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terça-feira, 15 de março de 2022

Desastres naturais no Arquipélago dos Açores

 

1606 — Inundações nas Velas, ilha de São Jorge - Em Fevereiro grandes chuvadas provocaram grandes danos na vila de Velas. Muitas ruas ficaram "de modo que se não podia andar a pé".


1608 — Grandes inundações em Angra, Terceira - A 11 de Fevereiro, pelas 9 horas da noite começou a chover intensamente em Angra, situação que se manteve durante toda a noite. Pela madrugada a chuva intensificou-se, provocando o extravasamento da Grota de Santa Luzia. As águas correram pela Rua da Miragaia, dividindo-se pelas Ruas do Marquês e do Palácio (que então era da Natividade), todas confluindo na Rua Direita. A corrente derrubou as muralhas do portão do porto (a "famosa" Porta do Mar), provocando a morte a 19 pessoas e arrastando consigo várias casas, destruindo o recheio de muitas mais. Os prejuízos foram avaliados "na melhora de seis mil cruzados".


1613 — Ano da esterilidade das ervas - morte dos gados por falta de alimento - Neste ano uma combinação de seca e de vendavais no Inverno e primavera levaram a uma situação dramática de falta de alimento para os gados. Morreram muitos animais e a fome atingiu as classes mais pobres. Para cúmulo do azar, um raio matou um lavrador dos Altares (Terceira). Terá sido um ano de La Niña.


1614 — Primeira Caída da Praia - terramotos de 9 de Abril nas Fontinhas e de 24 de Maio na Praia, Terceira - A 9 de Abril um sismo destruiu quase totalmente a freguesia das Fontinhas e provocou grandes danos nas freguesias vizinhas. A 24 de Maio um sismo de grande magnitude destruiu quase totalmente as freguesias de Agualva, Vila Nova, Lajes e Santa Cruz da Praia, provocando 200 mortos e muitos feridos. Houve grande movimento da falha norte do graben das Lajes, com o aparecimento de grandes fissuras no solo, grandes desmoronamentos e o abatimento generalizado do terreno na zona do Ramo Grande. Francisco Ferreira Drummond descreve nos Anais da Terceira a Caída da Praia e reconstrução que se lhe seguiu com grande pormenor. Apesar das medidas então tomadas, a reconstrução foi um processo lento e penoso.


1630 — Erupção das Furnas, ilha de São Miguel: o "ano do cinzeiro" - A erupção do Cinzeiro, do tipo pliniano, iniciou-se a 3 de Setembro de 1630, precedida por violentos sismos. Há notícia de terem morrido 191 pessoas e de ter havido enorme devastação devido aos sismos e à deposição de material pomítico. A nuvem de cinza foi tão densa que foram necessárias tochas durante o dia e em todas as ilhas ficou a vegetação coberta de cinza (mesmo nas Flores a 360 km de distância). A pedra pomes flutuante impedia a navegação nas proximidades da ilha de São Miguel. A erupção foi acompanhada de manifestações vulcânicas no mar e na zona onde hoje se localiza o lugar do Fogo e as fumarolas da Ribeira Quente. Provocou também gigantescos deslizamentos de terras na costa sul da ilha de São Miguel.



1630 — Deslizamento do Castelo, ilha de São Miguel - Em 1630 ocorreu um gigantesco deslizamento de terras naquilo que hoje é a extremidade oeste da "fajã" onde se localiza a povoação da Ribeira Quente, ilha de São Miguel. O deslizamento de terras atingiu o mar em torno do lugar hoje denominado Castelo e deu origem à actual Ponta da Albufeira. Este deslizamento está associado à erupção das Furnas, do mesmo ano.


1636 — Furacão atinge a Terceira - No dia 3 de Agosto uma forte tempestade atingiu a ilha Terceira causando graves danos.

1638 — Erupção submarina ao largo da Candelária, ilha de São Miguel - Erupção surtseyana, iniciada a 3 de Julho, localizada a cerca de 2 km da Ponta da Candelária. Durou 25 dias e produziu uma ilha de forma anelar, com "légua e meia de comprimento", que o mar desmoronou no Inverno seguinte, deixando apenas um baixio no local. Durante a erupção o fedor a enxofre sentia-se a oito léguas de distância e morreram tantos peixes que davam para "carregar oito naus da Índia".


1641 — Grande enchente de mar (maremoto?) nas Velas, ilha de São Jorge - A 21 de Dezembro "empolgou-se o mar de tal sorte que dominando o Monte dos Fachos, com três mares" provocou grande destruição na vila, ferindo 50 pessoas e arrastando ao mar muitos bens. Terá sido um maremoto?


1647 — Crise sísmica na Terceira e mau ano agrícola em todas as ilhas - Desde finais de Dezembro do ano anterior até Julho a Terceira foi atingida por uma violenta crise sísmica que provocou o pânico em Angra e um invulgar fervor religioso. Para além dos sismos, uma situação climática muito desfavorável para a produção de trigo - Inverno seco e primavera tardia e chuvosa - levou a que a ervilhaca e outras infestantes dominassem o trigo: o resultado foi o excessivo encarecimento daquele cereal e a fome generalizada. O ano ficou conhecido pelo "ano da fome e dos terramotos". Em São Jorge as Câmaras tiveram de intervir para evitar a fome.


1649 — Uma tempestade provoca o naufrágio de 4 navios em Angra; sismo na Terceira - Uma tempestade com fortes ventos de SE provocou a perda de 4 navios em Angra, com um número indeterminado de vítimas. Um pequeno sismo atingiu a Terceira. Contudo, foi um ano célebre pela boa produção de vinhos.


1652 — Erupção do Pico do Fogo, São Miguel - Após uma semana de violentos sismos, que fizeram grandes estragos na Lagoa e em partes de Ponta Delgada, a 19 de Outubro iniciou-se uma erupção estromboliana, embora com episódios vulcanianos, próximo de um cone já existente, criando um novo cone de bagacinas. Uma escoada de lava basáltica aproximou-se das Calhetas e outra do lugar dos Portões Vermelhos. A erupção durou 15 dias e produziu grandes estragos.



1656 — Terramoto de 18 de Outubro de 1656, na ilha de São Miguel - Naquele dia, pelas duas horas da madrugada houve vários sismos, e no dia seguinte, pelas sete horas da tarde, houve um tão forte que abalou as casas a ponto de os seus moradores as abandonarem.


1656 — Epidemia de varíola na Terceira - Uma epidemia de varíola, as temidas bexigas, matou quase todas as crianças com menos de 3 anos na Terceira e atingiu quase toda a população com idade inferior a 15 anos, provocando muitas mortes, deformidades e cegueira. Foi o "ano das bexigas".


1668 — Tempestade causa grandes prejuízos na Calheta, ilha de São Jorge - A 23 de Novembro uma violenta tempestade provocou "tal alteração de mar que este entrou pela dita vila derrubando casas" e obstruindo o porto com penedia.


1672 — Erupção vulcânica no Faial, que ficou conhecido pelo Vulcão do Cabeço do Fogo - Na noite de 13 de Abril, com cinco sismos seguidos, iniciou-se uma crise sísmica na ilha do Faial. O número de sismos foi crescendo nos dias seguintes até que na noite de 23 para 24 de Abril, num ermo entre a Praia do Norte e os Cedros, se iniciou uma erupção. A erupção destruiu algumas casas, recobrindo de lava muitos campos. Os sismos associados produziram grandes danos em casas e igrejas. Dois homens que se aventuraram nas proximidades do centro eruptivo morreram. A Câmara fez voto perpétuo de celebrar no dia de Pentecostes solene cerimónia em honra do Divino Espírito Santo se a erupção parasse. Parte dos sinistrados emigrou para o Maranhão, Brasil.


1678 — Falta de cereais causa desaguisado entre as Câmaras da ilha de São Jorge e da ilha do Pico - Mais uma vez um mau ano agrícola torna escassos os cereais pelo que as câmaras de São Jorge e Pico se vêm na necessidade de proibir a sua exportação.


1682 — Erupção submarina frente à Ferraria, ilha de São Miguel - A erupção deu-se a 4 léguas da Ponta da Ferraria e "na semana seguinte como foi visto da Praia de Angra e do lugar dos Mosteiros, queimando quantidade de peixe, que veio à costa. E um caravelão vindo de Angra por esta parte, com pedra-pomes não pôde passar".


1690 — Grande tempestade e um sismo causam o pânico na Terceira - Uma grande tempestade abateu-se sobre a ilha no dia de Páscoa (26 de Março), provocando a queda de chaminés, o destelhamento das casas, a destruição das casas "palhoças" que existiam nos "bairros" da cidade e um naufrágio na baía de Angra. No dia 5 de Abril seguinte, ainda com os angrenses mal refeitos do susto da tempestade, um sismo, longo mas pouco intenso, causou uma onda de pânico, que associada às memórias recentes da erupção na ilha do Faial (1672) e da caída da Praia (1614), conduziu à multiplicação das procissões, preces contínuas e auto-flagelações. Esta histeria colectiva atingiu o seu paroxismo quando correu o boato que a ilha seria destruída no dia 15 de Abril. No caso parecem ter tido influência o Padre Secretário da Visita Frei Francisco da Cruz, da província franciscana da Arrábida, e o Reverendo Padre Mestre Tomás Arnão, da Sagrada Companhia de Jesus, que ao tempo da erupção de 1672 residia no Colégio da Horta, ilha do Faial. Felizmente, e apesar do susto e das mortificações, a ilha sobreviveu, tendo-se celebrado as festas do Senhor Espírito Santo com a necessária alegria. Afinal os terceirenses não mudaram muito nos últimos 300 anos …




1698 — Crise sísmica na Terceira - Em Outubro desencadeou-se uma violenta crise sísmica na Terceira, causando o pânico entre a população. Após se ter organizado uma procissão com o Senhor Santo Cristo da Misericórdia de Angra, os sismos cessaram, o que foi considerado um milagre. Conheça o origem da devoção ao Santo Cristo da Misericórdia de Angra e as muitas calamidades que levaram a que os terceirenses a ele recorressem.



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