequena colónia com o objectivo de encontrar metais, possivelmente
estanho, de que a ilha se dizia rica, provavelmente por ser então identificada
como uma das míticas ilhas Cassitérides. Tendo permanecido na ilha cerca de dez
anos, em abrigos escavados nas falésias da ribeira, desenganados quanto à
riqueza mineral, os colonos acabaram por trocar as Flores pela ilha de São
Jorge, onde foram fundar a Vila do Topo.
Outro aspecto que modelou e distinguiu a vila
de Santa Cruz, contribuindo para a sua primazia no contexto do Grupo Ocidental,
foi a instalação de um convento franciscano, a única instituição religiosa do
género que existiu naquelas ilhas. O Convento de São Boaventura, actual sede do
Museu das Flores, começou a ser construído em 1642, ao que parece fruto de um
voto feito pelo padre Inácio Coelho, natural das Flores, aquando do feliz
sucesso da Restauração da Independência portuguesa de 1640. A sua igreja possui
altares barrocos e tecto em madeira de cedro-do-mato em têmpera de grande valor
artístico.
Os franciscanos tiveram nos Açores uma enorme
influência no moldar do carácter das gentes, com destaque para a manutenção do
culto do Divino Espírito Santo, assumindo quase em exclusivo as funções
educativas. Onde se fundava um convento franciscano surgia de imediato as
cadeiras de primeiras letras e de gramática latina. Foi o que aconteceu em
Santa Cruz, criando o embrião daquilo que a partir da reforma pombalina seriam
as escolas régias, a primeira das quais surgiu em Santa Cruz com a chegada, em
1792, de um professor de gramática latina e outro de primeiras letras. Contudo,
esta foi melhoria de pouca dura, pois ao fim do triénio a que estavam
obrigados, os professores abandonaram o lugar, que ficou vago durante muito
anos por falta de opositores. Face a essa situação, voltaram a ser os
franciscanos, e o seu Convento de São Boaventura, o único recurso educativo
existente na ilha.
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