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sábado, 7 de maio de 2022

O Solar de Lalém freguesia da Maia ilha de São Miguel Açores

 


O Solar de Lalém



Um Solar que é História

A história da Maia está em parte resumida ou testemunhada pelo Solar de Lalém. Edificado no sítio onde terá existido uma primeira ermida de S. Sebastião, logo nos tempos primordiais do povoamento, o actual conjunto é composto por elementos arquitectónicos de três séculos.

A capela actual, que mantém a invocação do Santo mártir, foi como que encastoada no corpo habitacional do solar, e data de 1687, enquanto que a entrada para o recinto se faz por um magnífico portal, com vários elementos decorativos, construído em 1742. A habitação resulta de obras concluídas em 1850, e é uma das mais bem conservados e mais belas mansões do tipo arquitectónico característico do ciclo da laranja. 

Tendo sido a Maia, desde sempre, uma zona agrícola privilegiada, verifica-se, pela arrematação dos dízimos de um quarto de maquia em 1786, que ela se mantinha entre as principais produtoras de trigo da ilha, pois que o seu dízimo foi arrematado por cinco moios e quarenta alqueires, o que faz supor que o arrematante terá previsto uma produção de pelo menos cerca de quatrocentos moios, só superada por Vila Franca, Ponta Delgada, Água de Pau, Povoação e Ribeira Grande – esta, de longe, a maior contribuinte, com quarenta e oito moios e cinco alqueires. E no entanto, nesse ano, dos lugares que anteriormente lhe estavam sujeitos, já só fazia parte da Maia a Lomba da Maia, que haveria de passar a freguesia na primeira década do século XX, o que com as Furnas acontecera pouco antes e, com os Fenais da Ajuda, a meados do século XVI.

É no centro da zona agrícola mais privilegiada da Maia, quer pela natureza chã dos terrenos quer pela sua fertilidade, devida à presença de cinzas vulcânicas recentes, que se situa o Solar de Lalém, cujo nome se deve ao facto de ficar “lá além” da freguesia, no lado de lá da ribeira, ou grota, da Pedra Queimada. O proprietário que fez a última ampliação e remodelação, em 1850, mantendo com perfeita harmonia elementos anteriores, foi o morgado João Silvério Vaz Pacheco de Castro, membro da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense, cuja função principal foi a de seleccionar, em países estrangeiros, novas espécies vegetais de interesse económico que pudessem compensar a perda da importância do comércio da laranja.

Este solar chegou ao último quartel do século XX ameaçando ruína. Quem se lançou à aventura da sua recuperação, concluída em 1988, foi Afonso Moniz Quental, que o transformou numa excelente unidade de turismo de habitação, valorizada por mobiliário antigo que usos modernos haviam condenado à destruição.


No Solar de Lalém funcionou, até à sua passagem para a posse dos actuais donos – o casal alemão Gerard e Gabriela Hochleitner, que o têm mantido em excelentes condições – a Associação de Cultura e Recreio a Balada que, entre outros eventos culturais de assinalável interesse, organizou os três primeiros encontros de escritores açorianos, vários de cantadores ao desafio, e homenageou grandes nomes da literatura açoriana, como Martins Garcia, Álamo Oliveira ou Onésimo Almeida.

Atendendo à excelência das suas características, o Solar de Lalém, incluído no Inventário do Património Imóvel dos Açores, está proposto para ser classificado como de interesse de ilha.


Daniel de Sá





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