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domingo, 22 de novembro de 2020

Dinarte Machado, Organeiro da ilha de S. Miguel Açores




Dinarte Machado é filho de Manuel Luciano Borges, natural de São Pedro de Nordestinho, Nordeste,  ilha de São Miguel, Açores, e de Maria da Conceição Borges Machado, natural da Vila de Nordeste.

Com apenas 11 anos, deixou o concelho do Nordeste para ingressar no Ciclo preparatório, na Escola Roberto Ivens, em Ponta Delgada, tendo completado os seus estudos na Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada, onde concluiu o Curso Geral de Mecânica.


Ingressou na profissão de eletricista depois de ter feito vários cursos de especialização, no ramo automóvel, na Empresa Autoviação Micaelense, durante alguns anos. Nessa sequência, foi admitido na Empresa SINAGA, indústria de açúcar em São Miguel, cursando a especialidade de instrumentista, profissão que exerceu durante 5 anos. Apesar de nos tempos livres, já ter reparado alguns órgãos, acabou optando por se dedicar primordialmente à organaria, fazendo dela a sua arte e sua profissão.
Dinarte Machado começou a aprendizagem da construção e restauro de órgãos como autodidata.
Em 1987, montou um atelier dedicado à construção, conservação e restauro de órgãos de tubos.
Na fase inicial da sua atividade, teve um primeiro contacto com uma oficina dedicada ao restauro destes instrumentos, na empresa do organeiro António Simões, em Condeixa-a-Nova, conhecendo, não só o trabalho daquela empresa, como alguns instrumentos do Continente português. Foi também nessa altura que tomou os primeiros contactos com a atividade organística na Europa, através da FFAO (Association Francophone des Amis de l'Orgue).


Como complemento dos seus conhecimentos, realizou contactos com vários organeiros pela Europa, principalmente em países que detêm património organístico de relevo, nomeadamente Espanha, Itália, França, Alemanha e Inglaterra. Em paralelo, visitou por várias vezes os Estados Unidos da América, nomeadamente a cidade de Boston, conhecendo aí os grandes órgãos construídos na Europa, principalmente os do século XIX, que ali se conservam.

Com os conhecimentos adquiridos, aprofundou o estudo técnico dos órgãos portugueses. Inicialmente centrou o seu estudo no conjunto de órgãos existente no Arquipélago do Açores, tendo detetado a existência de características muito específicas e particulares, que configuram a existência de uma escola de organaria portuguesa, original, distinta dos demais países.
Numa primeira fase do seu trabalho, destacam-se o restauro dos órgãos da Igreja Matriz da Ribeira Grande, o da Igreja do Santuário da Esperança, e o da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, entre 1987 e 1988.


Nos dois anos seguintes, restaurou o órgão da Igreja da Nossa Senhora do Carmo (Palácio da Conceição), em Ponta Delgada; os órgãos da Igreja de São Mateus, Matriz de Santa Cruz, na Ilha Graciosa; e o da Igreja da Matriz de São Jorge, na Vila de Nordeste.
Em 1990, restaurou, entre outros, o órgão da Igreja de São Pedro, em Ponta Delgada, e iniciou a construção do órgão de estudo do Conservatório Regional de Ponta Delgada.
No âmbito do programa das novas conquistas, a pedido da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses e do Ministério da Cultura, Dinarte Machado realizou um estudo profundo aos órgãos existentes em Goa (Índia), a fim de apurar se existiam neles alguma ligação aos modelos construídos em Portugal.

Com o objetivo de consolidar os seus conhecimentos, estagiou com Gerhard Grenzing, participando no restauro do grande órgão histórico do Palácio Real de Madrid, em 1992.

A curiosidade de Dinarte Machado levou-o a estudar em profundidade tudo o que se referia à organaria ibérica dos séculos XVIII e XIX, transformando-se num especialista de referência no assunto.
Em 1994 participou como orador no Congresso Internacional de Órgãos Históricos Portugueses, onde apresentou provas da existência de um modo português de construir órgãos. Desde então vem defendendo publicamente a especificidade da organaria portuguesa e a necessidade de salvaguardar esses vestígios através do restauro criterioso do património organístico português.
No mesmo Congresso, Dinarte Machado foi convidado a apresentar duas conferências: uma sobre os órgãos dos Açores, e outra sobre os seis órgãos de Mafra.


Em 1995, a pedido do Ministério da Cultura, aceitou restaurar o órgão da Basílica da Estrela, em Lisboa.
Em 1998, deu início aos trabalhos de restauro dos seis órgãos da Basílica do Palácio Nacional de Mafra, concluídos em maio de 2010, tendo para tal aberto uma filial do seu atelier em Mafra. Este restauro viria a ser distinguido com o Prémio Europa Nostra – Conservação, em 2012.
Ainda em 2010, foi convidado pelo Governo Regional dos Açores, para organizar, em conjunto com o organista João Vaz, a realização do primeiro Simpósio Internacional de Órgãos Históricos Portugueses, nos Açores.

No mesmo ano foi condecorado pelo Presidente da República Portuguesa, com o grau de Comendador da Ordem do Mérito.


Dinarte Machado atualmente trabalha em três publicações englobadas sob o título de O Tratado de Organaria Portuguesa, um livro técnico que aborda diversos órgãos históricos de todo o mundo, por comparação, incluindo os históricos dos Açores, como modelos no seu estado puro original.
Publicou, em coautoria com Gerhard Doderer, dois livros que reúnem o património organístico da Madeira e dos Açores: Órgãos das Igrejas da Madeira, em 2009; e Inventário dos Órgãos dos Açores, em 2012. Colaborou nas publicações de A arte organística em Portugal depois de 1750, em 1995; e Órgãos de Tubos de Santarém, em 2009.

Tem contribuído para a recuperação, quer do património instrumental, quer do ensino organístico em Portugal. Relativamente à organaria, a sua luta tem sido no sentido da implementação de uma escola para preparar os futuros organeiros que terão de manter o vasto património português.
Presentemente é acompanhado pelo seu filho, Pedro Borges, que pretende seguir a vocação do pai.



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