domingo, 27 de março de 2016
Armando Sequeira, o cozinheiro Açoriano que serviu Saddam Hussein
Um cozinheiro dos Açores conseguiu expandir a gastronomia açoriana no Iraque, onde esteve durante cinco anos a servir os iraquianos e onde cativou Saddam Hussein com alguns dos pratos típicos da região.
Natural da Ilha de São Jorge, Armando Sequeira, 69 anos, contou à Lusa a «experiência mais marcante» da sua vida, quando esteve a trabalhar no Iraque como chefe de cozinha.
«Quando surgiu a oportunidade de trabalhar no Iraque foi uma decisão fácil, pois sendo solteiro e sem filhos, não tive de dar contas a ninguém», disse, relembrando a angústia dos seus pais ao vê-lo partir nos anos 80.
«Foi difícil para os meus pais, sobretudo quando começou a guerra entre o Iraque e o Irão, mas nós não nos apercebíamos muito do perigo», contou.
A língua foi o único factor que dificultou a integração no Iraque deste cozinheiro que, aos 42 anos de idade, conheceu de perto a cultura árabe, que considera «fascinante», num país onde era visto como «um menino bonito» e onde foi «sempre muito bem tratado e respeitado».
«Tudo o que lhe metia à frente ele comia»
Os hábitos que Armando tinha em Portugal na cozinha não eram admitidos no Iraque e quando lá chegou e se pôs a limpar o fogão e a lavar a loiça deixou «os árabes de braços caídos, pois um chefe de cozinha não faz essas tarefas».
As sopas de galinha, carne e fígado de carneiro e o cozido dos Açores eram alguns dos pratos típicos açorianos muito apreciados pelos iraquianos e pelo ex-presidente Saddam Hussein.
Armando serviu várias refeições no palácio de Saddam, mas residia numa casa situada a 500 metros do povoamento destinada à recepção de visitas, como ministros e jornalistas estrangeiros, que muitas vezes pediam para conhecer o chefe de cozinha depois de provarem as suas especialidades.
«Era constantemente vigiado, mas nunca me fez confusão, pois nunca tive qualquer problema com o povo iraquiano», afirmou.
Segundo o chefe de cozinha, o ex-presidente iraquiano comia de tudo menos carne de porco, mas de resto, «tudo o que lhe metia à frente ele comia».
Questionado acerca daquele que era considerado por muitos um «tirano», Armando refere Saddam Hussein como «o homem do povo que impunha respeito e autoridade».
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