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sábado, 2 de dezembro de 2023

Romeiros da ilha S. Miguel Açores

 



A Romaria micaelense iniciou-se como consequência dos violentos sismos e erupções vulcânicas que abalaram Vila Franca do Campo em 1522 e 1563, respetivamente.

Numa era em que os cataclismos naturais eram tidos como punição divina pelos pecados do Homem, os sacerdotes locais, tais como o Frei Afonso de Toledo, instigaram o povo à prática da devoção e procissões marianas.


Os micaelenses passaram, assim, a peregrinar pelas capelas, igrejas e ermidas da ilha rogando a proteção da Virgem e intervenção divina para a resolução de seus males e aflições.


A tradição romeira encontra-se bem viva nos corações e vidas dos habitantes atuais de S. Miguel.


O Romeiro ostenta o bordão, xaile, lenço e saco ao ombro.


Leva ainda dois terços, um ao pescoço e outro na mão para a oração durante o decurso de toda a romaria.


O bordão serve para apoiar e facilitar o caminhar do peregrino pelas veredas e atalhos acidentados da ilha, o xaile e lenço por sua vez, para protegê-lo do frio e da intempérie.


Embora o traje tenha originado das necessidades puramente físicas do romeiro em peregrinação, este transformou-se com o decorrer do tempo em simbolismos místico-religiosos:


– o bordão relembra o ceptro entregue a Cristo pelos romanos no seu julgamento ante Pilatos,


– o xaile, a Sua Túnica,


– o lenço, a coroa de espinhos do Seu suplício


– e o saco, a Cruz a caminho do Calvário.


A Romaria decorre ao longo de oito dias, findando o itinerário no ponto de partida.


Os participantes são, por norma, leigos que contam com a colaboração do clero durante toda a sua realização.


O seu propósito é visitar “as casas de Nossa Senhora“. O itinerário é pré-estabelecido e a sua efetivação está a cargo do Mestre do grupo.


Atualmente, a pernoita e a esmola de outrora foram substituídas por uma organização mais em sintonia com os nossos tempos.


Providencia-se com a devida antecedência a colaboração das paróquias ao longo de todo o percurso previsto para a romaria.


Os paroquianos acolhem os romeiros em suas casas, facultando-lhes a refeição da noite e água quente com sal para os pés fatigados e lacerados pela caminhada.


O romeiro transporta ao ombro o saco de alimentos para as demais refeições da jornada.


Ao lavar os pés do peregrino, alguns anfitriões relembram o gesto de humildade e caridade de Jesus junto dos seus apóstolos.

A Avé Maria é o cântico predominante de toda a romaria, sendo o Pai-nosso ofertado em silêncio enquanto a Glória é rezada somente nas paragens efetuadas durante a jornada.


O Grupo faz-se acompanhar à retaguarda de um Procurador de Almas cuja missão é recolher e quantificar os pedidos de oração das gentes que possam porventura encontrar pelo caminho.


O requisitante deverá, por sua vez, recolher-se e rezar igual número de Avé Marias quanto os romeiros que encontrou.


O Lembrador das Almas recorda os falecidos que jazem nos cemitérios do percurso, instigando os romeiros à oração por suas almas.


Como em quase toda a tradição religiosa popular, o sacro também aqui entrosa-se com o profano nas engraçadas histórias e piadas contadas à volta da refeição, as quais espelham toda a alegria e bonomia do convívio fraternal entre romeiros.

 ( Cortesia ao Portal de Folclore Português )



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