A Ermida de Nossa Senhora do Pilar localiza-se no lugar da Faneca, na freguesia de São Pedro, concelho da Vila do Porto, na ilha de Santa Maria, nos Açores.
De acordo com a tradição, o apóstolo São Tiago chegara à Hispânia para anunciar o Evangelho mas estava desanimado pelos insucessos. Já disposto a retornar a Jerusalém, no ano 40 da Era Cristã, Nossa Senhora apareceu-lhe no alto de um pilar junto ao rio Ebro. O local tornou-se objeto de peregrinações (Catedral de Saragoça) e a Virgem do Pilar veio a tornar-se a protetora da Espanha .
Esta ermida sob a sua invocação, foi erguida por iniciativa de Fernando de Loura Bettencourt e sua esposa, Mariana Margarida Coutinho, em 1722, junto à sua casa de campo. Foi por ambos paramentada e dotada com o património necessário à sustentação, conforme escritura datada de 4 de setembro daquele ano.
A 25 de fevereiro de 1726, Loura Bettencourt, então com 60 anos de idade, veio a falecer, ficando a ermida à conta de sua viúva, que a manteve sempre em ordem para o culto divino. Por sua vez, já em adiantada idade e sem descendentes, vivendo em cada de seu sobrinho, o licenciado padre António do Rego Coutinho, vigário confirmado da Matriz de Vila do Porto, legou-lhe, por escritura de 5 de dezembro de 1757, todos os seus bens. Passou, deste modo, o padroado da ermida para o referido religioso.
Uma década mais tarde, em 1767, iniciou-se a escrituração das receitas e despesas da ermida em livro próprio para esse fim.
Por falecimento do padre António do Rego Coutinho (22 de Setembro de 1774), os seus bens foram herdados pelo seu sobrinho, o capitão-mor da ilha de Santa Maria, José Inácio de Sousa Coutinho. Durante o padroado de Sousa Coutinho, a ermida caiu em completo abandono, a ponto de, em 1790, em visita à paróquia de São Pedro, o reverendo visitador Francisco da Câmara Sousa Carreiro ter registado:
.jpg)
Por falecimento de Sousa Coutinho, os seus bens foram herdados pelo seu filho, Francisco Barbosa de Sousa Coutinho que, como novo padroeiro, também devotou ambas as ermidas ao abandono. Seguiu-se-lhe no padroado a sua irmã, Antónia Ermelinda do Loreto Coutinho, que como procuradora havia anteriormente administrado os bens do irmão. Permanecendo as duas ermidas em estado de abandono, o vigário da paróquia de São Pedro, padre Bernardino José Toledo, em 1826 participou ao corregedor e provedor da Comarca o abandono das mesmas, detalhando-lhe as diversas faltas, entre as quais se destacava o uso do espaço para a desfolha e debulha do milho com a permissão da administradora. Da documentação trocada depreende-se ainda que desde a época dos pais da administradora os rendimentos da fábrica de cada uma das ermidas vinham sendo reduzidos, e que as missas, celebradas tradicionalmente na ermida do Pilar aos domingos e dias santos, não o vinham sendo há mais de trinta anos. A ermida e a sua sacristia, além de serem utilizadas como espaço de desfolha e debulha do milho, eram ainda utilizados como depósito e local de realização de jantares, de bailes e de jogo, "e praticar outros autos emproprios e indignos da Casa de Deos (...)". A verga da porta principal encontrava-se partida pelo meio e o forro e as pernas de madeira do teto podres e ameaçando ruína. Para ambas as ermidas era requerida a nomeação de novo "mordomo". Como resultado, foi deferido o requerimento, nomeando-se como novo provedor a José Maria da Câmara, para escrivão a Luiz Francisco Velho, e para tesoureiro a António Monteiro de Carvalho.
Enquanto isso, no ano anterior (1825), o morgado Luís de Figueiredo Velho Melo Falcão e sua esposa Joana Emília do Canto Côrte-Real, sobrinhos dos fundadores da ermida, atendendo à má localização da mesma, ao mau estado dos caminhos que lhe davam acesso, à diminuta fé do povo, e ao estado de profanação e ruína a que a mesma havia sido devotada por seus padroeiros, requereram licença, em 2 de Outubro, ao bispo de Angra, D. Frei Manuel Nicolau de Almeida, a solicitar a transladação da ermida do Pilar para o lugar de Flor da Rosa Alta, na paróquia de São Pedro, junto a uma casa que ali pretendiam edificar. Desse requerimento teve origem um Auto de Vistoria, datado de 3 de Março de 1826 detalhando o estado da edificação e paramentos, assim como os predicados do sítio para a nova ermida. Tendo sido cumpridos todos os requisitos, o bispo de Angra concedeu ao morgado e à esposa o necessário alvará para a erecção da ermida.
Em Junho do mesmo ano, o casal deu início à transladação da ermida para o novo local, tendo o morgado retirado a imagem da Senhora do Pilar da ermida na Faneca, recolhendo-a a sua residência tencionando depositá-la na igreja paroquial de São Pedro onde permaneceria até à conclusão da nova ermida. Assim que os mestres de obra iniciaram os trabalhos de demolição, e a administradora teve notícia dos mesmos, iniciou um processo visando embargá-los, autuou os mestres e denunciou o roubo da imagem, reivindicando os seus direitos de padroeira e opondo-se à transladação da ermida. Solicitou uma avaliação dos danos, visando o ressarcimento pelos mesmos,16 e iniciou-se um processo junto ao juiz de fora da ilha de Santa Maria.
Enquanto corriam os autos a administradora, visando alicerçar o seu pleito contra a transladação da ermida, e descaracterizar a acusação de abandono da mesma, solicitou o restauro da mesma, às suas inteiras expensas. Tendo iniciado os trabalhos, estes foram embargados pelo morgado. Tendo este pedido de embargo sido diferido , este não foi obedecido, tendo os trabalhos de reedificação prosseguido, conforme petição do morgado, sendo deferido pelo juiz o desmancho dos acréscimos. Posteriormente, por sentença dada em Vila do Porto, em 23 de dezembro de 1826, o juiz determinou que se prosseguisse o conserto da ermida pela antiga forma. Tendo os autos seguido para a ilha de São Miguel, foi o morgado absolvido e condenada nas custas a administradora, conforme acórdão:
"Acordão em Junta que vistos os auttos de que consta não serem os factos da demolição e remoção indicada na Petição foilhas sette, caso de Querela, julgão nulla a de folhas sette, e todo este processo de acusação por virtude della formado contra o Reo, absolvem a este, mandão que se lhê baixa na Culpa, e condenão a Autora nas Custas.
Ponta Delgada, 23 de agosto de 1830. (...)"
Com isso, o morgado desistiu do translado da ermida, que ficou reconstruída por Dna. Antónia Ermelinda, a sua última administradora.
Ao final da década de 1950, a ermida encontrava-se a cargo da Junta de Freguesia de São Pedro
Sem comentários:
Enviar um comentário