domingo, 13 de março de 2016
Alguns dos nomes de judeus sepultados na ilha do Faial Açores
Neste lugar sagrado estão sepultados 17 membros da comunidade judaica que viveu no Faial, os quais, mercê da sua capacidade empreendedora, atingiram destacado nível económico e elevado estatuto social, chegando alguns deles - designadamente Salomão Bensabat e Salomão Sabat – a integrarem a lista dos quarenta maiores contribuintes do concelho da Horta 2 e outro, Moisés Benarus, gerente e administrador da sociedade comercial “José Benarus & Filhos” e, posteriormente director de várias empresas e instituições como a “Silveira, Edwards & C.ª”, “Caixa Económica Comercial Faialense”, “Caixa Económica Faialense”, “Empresa de Iluminação Eléctrica da Horta” vice-cônsul dos Estados Unidos, membro da Junta Geral, correspondente da agência noticiosa “Associated Press”, agente da “Dominion Line” e director da instalação na Horta da “Western Union Telegraph Company”. Moisés Benarus viveu e morreu em rito judaico e foi o último hebreu faialense.
Daquelas 17 sepulturas, apenas duas não se conseguem identificar. Nas outras repousam os restos mortais das seguintes pessoas:
- Abraão Abisdid, falecido a 16 de Janeiro 1864, e um dos que esteve na génese do estabelecimento do cemitério;
- Jacob Pinto, irmão do rabino Mayer Pinto, f. 14 Maio 1869;
- Salomão Bensabat (1800- 27.2.1874), outro dos fundadores daquele espaço e, como salientámos, um dos mais poderosos judeus faialenses;
- David Bensabat, neto do anterior, teve poucos meses de vida, pois nasceu a 27 de Novembro 1873 e faleceu em 3 de Maio de 1874;
- Salomão Benarus, irmão de Moisés Benarus, nascido na Terceira a 20 de Novembro de 1857 e falecido, aos 27 anos, na Horta em 8 de Junho de 1884;
- Salomão Sabat, casado com Raquel Sabat e faleceu a 30 de Outubro de 1884;
- José Abisdid, falecido em 1886;
- Abraão Benchimol, falecido em 1887;
- José Azencot, falecido em 1889;
- Ranma (?), casada com Samuel Levy [?]
- Alegria Sabat Pinto, nascida a 25 de Junho de 1861 e falecida a 14 de Outubro de 1875;
- Simes Benchimol, casada com o negociante hebraico Abraão Benchimol, faleceu a 16 de Setembro de 1877;
- Maria Sabat Pinto, casada com Mayer Pinto, faleceu em 17 de Setembro de 1882;
- Samuel Benarus, filho de Moisés Benarus e de Maria Amélia Garcia, faleceu a 18 de Julho de 1920, tinha dois meses incompletos, pois nascera a 26 de Maio de 1920;
- Moisés Benarus, nascido na Terceira em 17 de Outubro de 1859, faleceu na Horta a 20 de Junho de 1943 e, como se disse, foi o último membro da comunidade judaica faialense e cujos descendentes têm zelosamente cuidado daquele espaço.
Os nomes dos que repousam no cemitério israelita pertencem a poucas famílias – Absidid, Benarus, Bensabat, Benchimol, Pinto, Sabat – algumas delas ligadas por consórcios entre os seus membros.
Tendo sido utilizado durante 80 anos, este cemitério é, presentemente, o maior testemunho da existência da comunidade hebraica que viveu no Faial, além dos documentos, livros e alfaias zelosamente preservadas pela Dr.ª Maria Luna Benarus e seu marido Manuel Joaquim da Silva Brum.
Agora que se restaurou a sinagoga de Ponta Delgada, aberta ao público como espaço museológico, é importante que a Comunidade Israelita de Lisboa assuma a preservação daquele cemitério que, por documento de 16 de Junho de 1983, ficou à sua guarda definitiva.
É igualmente relevante lembrar que os judeus faialenses fundaram, em meados do século XIX, uma sinagoga que Marcelino Lima localiza na rua do Livramento, à esquina da travessa de São Francisco, num prédio confinante com o quintal de Salomão Sabat, cuja casa – situada na rua Conselheiro Medeiros – ainda ostenta numa das suas varandas as iniciais SS. O último rabino da religião hebraica foi Mayer Pinto que, em 1887, fez inserir na imprensa do Faial um extenso e comovente adeus, ao retirar-se, na companhia de sua cunhada Ester Sabat, “desta ilha, talvez para sempre (…) despedindo-se dos restos mortais de alguns dos seus parentes que deixa(va) aqui no cemitério hebraico [a esposa Maria Sabat Pinto, o irmão Jacob Pinto e a jovem filha de 14 anos, Alegria Sabat Pinto], legando-lhes uma eterna saudade, desejando-lhe o eterno descanso dos justos, ao passo que roga(va) a todas as excelentíssimas autoridades presente e futuras se dignem manter a inviolabilidade daquele jazigos que são para eles penhores sagrados”.
A presença dos judeus na ilha do Faial está abundantemente assinalada na documentação local: escrituras notariais, jornais, actas e livros de registos camarários, bem como o enorme acervo da Casa Bensaúde que se encontra devidamente preservado. Todavia, o testemunho mais evidente e marcante é o cemitério hebraico que, mercê da dedicação de uma só família, se encontra em bom estado de conservação. É a manutenção desse espaço sagrado que deve mobilizar a Comunidade Israelita de Lisboa e, ao menos interessar, a Câmara Municipal da Horta.
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