Os migrantes açorianos chegaram ao Brasil em diferentes datas. Por falta de registos coevos, nomeadamente em relação aos que foram enviados para o Norte brasileiro, torna-se difícil estabelecer uma cronologia sistematizada. Pode-se contudo afirmar que a primeira data de que há notícia é a de 11 de Abril de 1619, quando uma expedição comandada pelo açoriano Capitão Simão Estácio da Silveira aportou em São Luís, no Maranhão, com 200 casais.
Quanto aos promotores dos fluxos migratórios, há a distinguir dois tipos: um, o primeiro, orientado para o Norte do Brasil, promovido por autoridades locais: Capitães-mor, Governadores, etc., sendo necessário contudo uma autorização prévia da Coroa, sob parecer do Conselho Ultramarino; e o segundo, tendo como destino o Sul do Brasil, promovido pelo próprio Rei, que era afinal o Donatário de todas as terras do Ultramar.
Quanto ao contingente de açorianos que migraram para o Brasil no período em referência, existem dificuldades em apurar os verdadeiros números. Quanto mais recuamos no tempo, mais difícil é compreender os registos, uma vez que ora se fala em “casais”, que obviamente não representavam apenas duas almas… ora de pessoas. Pode-se dizer que cada investigador apresenta os seus números… Provavelmente muitos açorianos terão partido logo que a fama de enriquecimento fácil e rápido, o “Eldourado” tão comentado entre tripulantes e aventureiros, chegou aos ouvidos da população. Existem referências da presença de açorianos na aventura do escambo da prata de Potosi, logo no século XVI, como de muitos outros portugueses de origem diversa. Quantos? Ninguém sabe.
Segundo um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no período de 1500 a 1700, calcula-se que 100 mil portugueses migraram para a “Ilha de Vera Cruz”. Ora, é crível que entre tantos portugueses, alguns tenham ido do Arquipélago dos Açores, até porque neste já havia passado quase um século, após o Povoamento, quando D. João III deu inicio à colonização do Brasil. Por outro lado, mesmo quando foi instituído o passaporte para controlo do fluxo migratório das ilhas, por iniciativa do Marquês de Pombal, sempre existiu uma migração/emigração clandestina, nomeadamente, quando os baleeiros norte-americanos começaram a fundear no Grupo Central.
Deve-se referir que o destino de alguns açorianos, durante o período em estudo, nem sempre foi o Brasil. A aventura ou o apelo religioso levou-os a partir para diferentes destinos. Dois açorianos, Gaspar Dias e João Silva, por exemplo, participaram na 1ª. viagem de circum-navegação da Terra, efectuada por Fernão de Magalhães, com início em 1519. O primeiro, como despenseiro da nau Santiago e o segundo, como marinheiro da nau Conceição. Vamos encontrar outro exemplo no grande vulto açoriano, porém pouco conhecido, Irmão Bento de Góis. Este de natureza religiosa. Nascido em Vila Franca do Campo, partiu para a Índia em 1562, como soldado. Em 1584, ingressa na Companhia de Jesus, abandonando a vida boémia que levava. Pela mão dos Jesuítas, efectua várias expedições na Ásia que lhe irão dar a experiência necessária para a maior expedição então feita por um português naquelas lonjuras, por via terrestre. De 1602 a 1606, percorre um longo e perigoso caminho pela acidentada Ásia Central em busca do lendário reino do Grão-Cataio, onde se acreditava existirem cristãos nestorianos . Atingiu a grande muralha da China, porém não encontrou os ditos cristãos. A sua viagem permitiu contudo desfazer o equívoco criado pela descrição de Marco Pólo , que vigorava há três Séculos. Afinal Cataio e a China eram uma e a mesma coisa, como a cidade de Khambalaik era Pequim. Tal facto irá alterar a concepção que havia daquela parte do mundo entre os europeus.
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