Páginas

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Lenda da procissão das almas

 

Há alguns anos atrás, na ilha de S. Miguel, estava deitada uma rapariga de vinte quatro anos; numa noite da semana santa, quando ouviu tocar a campainha do apregoador das almas. Sentou-se logo na cama para rezar, pois sabia que todo aquele que ouve lembrar as almas deve rezar sentado na cama ou de joelhos. Depois levantou-se e foi para a porta para ver o que se passava.

Olhando para o canto da rua, viu chegar uma procissão de almas e reconheceu uma parente sua que tinha morrido. A alma do familiar disse-lhe:

— O pequena, arrecolhe-te lá para dentro que a esta hora não se está à janela nem à porta. Hás-de dizer que não dêem as coisas por fazer, que aqui não há quem as faça. Aí vai a meada e o ano — e a alma atirou o que dizia.


A rapariga já tinha ouvido a outras pessoas que não era bom aparecer à janela nem à porta enquanto faziam aquela devoção, mas estava tão emocionada que pôs o xaile e saiu atrás da procissão das almas. Quando chegou à esquina da rua, viu a porta da igreja aberta e por lá entravam as almas. Continuou a andar, mas, quando começou a subir os degraus do adro, a porta fechou-se. Voltou para casa no momento em que os apregoadores das almas chegavam, cantando:



Ó almas, que estais aí

No Purgatório ardendo,

Cristão, ajudai as almas

Que elas estão padecendo.

Almas santas de Jesus

Que já fostes como nós,

Pedi por nós a Jesus,

Como pedimos por vós.


A rapariga deitou-se com algum nervosismo e não dormiu tranquila. Ao acordar, de manhã, contou o que tinha visto. No fim de três dias, morreu porque não devia ter dito nada a ninguém do que lhe tinha acontecido.



Sem comentários:

Enviar um comentário