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Neste lugar sagrado estão sepultados 17 membros da comunidade judaica que viveu no Faial, os quais, mercê da sua capacidade empreendedora, atingiram destacado nível económico e elevado estatuto social, chegando alguns deles - designadamente Salomão Bensabat e Salomão Sabat – a integrarem a lista dos quarenta maiores contribuintes do concelho da Horta 2 e outro, Moisés Benarus, gerente e administrador da sociedade comercial “José Benarus & Filhos” e, posteriormente director de várias empresas e instituições como a “Silveira, Edwards & C.ª”, “Caixa Económica Comercial Faialense”, “Caixa Económica Faialense”, “Empresa de Iluminação Eléctrica da Horta” vice-cônsul dos Estados Unidos, membro da Junta Geral, correspondente da agência noticiosa “Associated Press”, agente da “Dominion Line” e director da instalação na Horta da “Western Union Telegraph Company”. Moisés Benarus viveu e morreu em rito judaico e foi o último hebreu faialense.
Daquelas 17 sepulturas, apenas duas não se conseguem identificar. Nas outras repousam os restos mortais das seguintes pessoas:
- Abraão Abisdid, falecido a 16 de Janeiro 1864, e um dos que esteve na génese do estabelecimento do cemitério;
- Jacob Pinto, irmão do rabino Mayer Pinto, f. 14 Maio 1869;
- Salomão Bensabat (1800- 27.2.1874), outro dos fundadores daquele espaço e, como salientámos, um dos mais poderosos judeus faialenses;
- David Bensabat, neto do anterior, teve poucos meses de vida, pois nasceu a 27 de Novembro 1873 e faleceu em 3 de Maio de 1874;
- Salomão Benarus, irmão de Moisés Benarus, nascido na Terceira a 20 de Novembro de 1857 e falecido, aos 27 anos, na Horta em 8 de Junho de 1884;
- Salomão Sabat, casado com Raquel Sabat e faleceu a 30 de Outubro de 1884;
- José Abisdid, falecido em 1886;
- Abraão Benchimol, falecido em 1887;
- José Azencot, falecido em 1889;
- Ranma (?), casada com Samuel Levy [?]
- Alegria Sabat Pinto, nascida a 25 de Junho de 1861 e falecida a 14 de Outubro de 1875;
- Simes Benchimol, casada com o negociante hebraico Abraão Benchimol, faleceu a 16 de Setembro de 1877;
- Maria Sabat Pinto, casada com Mayer Pinto, faleceu em 17 de Setembro de 1882;
- Samuel Benarus, filho de Moisés Benarus e de Maria Amélia Garcia, faleceu a 18 de Julho de 1920, tinha dois meses incompletos, pois nascera a 26 de Maio de 1920;
- Moisés Benarus, nascido na Terceira em 17 de Outubro de 1859, faleceu na Horta a 20 de Junho de 1943 e, como se disse, foi o último membro da comunidade judaica faialense e cujos descendentes têm zelosamente cuidado daquele espaço.
Os nomes dos que repousam no cemitério israelita pertencem a poucas famílias – Absidid, Benarus, Bensabat, Benchimol, Pinto, Sabat – algumas delas ligadas por consórcios entre os seus membros.
Tendo sido utilizado durante 80 anos, este cemitério é, presentemente, o maior testemunho da existência da comunidade hebraica que viveu no Faial, além dos documentos, livros e alfaias zelosamente preservadas pela Dr.ª Maria Luna Benarus e seu marido Manuel Joaquim da Silva Brum.
Agora que se restaurou a sinagoga de Ponta Delgada, aberta ao público como espaço museológico, é importante que a Comunidade Israelita de Lisboa assuma a preservação daquele cemitério que, por documento de 16 de Junho de 1983, ficou à sua guarda definitiva.
É igualmente relevante lembrar que os judeus faialenses fundaram, em meados do século XIX, uma sinagoga que Marcelino Lima localiza na rua do Livramento, à esquina da travessa de São Francisco, num prédio confinante com o quintal de Salomão Sabat, cuja casa – situada na rua Conselheiro Medeiros – ainda ostenta numa das suas varandas as iniciais SS. O último rabino da religião hebraica foi Mayer Pinto que, em 1887, fez inserir na imprensa do Faial um extenso e comovente adeus, ao retirar-se, na companhia de sua cunhada Ester Sabat, “desta ilha, talvez para sempre (…) despedindo-se dos restos mortais de alguns dos seus parentes que deixa(va) aqui no cemitério hebraico [a esposa Maria Sabat Pinto, o irmão Jacob Pinto e a jovem filha de 14 anos, Alegria Sabat Pinto], legando-lhes uma eterna saudade, desejando-lhe o eterno descanso dos justos, ao passo que roga(va) a todas as excelentíssimas autoridades presente e futuras se dignem manter a inviolabilidade daquele jazigos que são para eles penhores sagrados”.
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A presença dos judeus na ilha do Faial está abundantemente assinalada na documentação local: escrituras notariais, jornais, actas e livros de registos camarários, bem como o enorme acervo da Casa Bensaúde que se encontra devidamente preservado. Todavia, o testemunho mais evidente e marcante é o cemitério hebraico que, mercê da dedicação de uma só família, se encontra em bom estado de conservação. É a manutenção desse espaço sagrado que deve mobilizar a Comunidade Israelita de Lisboa e, ao menos interessar, a Câmara Municipal da Horta.