Pedro Francisco Machado (Porto Judeu, 1760 -
Richmond, 16 de Janeiro de 1831), referido como Peter Francisco nos EUA, foi um
Português, nascido na freguesia do Porto Judeu, Concelho de Angra do Heroísmo,
ilha Terceira, Açores, destacou-se como herói na Guerra da Independência dos
Estados Unidos da América.
Conhecido como "O Gigante da
Virgínia", o "Gigante da Revolução" e, ocasionalmente, como o
"Hércules da Virgínia", é homenageado pela comunidade portuguesa em
New Bedford (Virginia) a 15 de Março1 . Lutou ao lado de George Washington e do
marquês de Lafayette, tendo sofrido numerosos ferimentos em combate, em defesa
da independência de sua pátria de adopção.
A sua biografia está cercada de uma aura de
lenda, sendo-lhe atribuídos feitos extraordinários. As suas origens são
relativamente obscuras. Foi encontrado em tenra idade (presumivelmente cinco
anos), uma tarde em 23 de Junho de 1765, a chorar, nas docas de City Point, na
Virgínia. Quando se acalmou o suficiente para falar, percebeu-se que não falava
o inglês e sim uma língua parecida com o Castelhano. Embora nada possuísse que
o identificasse, as suas roupas eram de boa qualidade e, na fivela do cinto,
liam-se as iniciais "P.F.".
Eventualmente foi capaz de contar a sua
história: afirmou que "estava num local lindo com palmeiras, a brincar com
a sua pequena irmã, quando dois homens grandes apanharam ambos. A irmã
conseguiu libertar-se dos captores mas o menino não, e foi levado para um navio
grande que acabou por conduzí-lo a City Point.
Sobre as suas origens, o investigador John E.
Manahan identificou que, nos registos de nascimentos da ilha Terceira, nos
Açores, existe um Pedro Francisco nascido em Porto Judeu, a 9 de Julho de 1760.
A criança foi acolhida pelo juiz Anthony
Winston, de Buckingham County na Virgínia, um tio de Patrick Henry. Quando
atingiu idade suficiente para trabalhar, foi instruído como ferreiro, devido ao
seu enorme tamanho e força (ultrapassou os 1,98 metros e pesava cerca de 120
kg). O escritor Samuel Shepard, que observou o jovem no seu trabalho, registou:
"Os seus ombros são como os de uma antiga
estátua, como uma figura da imaginação de Miguel Ângelo, como o seu Moisés mas
não como David. A sua queixada é longa, forte, o nariz imponente, a inclinação
da testa parcialmente ocultada pelo seu cabelo negro de aspecto desgrenhado. A
sua voz era suave, surpreendendo-me, como que se um touro ganisse."
Com os rumores de secessão alastrando-se entre
a população da Virgínia, Francisco alistou-se aos 16 anos no 10º Regimento da
Virgínia. Estava presente, junto à igreja de St. John em Richmond, quando
Patrick Henry fez o seu famoso discurso "Liberdade ou Morte". Em
Setembro de 1777, serviu sob o comando do general George Washington em
Brandywine Creek na Pensilvânia, onde as forças dos colonos tentaram deter o
avanço de 12.500 soldados britânicos que avançavam em direcção à Filadélfia.
Não está claro se foi nesse momento que o jovem Francisco salvou a vida a
Washington, apesar de se reconhecer que o jovem foi aqui alvejado. Alguns
relatos afirmam que ele se tornou guarda-costas pessoal do general, enquanto
outros dão conta de que ele era apenas um soldado agressivo e vigoroso, que
lutou a seu lado.
Foi Washington quem determinou que uma espada
especial, adequada ao seu tamanho, fosse confeccionada para Francisco. Foi esta
espada, com 6 pés de comprimento, que aterrorizou os britânicos. Washington
terá eventualmente se referido posteriormente a Francisco: "Sem ele
teríamos perdido duas batalhas cruciais, provavelmente a guerra e, com ela, a
nossa liberdade. Ele era verdadeiramente um Exército de um Homem Só."
Após servir nesta comissão por três anos,
Francisco realistou-se e combateu numa das maiores derrotas sofridas pelas
forças dos colonos no conflito. Na batalha de Camden (16 de Agosto de 1780,
terá realizado um dos seus mais famosos feitos, quando, após os colonos se
terem retirado diante dos britânicos, deixando no terreno uma imensa peça de
artilharia com aproximadamente 1000 libras, afirma-se que Francisco a colocou
às costas e a terá transportado para que não caísse nas mãos do inimigo. Em
homenagem a esse feito, os correios dos Estados Unidos emitiram em 1974 um selo
comemorativo.
Embora a maior parte dessas histórias careça
de fontes documentais, Frances Pollard, da Virginia Historical Society, que
apresentou uma exposição sobre o conflito que incluiu uma secção sobre
Francisco com o colete gigante que costumava usar, afirmou:
"Acho que uma das coisas que tive dificuldade
em documentar foi a sua participação em muitas das batalhas onde realizou
feitos históricos. Nunca consegui separar a lenda dos factos, nem encontrar
provas da sua participação em algumas destas batalhas. Acho que existe alguma
mitologia associada a alguém com aquele tamanho tão fora do vulgar."
Posteriormente, em 1850, o historiador Benson
Lossing registou no "Pictorial Field Book of the Revolution" que
"um bravo virginiano deitou abaixo 11 homens de uma só vez com a sua
espada. Um dos soldados prendeu a perna de Francisco ao seu cavalo com uma
baioneta. E enquanto o atacante, assistido pelo gigante, puxava pela baioneta,
com uma força terrível, Francisco puxou da sua espada e fez uma racha até aos
ombros na cabeça do pobre coitado!"
Mais tarde, enquanto se recuperava, Francisco
tornou-se amigo de Lafayette.
Francisco sofreu mais seis ferimentos enquanto
a serviço do seu país, tendo morto um número incerto de britânicos e sido
condecorado ao final do conflito por generais estadunidenses que se certificaram
de que ele estava presente na rendição do general Charles Cornwallis e dos
britânicos em Yorktown, a 19 de Outubro de 1781.
De acordo com a tradição, após o conflito,
devido às lendas criadas em torno de si, muitos aventureiros foram ao seu encontro
para testarem a sua força. Neste período foi apelidado de "o homem mais
forte da América", enquanto as crianças aprendiam sobre a sua forças e
bravura nas escolas primárias do novo país.
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