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quinta-feira, 30 de junho de 2022

Lenda das Sete Caldeiras na ilha das Flores Açores

 


Há muitos e muitos anos, um agricultor vivia nas Flores com um filho chamado João. Todos os dias, este tinha de ir buscar água para a casa de seu pai, uma vez que próximo da mesma não existia qualquer nascente. João passava a vida a brincar e a sonhar. Todas as pessoas que o conheciam diziam que ele era de coração simples, puro e bom, e que um dia iria realizar grandes feitos.


Um dia João ia carregado duas bilhas de água que tinha ido buscar a uma nascente longe de sua casa e, pelo caminho, encontrou uma poça de água das chuvas, onde parou para descansar e brincar um pouco. Falando consigo mesmo, disse em voz alta: "Dizem as pessoas que noutros locais há lindas lagoas e caldeiras, na minha ilha não há, mas não faz mal, eu vou fazê-las".

Esquecendo-se do trabalho que já tinha tido ao ir buscar água tão longe de casa, pegou numa das bilhas de barro e despejou-a no chão. Para seu espanto, com a mesma facilidade com que derramara a água e sonhara em construir lagoas, viu crescer aos seus pés um grande lago que se alojou no fundo de uma caldeira.


Felicíssimo com o acontecimento, João pulou de alegria e pensou: "Daqui para a frente, sempre que encontrar poças de água vou fazer o mesmo!" Dito e feito, encontrou logo outra poça de água à sua esquerda, poucos metros à frente. Não perdendo tempo, e com confiança no que fazia, vazou a outra bilha de água e ficou a ver a água a espraiar-se e dar origem a outra lagoa, desta vez muito funda.


Cheio de contentamento e esquecendo-se do trabalho que lhe dava ir buscar água, voltou à nascente para ir buscar mais. Mal regressava com as bilhas cheias começou novamente a sonhar, e encaminhado pelos seus sonhos de criança foi deambulando pela ilha, encontrando pelo caminho sete poças onde despejou as suas bilhas, e dando assim origem às sete lagoas da ilha das Flores.


Reza a lenda que foi assim se formaram a Lagoa Funda das Lajes e várias outras menos fundas, como a Caldeira Rasa, cujas margens são muito lodosas e tidas como perigosas. Das brincadeiras do João nasceram ainda a Lagoa Branca, a Lagoa Seca (Santa Cruz das Flores), a Lagoa Comprida, a Lagoa Funda e a Lagoa da Lomba. Todas lagoas diferentes, cheias de águas límpidas e puras como os pensamentos do João que as criou.




quarta-feira, 29 de junho de 2022

Governadores Castelhanos da Fortaleza de São João Baptista da ilha Terceira Açores




A 11 de agosto de 1583 foi jurado na Câmara de Angra Filipe II de Espanha. O governo do presídio espanhol instalado em Angra, com superintendência nas armas de todo o arquipélago e poder de tutela mais ou menos formal sobre a administração civil, teve os seguintes titulares:




1583 - 1591 — Mestre-de-campo Juan de Horbina




1591 - 1592 — Capitão Diego Suarez de Salazar (comandante interino)

1592 - 1595 — Mestre-de-campo D. Antonio de la Puebla

1595 - 1596 — Capitão Juan de Amilibia (comandante interino)

1596 - 1600 — Mestre-de-campo D. Antonio Centeno


A partir de 1600, o governo das armas das Açores ficou entregue aos governadores do Castelo de São Filipe. O cargo foi exercido pelos seguintes militares até à rendição da fortaleza (ocorrida a 4 de março de 1642):


1600 - 1601 — Mestre-de-campo D. Diego de Miranda Quirós

1601 - 1602 — Capitão Pedro de Heredia (governador interino]

1602 - 1607 — Mestre-de-campo D. Diego de Miranda Quirós




1607 - 1609 — Capitão Francisco de la Rua (governador interino)

1609 - 1613 — Mestre-de-campo D. Pedro Sarmiento

1613 - 1615 — Capitão Juan de Pastrana (governador interino)

1614 - 1614 — Mestre-de-campo D. Luis de Avila Monroy (não tomou posse)

1615 - 1618 — Mestre-de-campo D. Gonzalo de Mejia

1618 - 1618 — Sargento-mor Alonso Verdejo (governador interino)



1618 - 1621 — Mestre-de-campo Juan Ponce de León

1621 - 1621 — Tenente do castelo D. Alonso Cimbron (governador interino)

1621 - 1625 — Mestre-de-campo D. Pedro Esteban de Avila

1625 - 1627 — Mestre-de-campo D. Iñigo Hurtado de Corcuera y Mendoza

1627 - 1639 — Mestre-de-campo D. Diego Fajardo Chacón

1639 - 1642 — Mestre-de-campo D. Alvaro de Vivero



terça-feira, 28 de junho de 2022

Presidentes da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo - ilha Terceira, Açores - na MONARQUIA CONSTITUCIONAL

 





Teotónio de Ornelas Bruges Paim da Câmara - 1 de janeiro de 1831 – 17 de agosto de 1832



Pedro Homem da Costa Noronha  - 18 de agosto de 1832 – 10 de fevereiro de 1835


Teotónio de Ornelas Bruges Paim da Câmara - 11 de fevereiro de 1835 – 9 de fevereiro de 1836


Luís António da Silva Carvalho 10 de fevereiro de 1836 – 7 de outubro de 1836


Teotónio de Ornelas Bruges Paim da Câmara - 8 de outubro de 1836 – 24 de março de 1837


Alexandre Martins Pamplona - 25 de março de 1837 – 17 de janeiro de 1839




Francisco de Meneses Lemos Carvalho - 18 de janeiro de 1839 – 31 de dezembro de 1839


Manuel José Pereira de Bettencourt - 1 de janeiro de 1840 – 1 de janeiro de 1843


António Teles Peixoto Gutierrez Palhinha - 2 de janeiro de 1843 – 1 de janeiro de 1845


Teotónio de Ornelas Bruges Paim da Câmara - 2 de janeiro de 1845 – 13 de janeiro de 1848


Manuel José Pereira de Bettencourt   - 14 de agosto de 1848 – 1 de janeiro de 1850


Manuel Gomes de Sampaio   - 2 de janeiro de 1850 – 1 de janeiro de 1852


João Toste Parreira    - 2 de janeiro de 1852 – 1 de janeiro de 1854


Teotónio de Ornelas Bruges Paim da Câmara   - 2 de janeiro de 1854 – 1 de janeiro de 1870





António da Fonseca Carvão Paim da Câmara   - 2 de janeiro de 1870 – 31 de dezembro de 1871


Júlio Maria Silvano    - 2 de janeiro de 1872 – 31 de dezembro de 1873






José Maria Sieuve de Menese s      - 2 de janeiro de 1874 – 31 de dezembro de 1875


Manuel José Pereira de Bettencourt  - 2 de janeiro de 1876 – 4 de janeiro de 1878


Cândido Pacheco de Melo e Meneses Forjaz de Lacerda    -  5 de janeiro de 1878 – 18 de janeiro de 1881


Jacinto Inácio dos Reis       -    19 de janeiro de 1881 – 7 de junho de 1881


João Tomás Teixeira  - 8 de junho de 1881 – 31 de dezembro de 1881




José Inácio de Almeida Monjardino   - 2 de janeiro de 1882 – 31 de dezembro de 1886


Vital de Bettencourt Vasconcelos e Lemos   - 2 de janeiro de 1887 – 6 de janeiro de 1890


António do Rego Botelho de Faria    -  7 de janeiro de 1890 – 31 de dezembro de 1892


José Maria Sieuve de Menezes       - 2 de janeiro de 1893 – 3 de novembro de 1893


José Narciso Parreira Fagundes      - 4 de novembro de 1893 – 12 de novembro de 1895


Heitor Homem da Costa Noronha     - 13 de novembro de 1895 – 6 de janeiro de 1896


José Inácio de Almeida Monjardino   - 7 de janeiro de 1896 – 7 de julho de 1896


António Mariano da Silva Sarmento   - 8 de julho de 1896 – 18 de agosto de 1896


Emigdio Lino da Silva  - 19 de agosto de 1896 – 20 de outubro de 1896


José Ignácio de Almeida Monjardino  - 21 de outubro de 1896 – 23 de fevereiro de 1897


António Mariano da Silva Sarmento  - 24 de fevereiro de 1897 – 13 de janeiro de 1898


José Ignácio de Almeida Monjardino  - 14 de janeiro de 1898 – 31 de dezembro de 1898





José Pimentel Homem de Noronha   - 2 de janeiro de 1899 – 12 de dezembro de 1899





Pedro Álvares da Câmara Paim de Bruges    - 13 de janeiro de 1899 – 20 de novembro de 1900


José Pimentel Homem de Noronha    - 21 de novembro de 1900 – 8 de setembro de 1901


José Narciso Parreira Fagundes        - 9 de setembro de 1901 – 4 de dezembro de 1901


Alfredo Mendonça   - 5 de dezembro de 1901 – 31 de dezembro de 1901




Raimundo Sieuve de Menezes        - 2 de janeiro de 1902 – 28 de fevereiro de 1902





Jacinto Carlos da Silva  -     4 de junho de 1902 – 29 de dezembro de 1904


Vital de Bettencourt de Vasconcelos e Lemos do Carvalhal    - 2 de janeiro de 1905 – 5 de agosto de 1906


Pedro Álvares da Câmara Paim de Bruges    - 22 de agosto de 1906 – 27 de dezembro de 1906


Vital de Bettencourt de Vasconcelos e Lemos do Carvalhal   - 3 de janeiro de 1907 – 31 de dezembro de 1907


José dos Reis Fisher   - 1 de janeiro de 1908 – 18 de fevereiro de 1908



Pedro Álvares da Câmara Paim de Bruges    - 11 de março de 1908 – 3 de fevereiro de 1910


Francisco José da Costa Vidal  -    14 de março de 1910 – 5 de outubro de 1910





segunda-feira, 27 de junho de 2022

Descoberta e Povoamento da ilha do Pico Açores




À época dos Descobrimentos portugueses, na fase henriquina, a ilha foi designada como ilha de São Dinis, conforme consta no testamento Infante.



Posteriormente, na cartografia do século XIV, encontra-se denominada como "ilha dos Pombos".



Acerca do seu primeiro povoador, nas Lajes do Pico, Frei Diogo das Chagas refere:



"O primeiro homem que se pratica por certo haver entrado nesta Ilha para a povoar foi um Fernando Álvares Evangelho, o qual vindo a buscar a tomou pela parte do Sul, (…) saltou em terra onde se diz o penedo negro, e com ele um cão que trazia, e o mar se levantou de modo que não deu lugar a ninguém mais saltar em terra, e aquela noite se levantou vento, de modo a que a caravela no outro dia não apareceu, e ele ficou na Ilha com seu companheiro, o cão; e nele esteve um ano sustentando-se da carne dos porcos, e outros gados bravos, que com o cão tomava (pois o Infante quando as descobriu, em todas mandou deitar gados, havia nelas, quando depois se povoaram, muita multiplicação deles) (…)." (CHAGAS, Diogo (Frei). Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores. Secretaria Regional de Educação e Cultura/Universidade dos Açores, 1989.)



Frei Agostinho de Monte Alverne, entretanto, acrescenta:



"Outros dizem que os primeiros povoadores foram os que mandou Job Dutra, da ilha do Faial, porque estando à sua janela, vendo esta ilha do Pico pela parte sul, mandou um barco de gente para a povoar por esta parte, onde hoje é a freguesia de São Mateus. E é esta ilha tão fragosa, que, povoando-a estes por esta parte e os outros pela outra, dois anos estiveram sem saberem uns dos outros, nos quais o capitão Job Dutra mandou pedir a capitania e a alcançou, e uns e outros povoadores se avistaram e festejaram muito." (Frei Agostinho de Monte Alverne. Crónicas da Província de São João Evangelista (v. III). Ponta Delgada: Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1988. p. 191)


Em 29 de Dezembro de 1482, a ilha foi integrada na Capitania do Faial pela Infanta D. Beatriz, em virtude de Álvaro de Ornelas, seu primeiro capitão do donatário não ter tomado posse efetiva da ilha por volta de 1460.

Em 1501, Lajes do Pico foi elevada a Vila e sede de concelho pelo Manuel I de Portugal. Em 1542 foi a vez de São Roque do Pico e em 1712 , a de Madalena, confirmando a sua importância económica como porto de ligação com o Faial, e também como local de residência dos proprietários dos extensos vinhedos da zona, já então produtora de vinho, o Verdelho do Pico.



Além da agricultura (trigo, pastel), da pecuária e da pesca, a economia da ilha, desde o início do povoamento, foi marcada pelo cultivo da vinha e a produção de vinho. Sobre elas, o Padre António Cordeiro registou:


"O maior fruto, e mais célebre desta Ilha do Pico é o seu muito e excelente vinho, e quantas mil pipas dê cada ano (…) as outras ilhas, as armadas, e frotas, os estrangeiros o vão buscar, e o muito que vai para o Brasil, e também vem para Portugal; a razão deu-a já o antigo Frutuoso Liv. 6 cap. 41, dizendo que o vinho do Pico não só é muito, mas justamente o melhor, (…), porque é tão generoso e forte, que em nada cede ao que na Madeira chamam Malvazia; antes parece que este vence aquele, porque da Malvazia, pouca quantidade basta para alienar um homem do seu juízo, não se acomoda tanto à saúde; porém o vinho passado do Pico, emprega-se mais em gastar os maus humores, confortar o estômago, alegrar o coração, e avivar, e não fazer perder o juízo, e uso da razão, além de ser suavíssimo no gosto, e muito 'confortativo', ainda só com o cheiro; e por isso é muito estimado, (…)." (Pe. António Cordeiro. História Insulana das ilhas a Portugal Sujeitas no Oceano Ocidental. Secretaria Regional da Educação e Cultura, 1981. p. 474.)


A sua cultura foi apurada, ao longo dos séculos, com o auxílio dos frades Franciscanos, Domincanos e, mais tarde, Jesuítas, nos séculos XVII e XVIII.


domingo, 26 de junho de 2022

Descoberta e povoamento da ilha de São Jorge Açores

 

A ilha aparece figurada, sem identificação, no "Portulano Mediceo Laurenziano" (Atlas Laurentino, Atlas Mideceu), de 1351, atualmente na Biblioteca Medicea Laurenziana, em Florença, na Itália. Mais tarde, no Atlas Catalão, de Jehuda Cresques, de cerca de 1375, actualmente na Bibliothèque Nationale de France em Paris, encontra-se figurada e nomeada com o seu atual nome: "São Jorge".


Desconhece-se a data exacta de quando os primeiros povoadores nela desembarcaram, no prosseguimento da política de povoamento do arquipélago, iniciada cerca de 1430 pelo Infante D. Henrique. Gaspar Frutuoso, sem indicar o ano da descoberta, refere ter sido:



"(...) achada e descoberta logo depois da Terceira, pois não se sabe com certeza quem fosse o que primeiro a descobriu, senão suspeitar-se que devia ser Jácome de Burgues , flamengo, primeiro capitão da Ilha Terceira, que depois acharia a de São Jorge, e, pela achar em dia deste Santo [23 de abril], lhe poria o seu nome, ou por ventura a achou o primeiro capitão de Angra, Vasco Eanes Corte Real [João Vaz Corte Real], depois de divididas as capitanias da mesma Ilha."


A mesma data será seguida pelo padre António Cordeiro, que entretanto refere o ano como 1450.  Essa data, contudo, é incorreta, uma vez que pela carta de 2 de julho de 1439 Afonso V de Portugal concede ao seu tio, o infante D. Henrique, autorização para o povoamento das (então) sete ilhas dos Açores, em que São Jorge já se incluía. Por outro lado, João Vaz Corte Real foi capitão do donatário da Capitania de Angra em 1474, e da de São Jorge em 1483. Raciocínio semelhante se aplica à figura de Jácome de Bruges.



Sabe-se, no entanto, que o seu povoamento terá se iniciado por volta de 1460. Estudos recentes indicam que o primeiro núcleo populacional se tenha localizado na enseada das Velas de onde se irradiou para Rosais, Beira, Queimada, Urzelina, Manadas, Toledo, Santo António e Norte Grande. Um segundo núcleo ter-se-há localizado na Calheta, com irradiação para os Biscoitos, Norte Pequeno e Ribeira Seca.

Diante do insucesso do povoamento da ilha das Flores, o nobre flamengo Willem van der Hagen (Guilherme da Silveira), por volta de 1480 veio a fixar-se no sítio do Topo fundando uma povoação, e aí vindo a falecer. Os seus restos mortais encontram-se sepultados na capela do Solar dos Tiagos.


É pacífico que a ilha já se encontrava povoada quando João Vaz Corte Real, Capitão-donatário da capitania de Angra (ilha Terceira), obteve a Capitania da Ilha de São Jorge, por carta régia de 4 de Maio de 1483 (Arquivo dos Açores, vol.3, p. 13).


Como nas demais ilhas atlânticas, os primeiros povoadores, vindos do mar, fixaram-se no litoral, junto aos melhores e mais seguros ancoradouros. O crescimento populacional e desenvolvimento económico foram rápidos, de modo que:


em 1500, a povoação das Velas foi elevada a vila e sede de concelho;

em 1510 (12 de setembro), a povoação do Topo foi elevada a vila e sede de concelho; e

em 1534 (3 de junho), a povoação da Calheta foi elevada a vila e sede de concelho.


Na segunda metade do século XVI, a ilha contava com cerca de 3000 habitantes, concentrados nas suas três vilas.


A economia desenvolveu-se em torno da agricultura do trigo, do milho e do inhames, complementada pela vinha. Eram importantes também o cultivo do pastel e a coleta de urzela, exportados para a Flandres, de onde eram redistribuídos para outros países da Europa. Remonta a este período a produção do tradicional Queijo São Jorge, tendo mais tarde Gaspar Frutuoso registado:


"Há nela muito gado vacum, ovelhum e cabrum, do leite do qual se fazem muitos queijos em todo o ano, o que dizem ser os melhores de todas as ilhas dos Açores, por causa dos pastos (...)." (Da Descrição da Ilha de S. Jorge. in Saudades da Terra, Livro VI, cap. 33)




sábado, 25 de junho de 2022

Descoberta e povoamento da ilha do Faial Açores

 


Na cartografia do século XIV, a ilha aparece pela primeira vez individualizada no Atlas Catalão (1375-1377) identificada como "Ilha da Ventura". Gonçalo Velho Cabral, em 1432, terá achado as ilhas do Grupo Central. Diogo de Teive passa ao largo da Ilha do Faial na sua primeira viagem de exploração para ocidente dos Açores, em 1451. Em 1460, no testamento do Infante D. Henrique, encontra-se referida como "ilha de São Luís [de França]". O seu atual nome deve-se à abundância das chamadas faia-das-ilhas (Myrica faya) aquando do seu povoamento.


O historiador padre Gaspar Frutuoso afirma que o primeiro povoador da ilha terá sido um eremita vindo do Reino. Este vivia só apenas com algum gado miúdo que na ilha deitaram os primeiros povoadores (em 1432?), e mais tarde, os moradores da ilha Terceira. "Somente no Verão iam pessoas da Terceira a suas fazendas e visitar seus gados e comunicavam com este ermitão". Ele acabaria por desaparecer ao fazer a travessia do canal do Faial para ir até à ilha do Pico, numa pequena embarcação revestida de couro.

O único relato coevo conhecido da primeira expedição à ilha do Faial é de autoria de Valentim Fernandes da Morávia. Ele informa que o confessor da Rainha de Portugal, Frei Pedro, indo à Flandres, como embaixador junto da Duquesa de Borgonha, Infanta D. Isabel de Portugal, relacionou-se com um nobre flamengo chamado Joss van Hurtere, ao qual contou "como se acharam as ilhas em tal rota e que havia nelas muita prata e estanho (porque para ele, as ilhas dos Açores eram as supostas ilhas Cassitérides)". Hurtere convenceu 15 homens de bem, trabalhadores, "dando a mesmo a entender, de como lhes faria ricos" caso o acompanhassem.


Por volta de 1465, Hurtere desembarcou pela primeira vez na ilha, com aqueles 15 flamengos, no areal da enseada da Praia do Almoxarife. Permaneceram na ilha durante 1 ano, na Lomba dos Frades, até que se esgotaram os mantimentos que tinham trazido. Revoltados por não encontrarem nada do que lhes fora prometido, os seus companheiros andaram para o matar, e Hurteve valeu-se de esperteza para escapar da ilha, retornando para a Flandres comparecendo novamente perante a Duquesa da Borgonha. (Frei Agostinho de Monte Alverne. Crónicas da Província de São João Evangelista.)

Por volta de 1467, Hurtere regressou numa nova expedição, organizada sob o patrocínio da Duquesa da Borgonha. Ela mandou homens e mulheres de todas as condições, e bem assim como padres, e tudo quanto convém ao culto religioso, e além de navios carregados de móveis e de utensílios necessários à cultura das terras e à construção de casas, e lhes deu, durante 2 anos, tudo aquilo de que careciam para subsistir, segundo legenda feita pelo geógrafo alemão Martin Behaim no Globo de Nuremberga. Valentim Fernandes acrescenta um pormenor, por rogo da dita Senhora, os homens que mereciam morte civil mandou que fossem degredados para esta ilha.


Não satisfeito com o local original, Hurtere decidiu contornar a Ponta da Espalamaca. Próximo do local de desembarque mandou erguer a Ermida de Santa Cruz (no local onde hoje existe a Igreja de N. Sra. das Angústias). Hurtere regressou a Lisboa e casou-se com D. Beatriz de Macedo, criada da Casa do Duque de Viseu. O Infante D. Fernando, Duque de Viseu e Mestre da Ordem de Cristo, fez-lhe doação da Capitania do Faial, em 21 de Março de 1468. Por volta de 1470, desembarcou Willem van der Haegen, que aportuguesou o seu nome para Guilherme da Silveira, liderando uma segunda vaga de povoadores. O rápido crescimento económico da ilha ficou a dever-se à cultura de trigo e do pastel.



Em 29 de Dezembro de 1482, a Infanta D. Beatriz incorporou à Capitania do Faial a ilha do Pico.




sexta-feira, 24 de junho de 2022

Descoberta e povoamento da ilha Graciosa Açores

 


Desconhece-se a data do seu primeiro avistamento mas, como as vizinhas ilhas do Grupo Central do arquipélago dos Açores, a Graciosa terá sido explorada por navegadores portugueses durante o primeiro quartel do século XV. A data de 2 de Maio de 1450, tradicionalmente assinalada como a de seu descobrimento, carece de suporte documental. É certo que, no início da década de 1440, por determinação do então donatário das ilhas, o Infante D. Henrique, já havia sido lançado gado miúdo na ilha, criando condições para um futuro povoamento.


Desconhece-se ainda quem terão sido os seus primeiros povoadores, embora se admita que, por volta de 1450, tenham chegado à ilha, provavelmente arraia miúda e escravos. O primeiro grupo de colonos de que há notícia, enviados com sanção oficial do donatário, foi liderado por Vasco Gil Sodré, um "homem bom" natural de Montemor-o-Velho, que chegou à ilha acompanhado pela família e criados em meados da década de 1450. Estabeleceram-se no Carapacho, local onde terão aportado, uma zona de costa baixa e abrigada no extremo sudoeste da ilha, à vista da costa da ilha de São Jorge.


Dada a baixa fertilidade dos solos na zona e a sua vulnerabilidade em relação ao mar, o povoamento foi-se internando para o interior, em busca de solos mais férteis e aplainados. Em poucos anos o principal núcleo populacional estava estabelecido na costa norte da ilha, aproveitando as facilidades de desembarque que as calhetas da Barra e de Santa Cruz ofereciam, e a facilidade com que era possível escavar poços de maré naquele litoral. Este foi o embrião da atual vila de Santa Cruz da Graciosa.


Embora Vasco Gil Sodré tenha diligenciado no sentido de obter para si o cargo de capitão do donatário na ilha, e de ter mesmo chegado a construir um edifício para casa da alfândega, diligências em que foi sucedido por seu cunhado, Duarte Barreto do Couto, apenas logrou, e mesmo isso não é seguro, governar a parte sul da ilha, estruturada em torno do que viria a ser a vila da Praia.



A capitania da parte norte da ilha, constituída por terras mais férteis e amplas, foi entregue a Pedro Correia da Cunha, natural da ilha do Porto Santo e co-cunhado de Cristóvão Colombo, que, a partir de 1485, obteve o cargo de capitão do donatário em toda a ilha, unificando-lhe a administração. Fixou-se com a família em Santa Cruz, o que fez com que este povoado, em pouco tempo, suplantasse a Praia como sede do poder administrativo na ilha. Logo no ano seguinte, Santa Cruz foi elevada a vila e sede de concelho, abrangendo todo o território da ilha e, com ele, as duas paróquias então existentes: Santa Cruz e São Mateus da Praia.


Iniciado povoamento e estruturadas as primeiras povoações, como nas demais ilhas do arquipélago, registou-se um rápido aumento da população, graças ao sistema de datas que permitia aos capitães entregar parcelas de terra aos homens bons que as solicitasse e se comprometessem a tê-las desbravadas num período máximo de dois a cinco anos. Nesta fase, o influxo de povoadores fez-se, segundo alguns historiadores, das Beiras, do Minho e mesmo da Flandres, de modo a que, já em 1486, o povoado de Santa Cruz recebeu carta de foral, sendo elevado a vila, de acordo com frei Agostinho de Monte Alverne ("Crónicas da Província de S. João Evangelista das Ilhas dos Açores"). A cabeça da outra capitania, o lugar de São Mateus da Praia também recebeu carta de foral, concedida por João III de Portugal, em 1 de abril de 1546.



Com a criação do segundo concelho ficou completa a estruturação administrativa da ilha que ficou assim dividida: o concelho de Santa Cruz, abrangendo a vila do mesmo nome e os lugares da zona aplainada da metade noroeste da ilha que constituem a actual freguesia de Guadalupe; e o concelho da Praia, abrangendo a vila do mesmo nome e os povoados do Sul que constituem a actual freguesia da Luz.


A estrutura administrativa bicéfala da ilha sobreviveu até ao século XIX, quando por força da reestruturação administrativa que se seguiu à aprovação do segundo código administrativo do liberalismo, o concelho da Praia foi extinto em 1855, sendo o seu território integrado no concelho de Santa Cruz da Graciosa. Embora o decreto de extinção tenha apenas sido executado em 1867, com a extinção do concelho, a Praia perdeu a categoria de vila, estatuto que só recuperaria em 2003, por força do Decreto Legislativo Regional n.º 29/2003/A, de 24 de Junho, aprovado pelo parlamento açoriano.





quinta-feira, 23 de junho de 2022

Descobrimento da ilha Terceira Açores

 

Não há certeza quanto à data de descoberta da Terceira, embora a mesma já figure em portulanos quatrocentistas. Foi inicialmente denominada como Ilha de Jesus Cristo e, posteriormente como Ilha de Jesus Cristo das Terceiras, até se afirmar a designação atual de apenas Terceira.


Dentre estas, acrescenta que lhe parecia mais certo o descobrimento da ilha ter ocorrido em dia do Corpo de Deus, por estar o tempo mais propício à navegação.


A ilha começou a ser povoada a partir da sua doação, por carta do Infante D. Henrique, datada de 21 de Março de 1450, ao flamengo Jácome de Bruges:



"Eu, o Infante D. Henrique (...) faço saber que Jácome de Bruges, natural da Flandres, me disse que (...) estando a ilha Terceira, nos Açores, erma e inabitada, me pedia que lhe desse autorização para a povoar, como senhor das ilhas. E eu, (...) querendo lhe fazer graça e mercê, me apraz conceder-lha. E tenho por bem que ele a povoe da gente que lhe aprouver, desde que seja de fé católica."


Bruges trouxe as suas gentes, muitas famílias portuguesas e algumas espécies de animais, tendo o seu desembarque ocorrido, segundo alguns estudiosos, no Porto Judeu, e, segundo outros, no chamado Pesqueiro dos Meninos, próximo à Ribeira Seca. Gaspar Frutuoso refere, a seu turno:



"(...) Afirmam os povoadores antigos da Ilha Terceira que fora primeiro descoberta pela banda do norte, onde chamam as Quatro Ribeiras, em que agora está a freguesia de Santa Beatriz, que foi a primeira igreja que houve na ilha, mas não curaram os moradores de viver ali por ser a terra muito fragosa e de ruim porto. (...)." (FRUTUOSO, Gaspar. Saudades da Terra (Livro VI). cap. I, p. 8-9)

A primeira povoação terá sido no lugar de Portalegre,  erguendo-se um pequeno templo, o primeiro da ilha, sob a invocação de Santa Ana.


Tomadas as primeiras providências para a fixação das gentes, Brugues retornou ao reino a pedir mais pessoas para auxiliá-lo no povoamento. Nessa viagem, terá passado pela ilha da Madeira, de onde trouxe Diogo de Teive, a quem foi atribuído o cargo de seu lugar-tenente e Ouvidor-geral da ilha Terceira. Além destes titulares, vieram para a ilha alguns frades franciscanos para o culto religioso, visto que as ilhas pertenciam à Ordem de Cristo.



Poucos anos mais tarde, Jácome de Brugues fixou a sua residência no sítio da Praia, lançando os fundamentos da sua igreja matriz - a Igreja de Santa Cruz - em 1456, de onde passou a administrar a capitania da ilha até à data do seu desaparecimento (1474), em circunstâncias não esclarecidas, acredita-se que durante uma viagem entre a ilha e o continente.


Entre os primeiros povoadores cita-se ainda o nome de outro flamengo, Fernão Dulmo, que recebeu terras nas Quatro Ribeiras, entre o Biscoito Bravo e a ribeira da Agualva, lugar onde, segundo o historiador Francisco Ferreira Drummond "...ali desembarcou com trinta pessoas, cultivou a terra e deu princípio à igreja".

Após a entrega da capitania da Terceira a Jácome de Bruges, o Infante D. Henrique doou a 18 de Setembro 1460 as ilhas Terceira e Graciosa ao Infante D. Fernando, seu sobrinho e filho adotivo, com a condição de que a espiritualidade ficasse com a Ordem de Cristo, mandando que os vigários que estiverem nas ditas ilhas digam para sempre uma missa cada Sábado por sua alma. Falecido este último (1470), assumiu a capitania donatária, durante a menoridade do Infante D. Diogo, a Infanta D. Beatriz, sua mãe. Mediante o desaparecimento de Brugues, essa infanta dividirá a ilha em duas capitanias, em 1474:


a capitania de Angra - entregue a João Vaz Corte Real; 

a capitania da Praia - entregue a Álvaro Martins Homem (embora este já tivesse iniciado o povoamento no lugar de Angra).