O Exército encontrava-se organizado em torno
do Comando Militar dos Açores, desde 1901, com duas zonas militares com sede no
Forte de São João Baptista em Angra. Neste Forte encontrava-se aquartelado o
Regimento de Infantaria n.º 25 e em Ponta Delgada, no Forte de São Brás,
encontrava-se aquartelado o Regimento de Infantaria n.º 26. Na Horta estava
permanentemente estacionado um destacamento de infantaria, alternadamente do BI
25 ou do BI 26.
O recrutamento na Zona Militar dos Açores era
efectuado por todo o arquipélago e o tempo de serviço militar era de três anos.
Em 1916 com a declaração de guerra foi ordenada a reinspecção militar dos
indivíduos com idades compreendidas entre os 20 e 45 anos (Bento, 2008: 407).
Nos Açores, a Grande Guerra tem claramente
duas fases distintas: a primeira entre 1914 e Junho de 1917; a segunda entre
Julho de 1917, com a chegada dos Americanos e o ataque alemão, até ao fim do
Depósito de Concentrados Alemães (Angra do Heroísmo) em Outubro de 1919.
Desde o início do conflito que os militares
das Ilha de São Miguel (Ponta Delgada), Terceira (Angra) e Faia (Horta)
acompanhavam a acção do inimigo ao longo do Atlântico, com especial cuidado
para os ataques de surpresa que os alemães poderiam efectuar. Esta preocupação
levou o Comando Militar dos Açores a transmitir várias vezes ao Ministério da
Guerra em Lisboa a necessidade de reforço dos meios de combate disponíveis nos
Açores, devido à antiguidade e ao mau estado de funcionamento dos mesmos.
A localização das ilhas, a capacidade de
reabastecimento de navios em Ponta Delgada (São Miguel), a localização de
centrais de comunicação por cabo submarino e TSF na Horta (Faial) e ainda a
localização de um depósito de internados alemães e Austro-Húngaros em Angra do
Heroísmo (Terceira), eram factores estratégicos que as tornavam alvos dos
submarinos alemães. Além destes alvos
acrescia o grande número de comboios navais com transportes de tropas entre a
América e França, desde 1917.
As unidades do Exército nos Açores, Regimento
de Infantaria n.º 25 e n.º 26, não incorporaram unidades no Corpo
Expedicionário Português CEP, que foi enviado para França, no entanto houve
oficiais açorianos que integrados em outras unidades foram para a França.
Destes ficaram prisioneiros dos alemães, durante a Batalha de La Lys, o Tenente
João Augusto Gonçalves, os alferes João Machado Benevides, José Cabral Jr,
Joaquim de Frias Coutinho, Luís Carlos Lacerda Nunes, António Martins Ferreira
Jr e Sá Vieira. Primeiro estiveram aprisionados no Campo de Rasttat e depois
foram transferidos para o Campo de
Breesen (Bento, 2008: 400).
Em consequência do Artigo 124º do regulamento
do serviço de recrutamento de 23 de Agosto de 1911, os Açores deveriam
contribuir para o recrutamento de homens para a Armada em 1915. Existindo no
arquipélago 2.066 sorteados, foram seleccionados 14: de Angra do Heroísmo,
Circunscrição 25, 5 homens e de Ponta Delgada, Circunscrição 26, 9 homens
(Ordens de Serviço do Exército, 1ª série, 1915, pp. 540-1).
Nos Açores era possível uma mobilização de
acordo com os números apresentados no seguinte quadro, mas seria necessário
trazer quadros (oficiais e sargentos) do continente. O número de espingardas e equipamento individual
não é suficiente para equipar todos os homens a mobilizar, face ao qual é era
necessário reforçar a dotação com material a trazer de Lisboa;
- Não existia informação sobre os efectivos do
Regimento n.º 25, de Angra do Heroísmo, que se encontravam na Horta;
-
Quanto às 17 peças de artilharia que as forças dos Estados Unidos solicitaram,
não houve indicação dos calibres, tanto para Ponta Delgada como para a Horta,
pelo que a comissão pensa que para a primeira localização se estará a pensar em
peças fixas e para o segundo local de peças móveis;
-Em
resultado do considerou-se que será possível mobilizar cerca de 3.000 homens
para os Açores, não existindo correspondência a qualquer número de Batarias
para as 17 peças solicitadas.
A importância geoestratégica do Faial no
contexto internacional teve início quando em Outubro de 1876 se dá a construção
do porto comercial, que mais tarde devido à sua localização veio a tornou-se
numa estrutura importante ao serviço da marinha da Entente durante a Grande
Guerra. Outro marco na história da ilha deu-se em Agosto de 1893 com a
inauguração do cabo telegráfico submarino que ligou a Horta (Alagoa) a Lisboa
(Carcavelos) e ao resto do Mundo.
A defesa militar terrestre da ilha do Faial
contava com o 2º Batalhão de Infantaria 25, a quatro companhias: 4ª, 5ª, 6ª e
7ª, um destacamento de artilharia, guarnecido por efectivos do B1AM de Angra do
Heroísmo ou do B2AM de Ponta Delgada de forma alternada que mais tarde foi
reforçado por efectivos pertencentes ao Campo Entrincheirado de Lisboa, reforço
que chegou em Maio de 1918.
Para além do porto natural eram também ponto
estratégico os cabos submarinos de comunicações, o centro observatório
meteorológico e os depósitos de combustível. Nesta estação de comunicações
também se encontrava amarrado um cabo submarino alemão, o que veio a
influenciar o interesse inglês por esta ilha. O porto da Horta estava bem
situado e reunia todas as condições naturais para ser um grande porto no
sistema de comboios, mas a ausência de protecção impediu que tal acontecesse.
A defesa da Ilha de São Miguel contava com o
Regimento de Infantaria n.º 26, de Ponta Delgada, a Bataria de Artilharia N.º 2
Montada, com peças no Alto da Mãe de Deus (3 Armstrong 10/28), e a Bataria do
Grupo de Guarnição 2 nas muralhas no forte de São Brás.
Posteriormente ao ataque alemão de 4 de Julho
de 1917 foi colocada uma terceira Bateria de Artilharia no Porto de Desinfecção
em Santa Clara (3 peças de 70mm obsoletas), Estas armas foram substituídas em
Janeiro de 1918 por 3 peças 150mm Krupp. A Bateria foi mais tarde substituída
por uma peça de tiro rápido fornecida pelos Corpo de Marines dos Estados Unidos
que reforçavam a defesa da Ilha.
A defesa da Ilha Terceira contava o Regimento
de Infantaria n.º 25, de Angra do Heroísmo,
e a Bataria de Artilharia N.º 1 de Montada, com peças Schneider-Canet
75mm.
No Forte de São João Baptista foi instalada
uma Bateria, 2 peças de 150mm Krupp nas suas muralhas e instalada uma Bateria
de Artilharia de Montanha, 2 peças de 75mm Schneider-Canet, no chamado
"Posto de Desinfecção", aproveitando-se a sua localização do Forte de
São Sebastião sobranceira ao Porto de Pipas, que dá acesso à cidade. O conjunto
da Forte de São João Baptista, também denominado Fortaleza do Monte Brasil, com
o Forte de São Sebastião, também denominado Castelinho, proporcionavam uma
forte defesa do Porto de Pipas.
1916 - A apreensão dos navios alemães surtos
nos portos açorianos
A 23 de Fevereiro 1916 Portugal inicia a
apreensão todos os navios mercantes alemães e austro-húngaros surtos nos portos
portugueses, a fim de serem colocados ao serviço da "causa comum
luso-britânica". A ordem foi executada nos Açores na madrugada de 26 de
Fevereiro de 1916, por dois destacamentos de infantaria do Regimento n.º 26,
comandados pelos capitães Albergaria e Ivens, em Ponta Delgada, onde foram
tomados 3 navios alemães, o "Schiffbek" baptizado como "Santa
Maria", o "Schwarzburg" baptizado como "Ponta Delgada"
e o "Margretha" baptizado como "Graciosa".
Na mesma altura o destacamento da Horta tomou
outros 3 navios alemães que ali se encontravam surtos, o "Max"
baptizado como "Flores", o "Sardinia" baptizado como
"São Jorge" e o "Shaumburg" baptizado como
"Horta".
As tripulações e outros cidadãos alemães que
entretanto tinham sido detidos e se encontrava na localidade de Lagoa foram
transferidos para o campo de internados em Angra do Heroísmo. Esta situaçãull
‹o acaba por gerar conflitos entre a população e os internados, o que leva a
ser declarado o estado de sítio na Ilha na Ilha Terceira (Bento, 2008: 407).
Na Ilha Terceira internaram-se grande parte
dos alemães e austríacos capturados quando dos arrestos, que incluiu os
provenientes da Índia, Angola, Cabo Verde e Madeira.
Em Dezembro de 1916 a cidade da Horta, na Ilha
do Faial, foi rondada por um submarino alemão cuja identificação se
desconhece. A razão deste ataque terá sido devido à existência de instalações
de amarração do cabo submarino de comunicações que ali estava ligado. A
situação não terá tido repercussões de maior, uma vez que não se encontram
registoO ataque ocorreu em Ponta Delgada, a
4 de Julho de 1917, por volta das cinco horas da manhã. Em telegrama
expedido ao Ministro da Guerra, o comandante militar de Ponta Delgada
informava-o que um submarino inimigo de grandes dimensões havia bombardeado
terra em repetidos e intermitentes ataques, atingindo os arredores da cidade
até aproximadamente 4 km da costa. Parece que havia a intenção de atingir o
posto de TSF que estava instalado no Ramalho. O submarino alemão disparou 50
tiros com os seus dois canhões de 150mm sobre a ilha.
Dois tiros caíram na Canada do Pilar, na Fajã
de Cima, onde provocaram a morte de Tomásia Pacheco de 16 anos de idade, filha
de João Pacheco e ferimentos com
gravidade a sua irmã Maria Pacheco, Maria Júlia Carreiro de 45 anos e sua filha
Henriqueta da Conceição Machado de 18 e Joaquim Machado (Ecos da Fajã de Cima,
Julho de 1997, pp.6-9., por António Paquete).
Outros tiros caíram na Fajã de Baixo, na Serra
Gorda, em Arribanas, em Pau Amarelo, Santa Clara, Canada do Paim, Recantos dos
Arrifes e em São Gonçalo.
Quando o submarino alemão U-155 abriu fogo
contra a cidade de Ponta Delgada, a bateria instalada na Mãe de Deus, sob o
comando do Alferes António Francisco Castilho da Costa, respondeu assim que o
submarino entrou no seu campo de tiro apesar da distância a que este disparava
sobre Ponta Delgada, a mais de 6.000m, o que fez com que não terminasse o fogo
após quatro tiros (Inso, 2006: 68).s ao nível da comunicação social continental
da época.
Os novos alarmes de submarinos começaram no
início de Setembro de 1917. Os primeiros três avistamentos foram na Ilha de
Santa Maria. Em 11 de Setembro um avião americano avistou um submarino a 16
milhas ao Sul de Ponta Delgada. Saíram à sua procura dois submarinos
americanos, a "NRP Ibo" e uma nova patrulha aérea. A "NRP
Açor" foi colocada junto à entrada do Porto. O submarino acabou por não
ser encontrado.
A 31 de Marco de 1918, a 140 milhas do Faial
(Horta) foi torpedeado o vapor dinamarquês "Indien" de 4.199T. Chegou
a Angra do Heroísmo (Terceira) um salva-vidas com 9 tripulantes, não se tendo
encontrado 3 outros salva-vidas, incluindo o do comandante. ("A
Capital", de 7 de Abril de 1918). O submarino alemão que o atacou foi o
U152 comandado por Constantine Kolbe. Este submarino manteve-se em caça desde
Janeiro até Abril de 1918, quase sempre em águas portuguesas, principalmente
perto do Algarve, Madeira e Açores. As notícias sobre o equipamento do submarino
eram largamente exageradas, 2 canhões de 170mm, mais 2 canhões de 150mm. Na
realidade este submarino estava equipado com 2 canhões de 105mm, o que era
muito mais que suficiente para afundar o "Indien". Os subservientes
indicaram que o submarino intimou a tripulação a abandonar o navio e depois
destes se afastarem afundaram-no com 42 tiros ("A Capital", de 8 de
Abril de 1918).
A 20 de Setembro o vapor inglês
"Taormina" laçou um SOS por estar a ser atacado a 200 milhas a Sueste
de Ponta Delgada, mas conseguiu escapar sozinho.
A 24 de
Setembro o vapor "Lourenço Marques" que vinha de Moçambique com
tropas expedicionárias que regressavam ao Continente, indicou ter avistado um
submarino a 40 milhas de Santa Maria.
A 6 de Outubro o Caça-minas "NRP
Celestino Soares", quando comboiava o vapor "San Miguel"
comunicou ao Almirantado de Ponta Delgada que tinha avistado um submarino.
A 14 de Outubro dá-se o ataque ao vapor
"San Miguel" que estava a ser comboiado pelo Caça-minas "NRP
Augusto de Castilho" (Silva, 1931: 213-226).
Para ultrapassar a situação da tripulação ter
de ficar fechada no navio ao largo durante 10 dias sem permissão de ir a terra
e a imobilização do navio durante tanto tempo, foi dada ordem para o Caça-minas
"NRP Augusto Castilho" substituir a Canhoneira "NRP
Mandovi" na missão de comboiar até os Açores o paquete "San
Miguel" que se encontrava a carregar no porto do Funchal.
No dia 13 de Outubro o "NRP Augusto
Castilho" suspendeu ferro e iniciou a escolta do paquete "San
Miguel" em direcção ao porto de Ponta Delgada, em São Miguel. No paquete
seguiam 206 passageiros civis e no "NRP Augusto Castilho" 2
passageiros militares que tinham aproveitado a viagem em gozo de férias à
Madeira e 4 passageiros civis (3 rapazes de cerca de 15 anos e um homem de
cerca de 47 anos de profissão ‹o serralheiro) que também para ali se dirigiam
a fim de trabalhar e que por causa da quarentena foram obrigados a seguir para
os Açores.
A viagem iniciou-se às 4 horas da tarde e por
determinação do comandante da "NRP
Augusto Castilho", 1º Tenente José Botelho de Carvalho Araújo, foi
estipulada a velocidade de cruzeiro de 9 nós para ambos os navios. O "San
Miguel" viajava colocado a estibordo do caça-minas.
De acordo com o relatório de Kurt von Piotr, o
submarino alemão U-139 detectou o comboio e perseguiu-o durante 3 horas até que
o comandante Lothar von Arnauld de La Priére deu ordem de ataque a tiro de
canhão.
O ataque do submarino deu-se às 6h e 15mn da
manhã, de 14 de Outubro de 1918, com um tiro de canhão disparado de numa posição
à popa do caça-minas. A resposta da peça de 47mm da ré foi quase imediata, mas
o submarino encontrava-se fora do alcance desta peça. A primeira manobra
envolveu o disparo de munições de fumo para criar uma cortina para proteger a
fuga do "San Miguel", mas rapidamente ficaram esgotadas as caixas com
munições de fumo que permitiam criar a camuflagem, ficando ambos os navios
novamente a descoberto.
O médico alemão com a ajuda de alguns
marinheiros aplicou um tratamento primário ao Dispensador João Loureiro e ao 1º
Marinheiro Gregório, e aplicou pensos sobre ferimentos ligeiros de outros
portugueses.
Em francês um oficial alemão dirigiu-se ao
Guarda-marinha Manuel Ferraz e perguntou-lhe onde estava o comandante, ao qual
foi respondido que estava morto. Em resposta o oficial alemão transmitiu-lhe
que se tinham portado com heroísmo e que o comandante não esperava tanto dos
portugueses.
Os alemães deixaram então que os portugueses
voltassem ao "NRP Augusto Castilho" e que aí recolhessem algumas
coisas e retirassem um bote que colocaram na água. Assim que o bote foi
colocado na água os alemães mandaram os 12 portugueses partirem e afastarem-se
do submarino. Começava uma viagem de 200 milhas numa casca de noz que ainda
tinham um rombo. Nos sobreviventes existia a esperança do socorro da marinha
portuguesa e americana que se encontrava fundeada no porto de Ponta Delgada.
Os 12 náufragos avistaram terra 5 dias depois
do combate, às 11 horas de 19 de Outubro de 1918, mas só chegaram a terra às 21
horas, sempre seguindo a luz de um farol. Chegaram ao Nordeste da ilha de São
Miguel, Ponta do Arnel.
O marinheiros que tinham seguido no
salva-vidas chegaram a Santa Maria dois dias depois do combate, às 16 horas do
dia 16 de Outubro de 1918 (Simões, 1920).
Os sobreviventes que se encontravam na ilha de
Santa Maria, foram recolhidos pela Canhoneira "NRP Açor", que no dia
17 de Outubro fundeou em Vila do Porto para os recolher e trazer para Ponta
Delgada (Mendes, 1989:59).
No filme feito pela tripulação do U-139, no
momento da captura do "NRP Augusto Castilho", podemos ver os 12
homens e alguns alemães dentro do salva-vidas quando este já se encontrava
amarado ao submarino. Numa cena seguinte é observado o médico alemão a prestar
socorro a um dos feridos portugueses. Nesta cena é de realçar o estado de
hipotermia do marinheiro que está a ser tratado. De seguida vê-se uma equipa
alemã de abordagem que sobe para colocar cabos de ligação entre o submarino e o
navio. Repare-se que os motores continuam a funcionar e a bandeira branca ainda
está hasteada. Uma vez acostados a tripulação alemã retira do navio todas as
provisões que encontra e outros abastecimentos de interesse. No final é filmado
o afundamento do "NRP Augusto Castilho", primeiro tentam com uma mina
que passa por debaixo do navio sem explodir, depois são colocadas cargas
explosivas junto à linha de água que que provocam o afundamento.
Em socorro do vapor "San Miguel"
saiu logo após a mensagem de SOS a Canhoneira "NRP Ibo" que se
encontrava no porto de Ponta Delgada. Rumou em direcção a Santa Maria, que era
o destino do transporte, e pelas 3 da tarde encontrou o navio. Foi então que
soube Caça-minas "NRP Augusto de Castilho" tinha ficado para trás a
combater o submarino. Nos jornais do dia 15 de Outubro saiu a notícia que o vapor
"San Miguel" tinha sido socorrido por dois contratorpedeiros
americanos e um cruzador inglês, o que não foi verdade e que acabou por ser
desmentido pelo Almirantado. O único navio que foi em socorro do "San
Miguel" doi o "NRP Ibo" (Silva, 1931:227-233).
No dia 16 de Outubro o Capitão-tenente Correia
da Silva, da "NRP Ibo", conseguiu apoio do Almirantado americano para
ir em busca dos náufragos do "NRP Augusto de Castilho", que lhe
facultou uma flotilha constituída por 4 caça-submarinos (vespas) "USS SC-72",
"USS SC-111", "USS SC-180" e "USS SC-331"e o
rebocador de alto-mar "USS
Lapwing". A flotilha navegou desde Ponta Delgada até Santa Maria numa
formação com o "NRP Ibo" à frente e o rebocador "USS
Lapwing" à retaguarda. As vespas iam nas alhetas de cada um dos navios
maiores. Depois de Santa Maria a flotilha mudou para uma formação em linha com
uma distância entre navios de 2000m. As pesquisas duraram até ao final do dia,
quando os navios americanos regressaram a Ponta Delgada. Sozinha a Canhoneira "NRP
Ibo" chegou pelas 10 horas da noite ao local do afundamento, onde
encontrou vestígios do "NRP Augusto de Castilho" a flutuarem.
Continuou em busca pelas águas de Santa Maria
até que no dia 18 de Outubro recebeu ordem para regressar a Ponta Delgada, porque
tinham chegado 30 náufragos da "NRP Augusto de Castilho" a Santa
Maria. No dia 20 de Outubro o
Almirantado deu ordem para a "NRP Ibo se deslocar até Ponta do Arnel, na
ilha de São Miguel, para ir buscar um segundo grupo de 12 náufragos da
"NRP Augusto de Castilho" que ali tinha chegado (Silva, 1931:236-246).
Em 1914 a defesa naval dos Açores estava
dividida em três capitanias marítimas, respectivamente Angra (Capitania
Central) na Ilha Terceira, Horta (Capitania do Este) na Ilha do Faial e Ponta
Delgada (Capitania do Oeste) na Ilha de São Miguel.
O Exército encontrava-se organizado em torno
do Comando Militar dos Açores, desde 1901, com duas zonas militares com sede no
Forte de São João Baptista em Angra. Neste Forte encontrava-se aquartelado o
Regimento de Infantaria n.º 25 e em Ponta Delgada, no Forte de São Brás,
encontrava-se aquartelado o Regimento de Infantaria n.º 26. Na Horta estava
permanentemente estacionado um destacamento de infantaria, alternadamente do BI
25 ou do BI 26.
O recrutamento na Zona Militar dos Açores era
efectuado por todo o arquipélago e o tempo de serviço militar era de três anos.
Em 1916 com a declaração de guerra foi ordenada a reinspecção militar dos
indivíduos com idades compreendidas entre os 20 e 45 anos (Bento, 2008: 407).
Nos Açores, a Grande Guerra tem claramente
duas fases distintas: a primeira entre 1914 e Junho de 1917; a segunda entre
Julho de 1917, com a chegada dos Americanos e o ataque alemão, até ao fim do
Depósito de Concentrados Alemães (Angra do Heroísmo) em Outubro de 1919.
Desde o início do conflito que os militares
das Ilha de São Miguel (Ponta Delgada), Terceira (Angra) e Faia (Horta)
acompanhavam a acção do inimigo ao longo do Atlântico, com especial cuidado
para os ataques de surpresa que os alemães poderiam efectuar. Esta preocupação
levou o Comando Militar dos Açores a transmitir várias vezes ao Ministério da
Guerra em Lisboa a necessidade de reforço dos meios de combate disponíveis nos
Açores, devido à antiguidade e ao mau estado de funcionamento dos mesmos.
A localização das ilhas, a capacidade de
reabastecimento de navios em Ponta Delgada (São Miguel), a localização de
centrais de comunicação por cabo submarino e TSF na Horta (Faial) e ainda a
localização de um depósito de internados alemães e austro-húngaros em Angra do
Heroísmo (Terceira), eram factores estratégicos que as tornavam alvos dos
submarinos alemães. Além destes alvos
acrescia o grande número de comboios navais com transportes de tropas entre a
América e França, desde 1917.
As unidades do Exército nos Açores, Regimento
de Infantaria n.º 25 e n.º 26, não incorporaram unidades no Corpo
Expedicionário Português CEP, que foi enviado para França, no entanto houve
oficiais açorianos que integrados em outras unidades foram para a França.
Destes ficaram prisioneiros dos alemães, durante a Batalha de La Lys, o Tenente
João Augusto Gonçalves, os alferes João Machado Benevides, José Cabral Jr,
Joaquim de Frias Coutinho, Luís Carlos Lacerda Nunes, António Martins Ferreira
Jr e Sá Vieira. Primeiro estiveram aprisionados no Campo de Rasttat e depois
foram transferidos para o Campo de
Breesen (Bento, 2008: 400).
Em consequência do Artigo 124º do regulamento
do serviço de recrutamento de 23 de Agosto de 1911, os Açores deveriam
contribuir para o recrutamento de homens para a Armada em 1915. Existindo no
arquipélago 2.066 sorteados, foram seleccionados 14: de Angra do Heroísmo,
Circunscrição 25, 5 homens e de Ponta Delgada, Circunscrição 26, 9 homens
(Ordens de Serviço do Exército, 1ª série, 1915, pp. 540-1).
No relatório apresentado ao Estado Maior do
Exercito, pela Comissão presidida pelo General Corte Real, em 31 de Outubro de
1917, (PT/AHM/DIV/3/01/18/24) em resultado do trabalho de avaliação das
necessidades de defesa do arquipélago dos Açores, informação que foi necessária
coligir para responder ao Ministro dos Estados Unidos, em Lisboa, quanto às
medidas de defesa a adoptar nos Açores. Neste documento ficou detalhada a
seguinte informação:•
Nos Açores era possível uma mobilização de
acordo com os números apresentados no seguinte quadro, mas seria necessário
trazer quadros (oficiais e sargentos) do continente. O número de espingardas e equipamento
individual não é suficiente para equipar todos os homens a mobilizar, face ao
qual é era necessário reforçar a dotação com material a trazer de Lisboa;
- Não existia informação sobre os efectivos do
Regimento n.º 25, de Angra do Heroísmo, que se encontravam na Horta;
-
Quanto às 17 peças de artilharia que as forças dos Estados Unidos solicitaram,
não houve indicação dos calibres, tanto para Ponta Delgada como para a Horta,
pelo que a comissão pensa que para a primeira localização se estará a pensar em
peças fixas e para o segundo local de peças móveis;
-Em resultado do considerou-se que será
possível mobilizar cerca de 3.000 homens para os Açores, não existindo
correspondência a qualquer número de Batarias para as 17 peças solicitadas.
Em relação às 17 peças solicitadas a Comissão
indicou que existia a possibilidades de escolher das mesmas dentro do seguinte
lote de 22 peças:
A Comissão colocou ao Estado Maior do Exército
a questão de não ter sido informada sobre a localização onde se pretendia
colocar as bocas de fogo, para a decisão sobre a escolha das mesmas, e ainda, a
necessidade de saber a localização para o transporte e montagem das mesmas em
Ponta Delgada e Horta.
A importância geoestratégica do Faial no
contexto internacional teve início quando em Outubro de 1876 se dá a construção
do porto comercial, que mais tarde devido à sua localização veio a tornou-se
numa estrutura importante ao serviço da marinha da Entente durante a Grande
Guerra. Outro marco na história da ilha deu-se em Agosto de 1893 com a
inauguração do cabo telegráfico submarino que ligou a Horta (Alagoa) a Lisboa
(Carcavelos) e ao resto do Mundo.
Também no final do século XIX, com o
desenvolvimento da meteorologia mundial e a consequente criação de estações
para recolha de dados atmosféricos que Portugal entra neste processo e vê a
abertura das suas primeiras quatro estações: Porto, Coimbra, Lisboa e Faro,
seguidas por estações nas Berlengas, no Cabo de São Vicente e na Horta. Como as
condições do tempo apresentam em geral uma deslocação de Oeste para Este, a
Europa central viu no território nacional a oportunidade de estabelecer estações
meteorológicas avançadas, que com a rede TSF e a rede de cabos telegráficos
submarinos que permitiam a retransmissão da informação rapidamente para a
Europa central. É neste contexto, ou seja o avançar para Oeste, que a recolha
de dados meteorológicos e face às facilidades tecnológicas de comunicação
existentes no Faial que em 1915 são inaugurados o Observatório Meteorológico e
a Estação Meteorológica Internacional, com capacidade para retransmitir as
observações meteorológicas comunicadas pelos navios.
A defesa militar terrestre da ilha do Faial
contava com o 2º Batalhão de Infantaria 25, a quatro companhias: 4ª, 5ª, 6ª e
7ª, um destacamento de artilharia, guarnecido por efectivos do B1AM de Angra do
Heroísmo ou do B2AM de Ponta Delgada de forma alternada que mais tarde foi
reforçado por efectivos pertencentes ao Campo Entrincheirado de Lisboa, reforço
que chegou em Maio de 1918.
Para além do porto natural eram também ponto
estratégico os cabos submarinos de comunicações, o centro observatório meteorológico
e os depósitos de combustível. Nesta estação de comunicações também se
encontrava amarrado um cabo submarino alemão, o que veio a influenciar o
interesse inglês por esta ilha. O porto da Horta estava bem situado e reunia
todas as condições naturais para ser um grande porto no sistema de comboios,
mas a ausência de protecção impediu que tal acontecesse.
a) Uma secção de artilharia no Pico Queimado,
duas peças de 80mm, disposta no terreno com possibilitava de executar fogo
cruzado sobre o acesso à praia da Horta;
b) Uma secção de artilharia na foz da ribeira
da Conceição, duas peças de 80mm, disposta no terreno com possibilitava de
executar fogo cruzado sobre o acesso à praia da Horta;
2) Infantaria - A divisão do 2º Batalhão do RI
25 em destacamentos com a seguinte disposição no terreno:
a) Um destacamento de guarda ao perímetro
exterior do paiol e do local da amarração do cabo telegráfico submarino da The
Comercial Cable Co. (Alagoa);
b) Um destacamento de guarda ao Quartel de
Infantaria RI25, no Convento do Carmo;
c) Um destacamento de guarda ao Quartel de
Artilharia B1AM, no Forte de Santa Cruz;
d) Um destacamento de guarda à zona portuária
da Horta, para vigia no monte da Guia, Farol do molhe, Cais e ponta da
Espalamaca;
e) Uma coluna móvel com a missão de patrulha
da área entre a Baía do Porto Pim e o local da amarração dos cabos telegráficos
submarinos estrangeiros, que se encontrava a 150m a Nordeste da foz da ribeira
da Conceição, e;
f) Um
piquete de prevenção.
Após ter sido revisto o plano inicial, foi
considerado pelo comando militar que os locais considerados como mais prováveis
para um desembarque alemão eram a Praia do Almoxarife e o varadouro da
freguesia do Capelo. Considerando que o dispositivo inicial já cobria a Praia
do Almoxarife, foi apenas efectuada uma alteração que incluiu mais um
destacamento de infantaria, de aproximadamente 35 homens, para junto ao Farol
dos Capelinhos, que se manteve aceso durante o período de guerra, em parte
porque o comandante do porto da Horta considerava que na sua perspectiva os
alemães não tinham qualquer vantagem em destruir este farol e também porque o
porto dos Capelinhos, em virtude da sua fraca qualidade também não seria
certamente utilizado pelos alemães . Este destacamento foi então reforçar a
guarnição da Marinha de Guerra do posto semafórico instalado junto ao farol.
Em Novembro de 1916, o comandante do 2º
Batalhão de Infantaria num relatório elaborado para o Ministério da Marinha,
onde explica as providências tomadas para defesa da ilha, indica a necessidade
da permanência de um navio de guerra o porto da Horta para fiscalização e
policiamento dos bascos aí aportados, vigilância dos cabos telegráficos
submarinos e impedimento da navegação no canal do Faial. No que se refere à
artilharia faz referência à necessidade de substituição das quatro peças 80mm
Mod. 1878 do Grupo de Artilharia de Guarnição, por outras quatro peças mais
modernas, do tipo Schneider-Canet, Armstrong ou Krupp tiro rápido de 105 ou 150
mm, para as instalar no Monte da Guia e no Espalamaca. Faz por último
referência à necessidade de fazer chegar à ilha uma bataria de metralhadoras,
destinadas às forças de infantaria.
Mais tarde em Maio de 1918 a Bataria de
Artilharia de Guarnição do Faial, que se encontrava aquartelada no Forte de Nª
Senhora da Guia, na Ponta da Greta, Horta, recebeu uma peça de AE 150mm P (MK)
Krupp, oriunda de São Miguel, pertencente ao Campo Entrincheirado de Lisboa.
Com as forças disponíveis e a limitação de
meios de artilharia disponíveis na ilha, o sistema de defesa não apresentava
uma intenção real de defesa do porto, mas sim uma defesa efectiva contra o
desembarque de tropas inimigas nas praias. Refira-se que após a Batalha da
Jutlândia, qualquer cenário de invasão das ilhas açorianas não podia apresentar
uma escala maior do que um golpe-de-mão ou de um acto de sabotagem, em parte
porque a marinha de guerra alemã de superfície se encontrava neutralizada e os
submarinos apresentavam uma guarnição relativamente pequena para qualquer acção
de maior envergadura.
A defesa da Ilha de São Miguel contava com o
Regimento de Infantaria n.º 26, de Ponta Delgada, a Bataria de Artilharia N.º 2
Montada, com peças no Alto da Mãe de Deus (3 Armstrong 10/28), e a Bataria do
Grupo de Guarnição 2 nas muralhas no forte de São Brás.
Posteriormente ao ataque alemão de 4 de Julho
de 1917 foi colocada uma terceira Bateria de Artilharia no Porto de Desinfecção
em Santa Clara (3 peças de 70mm obsoletas), Estas armas foram substituídas em
Janeiro de 1918 por 3 peças 150mm Krupp. A Bateria foi mais tarde substituída
por uma peça de tiro rápido fornecida pelos Corpo de Marines dos Estados Unidos
que reforçavam a defesa da Ilha.
Após o ataque em Dezembro de 1916 ao Funchal,
Ilha da Madeira, foi colocado um Pelotão de Infantaria, cerca de 50 homens,
junto da Igreja da Matriz e passaram a ser efectuadas patrulhas nocturnas pela
cidade de Ponta Delgada.
A defesa naval do porto artificial ficou a
cargo do Capitão-de-fragata Júlio Milheiro, que também teve o encargo de
organizar a defesa naval da ilha e a coordenar com o comandante do Regimento de
Infantaria n.º26. O Capitão-de-fragata Júlio Milheiro foi posteriormente
nomeado Comandante da Defesa Marítima dos Açores (Inso, 2006: 67). Em 1918, com
o Decreto-Lei n.º 3-771, de 20 de Janeiro, Comandante da Defesa Marítima dos
Açores é organizado tendo então assumido o comando o Contra-Almirante Augusto
Eduardo Neuparth até 12 Abril de 1918 e
posteriormente assumido o Capitão-de-Fragata Luís Constantino da Silva. Com o
final da Grande Guerra o Comando foi extinto, em 6 de Janeiro de 1919.
Após a declaração de guerra em Março de 1916,
Lisboa enviou para Ponta Delgada, em Abril de 1916, 5 peças navais Armstrong
100mm/28 de reparo naval "Vavasseur" que pertenciam às antigas
canhoneiras Ave, Rio Lima e Zambeze. Estas peças foram montadas em duas
baterias, uma no Espaldão com 3 peças e outra na Mãe de Deus com 2 peças.
Em 1916, a Marinha portuguesa apenas mantinha
estacionado permanentemente nos Açores a Canhoneira "NPR Açor",
comandada pelo 1º Tenente Augusto Goulart de Medeiros, cujo comando manteve até
27 de Outubro de 1917, quando foi substituído pelo Capitão-tenente António
Rafael da Rocha Rodrigues Basto, por causa de se ter deflagrado um surto de
gripe pneumónica a bordo em 25 de Outubro (Mendes, 1989: 59-60).
Em 1917, após o ataque de 4 de Julho, foi
improvisada uma barragem metálica à entrada do porto, como defesa contra
torpedos, e estabeleceu-se um serviço de patrulhas no mar com o vapor
"Furnas" e alguns gasolinas mobilizados. Neste serviço também
colaborou o cruzador francês "Friant", durante o tempo que permaneceu
em Ponta Delgada.
As barragens eram constituídas por batelões
interligados por um cabo de aço fixo pelas extremidades a duas bóias, que
servia de suporte a um chicote de amarras que pesava perto de 60 toneladas.
para entrar no porto artificial era necessário desamarrar uma das bóias. Mais
tarde este aparelho foi substituído por uma rede metálica recebida de Lisboa,
mas que o mar destruiu e obrigou a se utilizar novamente o chicote de amarras.
Posteriormente os americanos forneceram uma nova rede metálica (Inso, 2006:
69).
Para reforço da segurança do porto chegou a 17
de Julho de 1917 o Aviso "NRP 5 de Outubro", comandado pelo
Capitão-tenente Júdice Bicker, que ali se manteve até 12 de Setembro de 1917. A
missão deste navio tinha mais o carácter de serenar o medo da população, uma
vez que a sua artilharia era completamente antiquada. Outros dois navios da
Armada estiveram temporariamente estacionados no porto de Ponta Delgada durante
o ano de 1917: Canhoneira "NRP Beira" de 22 de Julho a 12 de Agosto e
o Contratorpedeiro "NRP Douro" de 6 a 19 de Outubro.
Em 1918, mais pela necessidade de
contrabalançar a aproximação da população dos Estados Unidos do que reforçar a
defesa do porto de Ponta Delgada, que já se encontrava bem defendido, foi
enviado a 15 de Abril o Cruzador "NRP Vasco da Gama", comandado pelo
Contra-almirante Augusto Eduardo Neuparth. Em Junho de 1918 chegou a Canhoneira
"NRP Ibo", comandada pelo 1º Tenente Correia da Silva.
Para além do porto artificial eram também
pontos estratégicos os depósitos de combustível, o posto de TSF no Pico do
Vigário e o cabo submarino de comunicações. Durante a Grande Guerra o porto
artificial de Ponta Delgada chegou a receber 80 navios por dia, devido aos
comboios navais que circulavam entre a América e a Europa.
Em 27 de Abril de 1918 estiveram no porto
artificial 73 embarcações, entre elas 3 com mais de 10 mil toneladas, e até
final de Junho contaram-se cerca de 300 navios, em comboios de 30 a 40. No
início de Maio encontravam-se no porto artificial 42 navios, entre os quais
alguns de 8 mil toneladas (Ilustração Portuguesa, 1918: n.º 640, p. 417).
Nas memórias do 1º Tenente Correia da Silva,
relata-nos a actividade de vigilância marítima junto à entrada do porto
artificial: "Em finais de Julho [1918], com os galões recentes de
Capitão-tenente, segui [para os Açores] a retomar o meu comando [da "NRP
Ibo"], a bordo do "San Miguel", que o "NRP Almirante Paço
d'Arcos", [...] comboiou. Um avião americano, na manhã de 4 de Agosto,
veio ao mar de Ponta Delgada reconhecer o navio que se aproximava. Um submarino
americano, amarrado a uma bóia, estava de vigia à entrada do porto
artificial." (Silva, 1931: 213).
Como nota indica-se que a gripe pneumónica que
grassou na ilha de São Miguel no inverno de 1918 matou mais de 2.000 pessoas,
na maioria jovens.
A defesa da Ilha Terceira contava o Regimento
de Infantaria n.º 25, de Angra do Heroísmo,
e a Bataria de Artilharia N.º 1 de Montada, com peças Schneider-Canet
75mm.
No Forte de São João Baptista foi instalada
uma Bateria, 2 peças de 150mm Krupp nas suas muralhas e instalada uma Bateria
de Artilharia de Montanha, 2 peças de 75mm Schneider-Canet, no chamado
"Posto de Desinfecção", aproveitando-se a sua localização do Forte de
São Sebastião sobranceira ao Porto de Pipas, que dá acesso à cidade. O conjunto
da Forte de São João Baptista, também denominado Fortaleza do Monte Brasil, com
o Forte de São Sebastião, também denominado Castelinho, proporcionavam uma forte
defesa do Porto de Pipas.
A localização, a capacidade de abastecimento e
o campo de internados alemães e Austro-Húngaros tornava a ilha um alvo de
ataque alemão.
Entrada do Regimento de Infantaria n.º 25, de
Angra do Heroísmo, no Forte de São João Baptista
pela rampa lateral junto ao relvão, formado em
coluna de marcha, em 1917.
Prisioneiros Alemães
Forças Americanas
Valor Estratégico
Os Açores na Grande Guerra
A defesa da Ilha do Faial contava com um destacamento
de Infantaria (do BI25 ou do BI26) e uma unidade de Artilharia pertencente ao
Grupo de Guarnição 1 (Angra).
Com o aumento da importância do porto
artificial de Ponta Delgada, o porto da Horta foi progressivamente perdendo a
sua actividade, comparando com a importância que apresentava desde a instalação
dos cabos submarinos.
Em Junho de 1918 a Canhoneira "NRP
Açor" foi equipada com duas peças de 47mm e passou a fundear no porto da
Horta para defesa da Ilha do Faial. Durante o período em que a Canhoneira
"NRP Açor" esteve em reparações no porto de Ponta Delgada, na rampa
das oficinas Bensaúde, o Cruzador "NRP Vasco da Gama" permaneceu no
porto da Horta (Silva, 1931: 214).
Para além do porto natural eram também ponto
estratégico os cabos submarinos de comunicações, o centro observatório
meteorológico e os depósitos de combustível. Nesta estação de comunicações
também se encontrava amarrado um cabo submarino alemão, o que veio a
influenciar o interesse inglês por esta ilha (in VVAA(2005), intervenção de José
Medeiros Ferreira, p. 103, "Ilhas e Arquipélago: Unidade e
Dispersão")
A canhoneira "NRP Açor" sulcou os
mares dos Açores durante anos, fazendo base na baía do Faial. Prestou
relevantes serviços às populações e à Marinha de Guerra, transportando pessoas
e bens e principalmente correspondência postal em ocasiões de impedimento dos
portos por motivos de "quarentena" ou quando os transportes regulares
não o podiam fazer. Na foto observa-se no fundo o molhe do porto da Horta ainda
em construção. Em primeiro plano vê-se uma canoa em primeiro plano pertencente
à equipa da Comercial Cable (Espólio de Humberto Serrão, FPC EHS/CX1/SPC16.1.)
Durante a Grande Guerra houve grandes
alterações nas ligações da rede de cabos submarinos amarrados à ilha da Horta,
com o corte dos cabos alemães no início da guerra.
No dia 5 de Agosto de 1914, o cabo alemão
amarrado entre Emden e Horta foi cortado pelo navio inglês
"Telconia". O cabo alemão entre Horta e New York (cabo New York I)
continuou a trabalhar até 9 de Abril de 1915, data em que foi cortado junto aos
Açores.
Quando a Alemanha declarou guerra a Portugal a
9 de Março de 1916, os alemães empregados da DAT na Horta foram levados sob
prisão para a ilha Terceira.
A 15 de Maio de 1916 o cabo New York II foi
cortado perto dos Açores.
Em Julho de 1917, após a entrada dos Estados
Unidos da América na guerra, os ingleses desviaram os cabos alemães Borkum I e
New York I respectivamente dos seus pontos de amarração na Europa para
Penzance, no sul da Inglaterra e do extremo ligado a Manhattan Beach para
Halifax (Canadá).
Em Novembro de 1917, os franceses também
desviaram os extremos de amarração dos outros dois cabos alemães Borkum II e
New York II, respectivamente Deodlon na França e da estação de Far Rockaway,
para Manhattan Beach.
Em 1918, terminava o prazo de 25 anos de
direito exclusivo concedido à companhia inglesa no contrato de 1893 para
exploração dos cabos submarinos nos Açores.
Em 1919 durante a discussão do Tratado de
Versalhes os cabos submarinos alemães já desviados para França são concedidos
aos franceses. Na conferência internacional de 1920 Portugal reclamou a posse
de parte dos cabos submarinos alemães, mas a pretensão não foi atendida
(Espólio de Humberto Serrão, FPC EHS/CX1/SPC16.1.)
1916 - A apreensão dos navios alemães surtos
nos portos açorianos
A 23 de Fevereiro 1916 Portugal inicia a
apreensão todos os navios mercantes alemães e austro-húngaros surtos nos portos
portugueses, a fim de serem colocados ao serviço da "causa comum
luso-britânica". A ordem foi executada nos Açores na madrugada de 26 de
Fevereiro de 1916, por dois destacamentos de infantaria do Regimento n.º 26,
comandados pelos capitães Albergaria e Ivens, em Ponta Delgada, onde foram
tomados 3 navios alemães, o "Schiffbek" baptizado como "Santa Maria",
o "Schwarzburg" baptizado como "Ponta Delgada" e o
"Margretha" baptizado como "Graciosa".
Na mesma altura o destacamento da Horta tomou
outros 3 navios alemães que ali se encontravam surtos, o "Max"
baptizado como "Flores", o "Sardinia" baptizado como
"São Jorge" e o "Shaumburg" baptizado como
"Horta".
As tripulações e outros cidadãos alemães que
entretanto tinham sido detidos e se encontrava na localidade de Lagoa foram
transferidos para o campo de internados em Angra do Heroísmo. Esta situaçãull
‹o acaba por gerar conflitos entre a população e os internados, o que leva a
ser declarado o estado de sítio na Ilha na Ilha Terceira (Bento, 2008: 407).
Na Ilha Terceira internaram-se grande parte
dos alemães e austríacos capturados quando dos arrestos, que incluiu os
provenientes da Índia, Angola, Cabo Verde e Madeira.
"Usando da faculdade que me concede a lei
n.º 480, de 7 de Fevereiro de 1916, e nos termos do decreto n.º 2 :229, de 23
do referido mês, e sob proposta do Governo: hei por bem decretar o seguinte:
Artigo único. São requisitados para o serviço do Estado os navios alemães Schwarzburg
( vapor ), Schiffbek ( galera ), e
Margareth ( galera ), surtos em
Ponta Delgada, na Ilha de S. Miguel, e os navios da mesma nacionalidade: Schaumburg ( vapor ), Sardinia
(vapor ) e Max ( galera ), surtos no porto da Horta, na Ilha
do Faial."
Em Dezembro de 1916 a cidade da Horta, na Ilha
do Faial, foi rondada por um submarino alemão cuja identificação se
desconhece. A razão deste ataque terá sido devido à existência de instalações
de amarração do cabo submarino de comunicações que ali estava ligado. A
situação não terá tido repercussões de maior, uma vez que não se encontram
registos ao nível da comunicação social continental da época.
2º Ataque Alemão aos Açores (Caso Orion)
O ataque ocorreu em Ponta Delgada, a 4 de Julho de 1917, por volta das cinco horas
da manhã. Em telegrama expedido ao Ministro da Guerra, o comandante militar de
Ponta Delgada informava-o que um submarino inimigo de grandes dimensões havia
bombardeado terra em repetidos e intermitentes ataques, atingindo os arredores
da cidade até aproximadamente 4 km da costa. Parece que havia a intenção de
atingir o posto de TSF que estava instalado no Ramalho. O submarino alemão
disparou 50 tiros com os seus dois canhões de 150mm sobre a ilha.
Dois tiros caíram na Canada do Pilar, na Fajã
de Cima, onde provocaram a morte de Tomásia Pacheco de 16 anos de idade, filha
de João Pacheco e ferimentos com
gravidade a sua irmã Maria Pacheco, Maria Júlia Carreiro de 45 anos e sua filha
Henriqueta da Conceição Machado de 18 e Joaquim Machado (Ecos da Fajã de Cima,
Julho de 1997, pp.6-9., por António Paquete).
Outros tiros caíram na Fajã de Baixo, na Serra
Gorda, em Arribanas, em Pau Amarelo, Santa Clara, Canada do Paim, Recantos dos
Arrifes e em São Gonçalo.
Quando o submarino alemão U-155 abriu fogo
contra a cidade de Ponta Delgada, a bateria instalada na Mãe de Deus, sob o
comando do Alferes António Francisco Castilho da Costa, respondeu assim que o
submarino entrou no seu campo de tiro apesar da distância a que este disparava
sobre Ponta Delgada, a mais de 6.000m, o que fez com que não terminasse o fogo
após quatro tiros (Inso, 2006: 68).
Quando o submarino alemão U-155 abriu fogo
contra a cidade de Ponta Delgada, a bateria instalada na Mãe de Deus, sob o
comando do Alferes António Francisco Castilho da Costa, respondeu assim que o
submarino entrou no seu campo de tiro apesar da distância a que este disparava
sobre Ponta Delgada, a mais de 6.000m, o que fez com que não terminasse o fogo
após quatro tiros (Inso, 2006: 68).
Em 1923, foi publicado um artigo por Manuel
Martins Soeiro, dos Mosteiros, que questionava a posiçãull ‹o geral sobre a
influência do "USS Orion" no afastamento do submarino alemão,
argumentando que o submarino não conhecia o calibre da Bateria da Mãe de Deus
(100mm) e que este poderia temer a correcção do tiro (Bento, 2008: 415).
O "USS Orion", um navio
norte-americano que trouxera o primeiro carregamento de carvão americano para
São Miguel e que estava a ser reparado com a ré soerguida, que ripostou com
eficácia sobre o submarino alemão com uma peça de tiro rápido (100mm) que
dispunha a bordo.
O Jornal "Diário dos Açores" de 4 de
Julho, refere que foram 8 tiros disparados pelo submarino sobre o porto de
Ponta Delgada, 4 disparados da Bateria da Mãe de Deus e 15 disparados de bordo
do "USS Orion".
O submarino efectuou um novo ataque por volta
das 4 horas da tarde sobre Ponta Delgada (in Os Açores & O Controlo do
Atlântico, páginas 113-115, edição 1993) e mantêm-se por perto até às 9 horas
da noite, quando se afasta em direcção de Santa Maria.
Foi na sequência deste ataque que os Estados
Unidos decidiram reforçar a guarnição da Base Americana com uma companhia de
Marines.
A população açoriana ficou convencida que a
sua defesa apenas poderia ser garantida pelas forças dos Estados Unidos ali
presentes. Houve de imediato um voto de louvor da Junta Geral àquelas forças e
a Câmara de Ponta Delgada abriu uma subscrição pública para a compra de uma
prenda a oferecer ao comandante do "USS Orion".
O "Diário dos Açores" de 21 de
Agosto de 1917, escrevia que a admiração da população era tal que um escasso
mês volvido já se vendiam em Ponta Delgada cigarros de fabrico local com a
marca Orion.
Face à ajuda americana, imediata e eficaz,
embora acidental e à frequente visita de navios de guerra americanos ao porto
artificial de Ponta Delgada, a população ganhou um sentimento de segurança com
a presença americana.
O Jornal "Diário dos Açores" manteve
uma campanha de protesto contra a situação de insegurança e de abandono que se
sentia por parte da administração central, em Lisboa, reflexo da vontade da
população se aproximar aos Estados Unidos com a presença da Base Americana.
Esta campanha manteve-se durante o mês de Julho de 1917 até que o empolamento
da opinião pública levou a que aparecessem manifestações de protesto.
A 27 de Julho a censura fez publicar no jornal
uma coluna em branco e a juntar à situação aconteceu também uma desordem entre
a população local e os marinheiros americanos, que foi abortada por um disparo
de canhão a bordo do "USS Orion" e que funcionou como alarme de
recolha de todos os marinheiros à Base. Esta campanha contra a administração
central só terminou quando em 7 de Agosto o jornal publicou que o governador
civil António Rodrigues Salgado se encontrava demissionário.
O reconhecimento da população açoriana e do
Governo português pela actuação da tripulação do "USS Orion", em 4 de
Julho de 1917, de levou a que em 8 de Abril de 1923, no porto de Boston, os
oficiais e marinheiros colectivamente tivessem sido agraciados com a Ordem da
Torre e Espada. Na foto vê-se o "USS Orion" por detrás da tripulação.
Novos avistamentos de submarinos alemães
Os novos alarmes de submarinos começaram no
início de Setembro de 1917. Os primeiros três avistamentos foram na Ilha de
Santa Maria. Em 11 de Setembro um avião americano avistou um submarino a 16
milhas ao Sul de Ponta Delgada. Saíram à sua procura dois submarinos
americanos, a "NRP Ibo" e uma nova patrulha aérea. A "NRP
Açor" foi colocada junto à entrada do Porto. O submarino acabou por não
ser encontrado.
A 31 de Marco de 1918, a 140 milhas do Faial
(Horta) foi torpedeado o vapor dinamarquês "Indien" de 4.199T. Chegou
a Angra do Heroísmo (Terceira) um salva-vidas com 9 tripulantes, não se tendo
encontrado 3 outros salva-vidas, incluindo o do comandante. ("A
Capital", de 7 de Abril de 1918). O submarino alemão que o atacou foi o
U152 comandado por Constantine Kolbe. Este submarino manteve-se em caça desde
Janeiro até Abril de 1918, quase sempre em águas portuguesas, principalmente
perto do Algarve, Madeira e Açores. As notícias sobre o equipamento do submarino
eram largamente exageradas, 2 canhões de 170mm, mais 2 canhões de 150mm. Na
realidade este submarino estava equipado com 2 canhões de 105mm, o que era
muito mais que suficiente para afundar o "Indien". Os subservientes
indicaram que o submarino intimou a tripulação a abandonar o navio e depois
destes se afastarem afundaram-no com 42 tiros ("A Capital", de 8 de
Abril de 1918).
A 20 de Setembro o vapor inglês
"Taormina" laçou um SOS por estar a ser atacado a 200 milhas a Sueste
de Ponta Delgada, mas conseguiu escapar sozinho.
A 24 de
Setembro o vapor "Lourenço Marques" que vinha de Moçambique com
tropas expedicionárias que regressavam ao Continente, indicou ter avistado um
submarino a 40 milhas de Santa Maria.
A 6 de Outubro o Caça-minas "NRP
Celestino Soares", quando comboiava o vapor "San Miguel"
comunicou ao Almirantado de Ponta Delgada que tinha avistado um submarino.
A 14 de Outubro dá-se o ataque ao vapor
"San Miguel" que estava a ser comboiado pelo Caça-minas "NRP
Augusto de Castilho" (Silva, 1931: 213-226).
O Último Combate da Armada Portuguesa
O Caça-minas "NRP Augusto Castilho",
comandado pelo 1º Tenente José Botelho de Carvalho Araújo saiu de Lisboa, a 8
de Outubro de 1918, com a missão de escoltar o paquete "Beira" da
Empresa Nacional de Navegação até ao Funchal. Chegado à Madeira, no dia 10 de
Outubro, deveria ficar em serviço de policiamento e defesa da ilha, mas como à
data o porto de Lisboa ainda se encontrava classificado como "porto
sujo", devido à epidemia de pneumónica no continente, foi-lhe imposto uma
quarentena (10 dias).
Para ultrapassar a situação da tripulação ter
de ficar fechada no navio ao largo durante 10 dias sem permissão de ir a terra
e a imobilização do navio durante tanto tempo, foi dada ordem para o Caça-minas
"NRP Augusto Castilho" substituir a Canhoneira "NRP
Mandovi" na missão de comboiar até os Açores o paquete "San
Miguel" que se encontrava a carregar no porto do Funchal.
No dia 13 de Outubro o "NRP Augusto
Castilho" suspendeu ferro e iniciou a escolta do paquete "San
Miguel" em direcção ao porto de Ponta Delgada, em São Miguel. No paquete
seguiam 206 passageiros civis e no "NRP Augusto Castilho" 2
passageiros militares que tinham aproveitado a viagem em gozo de férias à Madeira
e 4 passageiros civis (3 rapazes de cerca de 15 anos e um homem de cerca de 47
anos de profissãull ‹o serralheiro) que também para ali se dirigiam a fim de
trabalhar e que por causa da quarentena foram obrigados a seguir para os
Açores.
A viagem iniciou-se às 4 horas da tarde e por
determinação do comandante da "NRP
Augusto Castilho", 1º Tenente José Botelho de Carvalho Araújo, foi
estipulada a velocidade de cruzeiro de 9 nós para ambos os navios. O "San
Miguel" viajava colocado a estibordo do caça-minas.
De acordo com o relatório de Kurt von Piotr, o
submarino alemão U-139 detectou o comboio e perseguiu-o durante 3 horas até que
o comandante Lothar von Arnauld de La Priére deu ordem de ataque a tiro de
canhão.
O ataque do submarino deu-se às 6h e 15mn da
manhã, de 14 de Outubro de 1918, com um tiro de canhão disparado de numa
posição à popa do caça-minas. A resposta da peça de 47mm da ré foi quase
imediata, mas o submarino encontrava-se fora do alcance desta peça. A primeira
manobra envolveu o disparo de munições de fumo para criar uma cortina para
proteger a fuga do "San Miguel", mas rapidamente ficaram esgotadas as
caixas com munições de fumo que permitiam criar a camuflagem, ficando ambos os
navios novamente a descoberto.
O submarino alemão continuava a preferir
alvejar o "San Miguel" o que levou a que o paquete fugisse em marcha
força, chegando a alcançar os 14 nós. Como o submarino continuava a alvejar o
"San Miguel" com as suas duas peças de 150mm, o comandante Carvalho
Araújo, para impedir o fogo inimigo sobre o navio de passageiros virou sobre o
submarino e com as máquinas em esforço, o que lhe permitiu alcançar uma
velocidade de 10,5 nós, lançou-se sobre o submarino fazendo fogo intenso com a
peça de 65mm em caça. A única hipótese que o caça-minas tinha era de se
aproximar até à distância útil de tiro e tentar abalroar o inimigo.
Com esta manobra o comandante Carvalho Araújo
salvou os 206 passageiros do paquete "San Miguel", mas determinou o
sacrifício do seu navio. O submarino, que continuava fora do alcance das armas
do "NRP Augusto Castilho", começa então a fazer fogo sobre este e a
vitimar a sua tripulação. Só depois de ter gasto muitas munições é que caiu a
primeira a bordo e depois estilhaços de outras, os alemães pela dificuldade de
acertar directamente no "NRP Augusto Castilho", começaram a utilizar
granadas de estilhaços com espoletas de tempo retardado para as rebentarem por
cima do navio (Inso, 2006:99).
O fogo em caça da peça de 65mm de proa
manteve-se até que a dilatação da culatra impediu a colocação de mais granadas,
mas a peça de ré de 47mm, apesar da sua péssima posição de tiro, manteve-se a
fazer fogo pela alheta de bombordo até acabar as munições. Foram gastas no
total 150 granadas de 65mm e 70 granadas de 47mm.
Quando o comandante Carvalho Araújo verificou
que o "San Miguel" já se encontrava suficientemente longe junto à
linha do horizonte e porque já se encontrava sem mais munições ordenou que
parassem as máquinas e hasteasse o pavilhão nacional. Entretanto, enquanto se
cumpriam as ordens um tiro alemão caiu certeiro sobre o navio atingindo
mortalmente o comandante Carvalho Araújo. Após se ter içado o pavilhão nacional
foi dada a ordem de abandonar o navio. O salva-vidas foi lançado ao mar com
dificuldade o que levou a que muitos se lançassem ao mar agarrados a bóias e
destroços do navio.
Quando, ainda, se estava a lançar o segundo
salva-vidas ao mar rebenta perto do navio uma outra granada e é então que se
percebe que os alemães ainda continuavam a disparar por causa da bandeira
nacional estar içada. Foi então quando um dos sinaleiros arriou o pavilhão
nacional que o fogo inimigo cessou. Eram 8h e 30mn da manhã de 14 de Outubro de
1918. A luta durou 2h e 15mn.
No final do combate o "NRP Augusto
Castilho" encontrava-se 200 milhas da terra mais próxima (ilha de Santa
Maria). Ficavam para trás 6 tripulantes mortos, incluindo o comandante, e um
civil de cerca de 47 anos cujo nome não ficou conhecido. Para o salva-vidas subiram 28 homens, tendo ficado
agarrados a uma jangada 12 homens que vieram a ser recolhidos pelo próprio
submarino inimigo.
Os 12 sobreviventes que se encontravam na
jangada, tentaram comunicar com o salva-vidas mas não o conseguiram, acabando
por vê-la afastar-se. Foram cerca de duas horas agarrados à jangada até que
apareceu novamente o submarino alemão U-139
que os puxou para bordo. Nessa ocasião deu para verificar que o
submarino tinha sido atingido pelo menos uma vez pelas armas do "NRP
Augusto Castilho".
O médico alemão com a ajuda de alguns
marinheiros aplicou um tratamento primário ao Dispensador João Loureiro e ao 1º
Marinheiro Gregório, e aplicou pensos sobre ferimentos ligeiros de outros
portugueses.
Em francês um oficial alemão dirigiu-se ao
Guarda-marinha Manuel Ferraz e perguntou-lhe onde estava o comandante, ao qual
foi respondido que estava morto. Em resposta o oficial alemão transmitiu-lhe
que se tinham portado com heroísmo e que o comandante não esperava tanto dos
portugueses.
Os alemães deixaram então que os portugueses
voltassem ao "NRP Augusto Castilho" e que aí recolhessem algumas
coisas e retirassem um bote que colocaram na água. Assim que o bote foi
colocado na água os alemães mandaram os 12 portugueses partirem e afastarem-se
do submarino. Começava uma viagem de 200 milhas numa casca de noz que ainda
tinham um rombo. Nos sobreviventes existia a esperança do socorro da marinha
portuguesa e americana que se encontrava fundeada no porto de Ponta Delgada.
Os 12 náufragos avistaram terra 5 dias depois
do combate, às 11 horas de 19 de Outubro de 1918, mas só chegaram a terra às 21
horas, sempre seguindo a luz de um farol. Chegaram ao Nordeste da ilha de São
Miguel, Ponta do Arnel.
Os
marinheiros que tinham seguido no salva-vidas chegaram a Santa Maria
dois dias depois do combate, às 16 horas do dia 16 de Outubro de 1918 (Simões,
1920).
Os sobreviventes que se encontravam na ilha de
Santa Maria, foram recolhidos pela Canhoneira "NRP Açor", que no dia
17 de Outubro fundeou em Vila do Porto para os recolher e trazer para Ponta
Delgada (Mendes, 1989:59).
Grupo dos 12 náufragos que chegaram a Ponta de
Arnel (São Miguel)
No filme feito pela tripulação do U-139, no
momento da captura do "NRP Augusto Castilho", podemos ver os 12
homens e alguns alemães dentro do salva-vidas quando este já se encontrava
amarado ao submarino. Numa cena seguinte é observado o médico alemão a prestar
socorro a um dos feridos portugueses. Nesta cena é de realçar o estado de
hipotermia do marinheiro que está a ser tratado. De seguida vê-se uma equipa
alemã de abordagem que sobe para colocar cabos de ligação entre o submarino e o
navio. Repare-se que os motores continuam a funcionar e a bandeira branca ainda
está hasteada. Uma vez acostados a tripulação alemã retira do navio todas as
provisões que encontra e outros abastecimentos de interesse. No final é filmado
o afundamento do "NRP Augusto Castilho", primeiro tentam com uma mina
que passa por debaixo do navio sem explodir, depois são colocadas cargas
explosivas junto à linha de água que que provocam o afundamento.
Em socorro do vapor "San Miguel"
saiu logo após a mensagem de SOS a Canhoneira "NRP Ibo" que se
encontrava no porto de Ponta Delgada. Rumou em direcção a Santa Maria, que era
o destino do transporte, e pelas 3 da tarde encontrou o navio. Foi então que
soube Caça-minas "NRP Augusto de Castilho" tinha ficado para trás a
combater o submarino. Nos jornais do dia 15 de Outubro saiu a notícia que o
vapor "San Miguel" tinha sido socorrido por dois contratorpedeiros
americanos e um cruzador inglês, o que não foi verdade e que acabou por ser
desmentido pelo Almirantado. O único navio que foi em socorro do "San
Miguel" doi o "NRP Ibo" (Silva, 1931:227-233).
No dia 16 de Outubro o Capitão-tenente Correia
da Silva, da "NRP Ibo", conseguiu apoio do Almirantado americano para
ir em busca dos náufragos do "NRP Augusto de Castilho", que lhe
facultou uma flotilha constituída por 4 caça-submarinos (vespas) "USS
SC-72", "USS SC-111", "USS SC-180" e "USS
SC-331"e o rebocador de alto-mar
"USS Lapwing". A flotilha navegou desde Ponta Delgada até
Santa Maria numa formação com o "NRP Ibo" à frente e o rebocador
"USS Lapwing" à retaguarda. As vespas iam nas alhetas de cada um dos
navios maiores. Depois de Santa Maria a flotilha mudou para uma formação em
linha com uma distância entre navios de 2000m. As pesquisas duraram até ao
final do dia, quando os navios americanos regressaram a Ponta Delgada. Sozinha
a Canhoneira "NRP Ibo" chegou pelas 10 horas da noite ao local do
afundamento, onde encontrou vestígios do "NRP Augusto de Castilho" a
flutuarem.
Continuou em busca pelas águas de Santa Maria
até que no dia 18 de Outubro recebeu ordem para regressar a Ponta Delgada,
porque tinham chegado 30 náufragos da "NRP Augusto de Castilho" a
Santa Maria. No dia 20 de Outubro o
Almirantado deu ordem para a "NRP Ibo se deslocar até Ponta do Arnel, na
ilha de São Miguel, para ir buscar um segundo grupo de 12 náufragos da
"NRP Augusto de Castilho" que ali tinha chegado (Silva, 1931:236-246).
Carta para Luís Simões, em 1933
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