Páginas

sábado, 27 de novembro de 2021

Igreja de São Sebastião na cidade de Ponta Delgada ilha de São Miguel Açores





A Igreja Matriz de São Sebastião localiza-se freguesia de São Sebastião, na cidade e concelho de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, nos Açores.

A sua construção remonta a uma ermida sob a invocação de São Sebastião, padroeiro da cidade, erguida após uma grande peste que a assolou, conforme referido pelo cronista Gaspar Frutuoso nas Saudades da Terra.

As obras do atual templo transcorreram entre 1531 e 1547, tendo recebido auxílios dos reis D. João III e D. Sebastião, datando desse período as magníficas portadas em estilo manuelino que chegaram até nós. As portas dos alçados laterais, em estilo barroco, são de basalto da ilha.



Encontra-se classificada como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto nº 39.175, de 17 de Abril de 1953.

Ao longo dos séculos a edificação sofreu profundas transformações em seu conjunto, típico do estilo gótico em Portugal, com detalhes manuelinos e, posteriormente, barrocos. No século XVI, a torre sineira erguia-se no ângulo Nordeste. Na primeira metade do século XVIII, o templo foi objecto de extensa campanha de obras.

O altar-mor era inteiramente em talha dourada, havendo nele riquíssimos panos de azulejos.

O atual relógio na torre foi doado em fins do século XIX por António Joaquim Nunes da Silva.

Até há relativamente poucos anos existiam junto aos púlpitos, nas naves, dois coros, um deles com o órgão onde tocou o padre Joaquim Silvestre Serrão.

Entre as capelas, destacam-se a de Nossa Senhora do Rosário, onde o padre António Vieira instituiu a devoção ao Rosário em Ponta Delgada.



sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Forte da Barra ilha da Graciosa Açores

O Forte da Barra, também referido como Bateria da Barra,  localiza-se a um quilómetro a oeste do centro histórico da vila e freguesia de Santa Cruz, concelho de Santa Cruz da Graciosa, na ilha Graciosa, nos Açores.

Em posição dominante sobre a baía da Barra, constituiu-se em uma fortificação destinada à defesa deste ancoradouro contra os ataques de piratas e corsários, outrora frequentes nesta região do oceano Atlântico.

Foi erguido em algum momento entre os séculos XV e XVII.

Embora não se encontre referido especificamente na relação "Fortificações nos Açores existentes em 1710", pode ser um dos dois fortes referidos na vila de Santa Cruz em 1738:


"(...) ajunto do porto barra aonde entram navios pequenos e fora da barra podem emquorar os navios que quizerem de alto bordo e 30 e 40 brasas de fundo, tem dois fortes com artilharia nas duas pontas do dito porto da barra e perto do portam [da vila] tem artilharia que se fecha o dito portam no veram (...)."

SOUSA (1995), em 1822, ao descrever o porto de Santa Cruz refere: "(...) O seu Porto é perigoso e sofrivelmente defendido por um pequeno castelo, guarnecido por um Batalhão de Milícias Nacional, que toma o nome da ilha.".


A "Relação" do marechal de campo Barão de Bastos em 1862, assinala que "Tem uma caza arruinada." e indica que se encontra entre os fortes na ilha "Incapazes desde muitos annos."


Encontra-se relacionado no "Catálogo provisório" em 1884.

A Resolução nº 194/1990 de 26 de dezembro do Governo Regional dos Açores declarou a utilidade pública urgente da expropriação dos prédios que constituem o Forte da Barra, em Santa Cruz da Graciosa.


Subsistem dois panos de muralhas em pedra argamassada e parcialmente rebocada, que formam um ângulo obtuso entre si. No pano virado a norte rasgam-se quatro canhoneiras muito espaçadas, e o pano virado a leste três canhoneiras, mais estreitas e mais juntas.




terça-feira, 23 de novembro de 2021

Maria Luísa Soares de Albergaria de Ataíde da Costa Gomes foi uma pintora e intelectual açoriana

 

Maria Luísa Soares de Albergaria de Ataíde da Costa Gomes  nasceu em Ponta Delgada a  6 de Fevereiro de 1911  e faleceu em  Ponta Delgada A  8 de Julho de 1991.  Mais conhecida por Maria Luísa Ataíde, foi uma pintora e intelectual açoriana, ligada ao mundo das artes e ao Museu Carlos Machado, do qual foi directora da Secção de Arte (1955 a 1974), tendo iniciado as salas dedicadas ao brinquedo e à criança, inauguradas em 1963. Dinamizou o projecto de criação de um Museu da Criança, nunca concretizado. Foi mãe da escultora Luísa Constantina.

Nasceu em Ponta Delgada, filha de Luís Bernardo Leite de Ataíde, historiador de arte e etnógrafo, director do Museu Carlos Machado e principal obreiro das colecções de arte e etnografia daquela instituição.

Teve uma apurada formação artística, cursando pintura e desenho durante três anos sob a direcção de Domingos Rebelo. Estudou técnicas de retrato com Eduardo Malta, noções de aguarela com Berta Borges, aprendeu a trabalhar a lápis e a tinta-da-china com José Contente e a técnica de pintar flores com Eduarda Lapa.


A partir de 1955, após o falecimento de seu pai, dirigiu a Secção de Arte e Etnografia do Museu Carlos Machado, cargo que manteve ininterruptamente por quase 20 anos, retirando-se em 1974. Na sua acção esteve atenta às mudanças da museologia da sua época e foi influenciada pelo trabalho de João Couto, então director do Museu Nacional de Arte Antiga, de Lisboa, que afirmava O museu não deve ser um simples aglomerado de obras de arte de todos os tempos, mas sim, um espaço onde se deve desenvolver uma intensa actividade cultural variada. Os museus devem ser organismos vivos centros de divulgação cultural, modernos criteriosos e com mecanismos capazes de atrair novos públicos e exercer sobre eles uma acção pedagógica.

Também partilhava das preocupações e princípios pedagógicas da época, ligados ao ideal do desenvolvimento integral da criança. Guiada por esses objectivos, liderou o projecto de criação de um Museu para os mais novos, começando por criar uma colecção de brinquedos, para a qual contou com o apoio e a generosidade de muitos voluntários que ofereceram um interessante espólio. Desse esforço resultou a criação de uma nova secção infantil de Bonecas e Brinquedos, hoje parte relevante das colecções do Museu Carlos Machado.


Também se interessou pelo estudo do folclore e pelos trajes tradicionais dos Açores, organizando e enriquecendo a a Secção de Trajes do Museu. Inspirada nessa colecção, concebeu em 1955 o 


Para além do seu trabalho no Museu, dedicou-se à educação artística, desenvolvendo um importante trabalho de divulgação da pintura e das artes, que incluiu a organização em 1966 de exposição de pintura na biblioteca do Liceu Antero de Quental de Ponta Delgada, incluindo uma grande variedade de trabalhos realizados com intuito pedagógico. Dessa exposição resultou a formação de um Núcleo da Artes Plásticas onde leccionou gratuitamente.

Em colaboração com Rui Galvão de Carvalho produziu uma colecção de ilustrações inspiradas nos sonetos de Antero de Quental, que que em 1988 no Museu Carlos Machado.


Exigente e criteriosa no seu trabalho como pintora, inicialmente seguiu uma fase figurativa, onde as flores assumem um fulgor notável, evoluindo para o abstraccionismo e depois para o simbolismo. Contudo, a parte mais importante da obra pictórica de Maria Luísa Ataíde mescla o abstraccionismo e o simbolismo, em especial na abstracção da paisagem açoriana. Na sua obra não pinta imagens da realidade objectiva, pinta antes imagens do seu mundo.


A sua obra foi exposta individualmente e integrada em exposições conjuntas, com destaque para as exposições realizadas em 1971 e 1972 na Galeria 2 da cidade do Porto, consideradas pela crítica como uma obra plena de modernidade.  Realizou em 1973 no Hotel Lisboa, em Macau, uma importante exposição conjunta com a escultora Luísa Constantina, sua filha.


Em meados da década de 1970 partiu para os Estados Unidos da América, onde leccionou e onde continuou a sua actividade como pintora, realizando diversas exposições, com destaque para as realizadas em 1977 no Bristol Art Museum, de Massachusetts e em 1979 na Washington World Gallery.




domingo, 21 de novembro de 2021

Piratas e o Sargento-mor Amaro Soares de Sousa na ilha de São Jorge Açores



No decorrer da sua história, a ilha foi sujeita a ataques de piratas e corsários, como por exemplo os assaltos às Velas (1589 e 1590) e de piratas da Barbária durante todo o século XVI (dos quais o mais importante registou-se em 1597). Estes últimos promoveram um grande ataque à Calheta em 1599, tendo escravizado habitantes da Fajã de São João em 1625. No século seguinte, a calmaria foi rompida pelo ataque à vila das Velas pelos corsários franceses sob o comando de René Duguay-Trouin (20 de Setembro de 1708), a caminho do Rio de Janeiro. Embora a população tenha resistido durante vinte e quatro horas, não conseguiu, no entanto, evitar o desembarque. Os invasores foram detidos no sítio das Banquetas, impedidos assim de ocuparem e saquearem as povoações vizinhas. Nessa defesa, destacou-se a ação enérgica do Sargento-mor Amaro Soares de Sousa.

Amaro Soares de Sousa nasceu na ilha de São Jorge Açores. Foi um militar português, prestou serviço na Flandres com distinção. Começou a vida militar em 1595, segundo uma carta régia de 15 de Novembro de 1635. Regressou à ilha de São Jorge 1613.

Em 1618 foi nomeado sargento-mor de toda esta ilha de São Jorge e superintendente das fortificações da mesma.

Por alvará de 10 de Julho de 1626 foi-lhe consignado o soldo daquele cargo, sendo nesse documento tratado por Cavaleiro fidalgo.

Exerceu ainda os ofícios de justiça e fazenda por mercê de carta régia e também o de Capitão do donatário da mesma ilha.

Por ocasião da aclamação do rei D. João IV e cerco do Monte Brasil, (Fortaleza de São João Baptista, de Angra do Heroísmo) foi a Angra para dirigir os trabalhos de entrincheiramento e ali se deteve três meses. Renunciou o cargo de sargento-mor da ilha de São Jorge, sendo nomeado nesse cargo em 1648 o seu filho Sebastião de Sousa.

O rei pelos serviços prestados na aclamação confirmou-lhe a data da propriedade dos ofícios que antes tinha por Alvarás de 4 de Novembro de 1643 e 12 de Outubro de 1644.


sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Acontecimentos históricos da freguesia da Terra chã ilha terceira Açores

 

Dois acontecimentos históricos estão na origem dos nomes de dois locais da freguesia: Lugar das Casas Queimadas e Lugar das das Guerrilhas. O primeiro provém do incêndio lançado a uma casa de moradia situada numa quinta no Caminho dos Regatos , então pertencentes a André Machado Lemos, que ali vivia com a sua família. Era o ano de 1828. 

Os miguelistas lutavam contra os constitucionais, apoiantes do Duque de Bragança. Ao dirigir-se para as Doze Ribeiras, um emissário liberal foi atacado por um guerrilheiro que se apoderou da mensagem que aquele levava, vindo a refugiar-se na casa de André Lemos. Sabendo do acontecimento, os anti-miguelistas, de espirito revoltado e sem apurar culpas, incendiaram aquela casa com todo o recheio e os próprios ocupantes. Mas, num rebate de consciência acabaram por salvar a família Machado Lemos. 

A sua casa ficou então conhecida por "Casa Queimada", e daí o nome ao lugar. O segundo local está na origem das guerrilhas que ocorreram na Ilha Terceira, exactamente na Terra Chã, durante a emigração liberal. 

Foi praticada por miguelistas que semearam a intranquilidade e a perturbação nas fileiras inimigas. Ficaram célebres dois guerrilheiros naturais da Terra Chã, "Boi Negro" e o "Rasgado". O Dr. Valadão Júnior chamou à Terra Chã na sequência de tais acontecimentos, o "alfobre de guerrilhas". Por isso, um dos seus lugares tomou o nome de Guerrilhas.


( Cortesia a freguesia da Terra chã )



quarta-feira, 17 de novembro de 2021

A erupção do Pico Vermelho e do Chama na ilha Terceira Açores em 1761

 

No dia 21 de Abril de 1761, quando a erupção do Pico Queimado caminhava para o seu termo, nova erupção surgiu cerca de 5 km a les-nordeste do foco eruptivo inicial, num local chamado Chama ou Mistério Velho. Esta segunda erupção teve carácter marcadamente

fissural, produzindo numa primeira fase um monte de bagacina com cerca de 70 metros de altura em relação aos terrenos vizinhos, do qual eram projectadas grandes pedras e areias basálticas (cinzas) que, conforme a direcção do vento, caíam sobre quase toda a ilha.

Depois desta fase inicial, começou a ser libertado lava basáltica muito quente e fluída, que formou um pequeno lago de lava com cerca de 500 m de comprido, a partir do qual se formaram três escoadas:   uma com cerca de 250 m de comprido e 75 m de largura, que se dirigiu para leste parando no lugar do Chama, por encontrar terreno mais elevado,   uma segunda dirigiu-se para noroeste, percorrendo cerca de 2,5 km, com uma largura aproximada de 75 m, formando o mistério do Tamujal, hoje uma língua de terreno florestado; e   uma longa No dia 21 de Abril de 1761, quando a erupção do Pico Queimado caminhava para o seu termo, nova erupção surgiu cerca de 5 km a les-nordeste do foco eruptivo inicial, num local chamado Chama ou Mistério Velho. Esta segunda erupção teve carácter marcadamente fissural, produzindo numa primeira fase um monte de bagacina com cerca de 70 metros de altura em relação aos terrenos vizinhos, do qual eram projectadas grandes pedras e areias basálticas (cinzas) que, conforme a direcção do vento, caíam sobre quase toda a ilha.


Depois desta fase inicial, começou a ser libertado lava basáltica muito quente e fluída, que formou um pequeno lago de lava com cerca de 500 m de comprido, a partir do qual se formaram três escoadas:   uma com cerca de 250 m de comprido e 75 m de largura, que se dirigiu para leste parando no lugar do Chama, por encontrar terreno mais elevado,   uma segunda dirigiu-se para noroeste, percorrendo cerca de 2,5 km, com uma largura aproximada de 75 m, formando o mistério do Tamujal, hoje uma língua de terreno florestado; e   uma longa escoada que dirigindo-se para norte, em direcção à freguesia dos Biscoitos, percorreu quase 6 km ao longo de terreno muito declivoso, atingindo nalguns lugares mais de 1500 m de largura. Esta escoada dividiu-se em dois ramos, um dos quais destruiu 27 casas na freguesia dos Biscoitos, terminando junto à igreja de São Pedro no lugar denominado Juncalinho. O outro ramo correu até ao lugar do Vimeiro, formado aí um extenso mistério.


A lava emitida desta erupção era tão fluída que corria como água, formando nas zonas mais declivosas camadas com pouco mais de 1 m de espessura. A fluidez da lava permitia que as pessoas se aproximassem, havendo histórias de procissões feitas nos Biscoitos em que os fiéis acendiam archotes na lava incandescente.


O cone formada era assimétrico, tendo uma cratera alongada assente sobre a fissura onde se instalou aberta a norte. O cone maior era de bagacina de cor vermelho vivo, daí o nome de Pico Vermelho, estando neste momento totalmente desmantelado devido à extracção de inertes. Os restantes pequenos cones, formados sobre a fissura, são de bagacina preta, estando também muito desmantelados pela extracção.


Os terrenos cobertos pela escoada estão hoje cobertos por matas e por alguns pomares na zona de mais baixa altitude (Juncalinho e Bairro de São Pedro, na freguesia dos Biscoitos). que dirigindo-se para norte, em direcção à freguesia dos Biscoitos, percorreu quase 6 km ao longo de terreno muito declivoso, atingindo nalguns lugares mais de 1500 m de largura. Esta escoada dividiu-se em dois ramos, um dos quais destruiu 27 casas na freguesia dos Biscoitos, terminando junto à igreja de São Pedro no lugar denominado Juncalinho. O outro ramo correu até ao lugar do Vimeiro, formado aí um extenso mistério.


A lava emitida desta erupção era tão fluída que corria como água, formando nas zonas mais declivosas camadas com pouco mais de 1 m de espessura. A fluidez da lava permitia que as pessoas se aproximassem, havendo histórias de procissões feitas nos Biscoitos em que os fiéis acendiam archotes na lava incandescente.

O cone formada era assimétrico, tendo uma cratera alongada assente sobre a fissura onde se instalou aberta a norte. O cone maior era de bagacina de cor vermelho vivo, daí o nome de Pico Vermelho, estando neste momento totalmente desmantelado devido à extracção de inertes. Os restantes pequenos cones, formados sobre a fissura, são de bagacina preta, estando também muito desmantelados pela extracção.


Os terrenos cobertos pela escoada estão hoje cobertos por matas e por alguns pomares na zona de mais baixa altitude (Juncalinho e Bairro de São Pedro, na freguesia dos Biscoitos).




terça-feira, 16 de novembro de 2021

Portas da Cidade de Ponta Delgada ilha de São Miguel Açores




As Portas de Ponta Delgada localizam-se na freguesia de São Sebastião (antiga Matriz), na cidade e concelho de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, nos Açores.


"Ex libris" da cidade, estas portas são um símbolo da primitiva defesa terrestre da cidade, na costa sudoeste da ilha. Foram erguidas em 1783, primitivamente abertas nos muros do setor este.


Com o início das obras de abertura da Avenida Infante D. Henrique (Avenida Litoral) (1948), foram apeadas e, novamente erguidas, 32 metros para poente, no centro da Praça de Gonçalo Velho (1952).

Encontram-se classificadas como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto nº 39.175, de 17 de abril de 1953.



domingo, 14 de novembro de 2021

Quinta de Nossa Senhora do Rosário na ilha Terceira Açores

 

A Quinta de Nossa Senhora do Rosário é composta por uma propriedade agrícola e por um solar que é pertença da família Barcelos. Localiza-se esta quinta na ilha açoriana da Terceira, concelho de Angra do Heroísmo, freguesia da Terra Chã.


Tem sido durante séculos residência da família Barcelos, tendo sido sujeita a alguns restauros devido aos estragos causado pelo terramoto ocorrido em 1 de Janeiro de 1980.

O solar de que a quinta está dotada apresenta-se com apreciáveis dimensões. Tem um pátio voltado a nascente com jardim onde de destacam plantas exóticas de grande dimensão dada a sua avançada idade. É de mencionar também a capela dedicada a Nossa Senhora do Rosário.


Destaca-se este edifício pelo seu aspecto senhorial de austera fachada e pela implantação da edificação no terreno, aproveitando o espaço disponível.



sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Maria da Luz Gomes, a primeira mulher a usar calças na ilha das Flores Açores



Nasceu na freguesia da Fazenda, concelho de Lajes das Flores, em 30 de Janeiro de 1915, filha de Francisco Coelho Gomes e de Maria do Rosário Gomes, onde residiu parte da sua vida.

Como não aproveitou convenientemente a escola primária, a sua instrução era pouca, mas, o suficiente para desenvolver as suas capacidades intelectuais, graças à sua privilegiada inteligência e à excelente memória.

Figura atípica da ilha das Flores, foi sempre uma trabalhadora incansável, dedicando-se desde muito jovem, quer aos trabalhos domésticos das mulheres, quer aos trabalhos rurais dos homens e, sobretudo, à pesca.

Para além de fumar desde jovem, vestia geralmente roupas de homens – numa altura em que eram poucas as mulheres açorianas que ousavam fazê-lo publicamente. Frequentava qualquer tipo de taberna, bebendo lado-a-lado com os homens, sobretudo depois de se separar do marido. No seu tempo as mulheres, para além de não fumarem, não tomavam bebidas alcoólicas, nem frequentavam cafés e muito menos tabernas.

Dela o escritor faialense, Manuel Greves – que viveu temporariamente nas Flores – para evidenciar a sua força e teimosia, escreveu o seguinte em “Aventuras de Baleeiros”: “E certo é, também, que [o mar] não venceu arrancar de cima dum bico de rocha, numa tarde, as mãos fortes, pegadas a uns músculos rijos, de Maria da Luz, quando andava às lapas, na costa da Fazenda das Lajes das Flores. A corajosa mulher, agarrada ao rochedo, praguejava às vagas violentas que a cercavam:”



“ - Ó alma do diabo! Tu serás mais forte do que eu... mas, não és mais teimoso!...”

“E a Maria salvou-se”.


Foi casada com o fazendense Francisco Rodrigues Azevedo. Do casal nasceram as filhas Jesuína (já falecida), Alzira e Judite, pelo que era ela que, com esmerado zelo e amor, cuidava da sua educação, ao mesmo tempo que se esforçava pela manutenção da vida económica do seu lar. As filhas, depois de casadas, viriam a emigrar para o Canadá, na companhia do pai, onde actualmente residem e onde também existem netos que ela adorava.


Durante a sua vida passou por diversas actividades. De início, quando residia na Fazenda, acumulando com a lida da casa, dedicava-se à actividade rural da agro-pecuária, fazendo-o com o conhecimento e a resistência física de um homem. Com a ajuda do marido, lavrava os seus terrenos, semeava e tratava do milho e das demais culturas agrícolas, ordenhava vacas, transportava às costas lenha e alimentação para os animais, alternando essas trabalhos com a actividade da pesca. Recordo-me que foi ela quem me ensinou a lavrar, no Cerrado Grande, com arado de “aiveca”, numa altura em que, devido à minha juventude, meu pai não tinha paciência para me deixar “dar um reguinho” – orgulho de qualquer jovem rural do meu tempo.


Certamente para facilidade do trabalho que fazia começou a usar calças de homem desde jovem. Por esse motivo dava nas vistas, constando que, por essa razão, chegou a ser detida pela polícia na ilha Terceira, no tempo em que eram proibidos os “travestis” na via pública, valendo-lhe então o Chefe da PSP, António Gonçalves, também ele um florentino natural de Lajes das Flores que muito bem a conhecia.

Nunca a vimos usar saia, salvo no dia da festa religiosa por ela custeada, na freguesia da Fazenda, no cumprimento anual de uma promessa. Vestia-se assim para nesse dia ir à igreja assistir às cerimónias religiosas que nela se realizavam – fazendo-o com o respeito e a devoção que sempre tivera pela religião Católica.



Mais tarde viria a fixar residência na Vila de Baixo, em Lajes das Flores, mesmo junto do Porto, onda se dedicava quase exclusivamente à pesca e à venda de pescado. A lida da casa aborrecia-a, embora por vezes fosse forçada a fazê-la. Para poder ir legalmente para o mar, as autoridades marítimas chegaram a passar-lhe uma cédula pessoal, já que sua actividade piscatória era essencialmente feita por mar, com uma lancha que chegou a possuir.

Discutia com os companheiros de pesca e com quaisquer homens sobre os problemas e as notícias do dia-a-dia, já que era possuidora de um espírito curioso e contraditório, dedicado a todo o género de actualidades.

Geralmente não tinha interesse pelas conversas das mulheres, situação que fazia com que estas lhe respondessem de igual forma. Animava-se com as discussões que mantinha, parecendo provocá-las para aprender e saber mais.


Odiada por uns e tolerada por outros, tinha especial vocação para se envolver em questões judiciais e polémicas. Era também uma grande frequentadora, como assistente, dos julgamentos realizados no Tribunal das Flores. Certamente por esse motivo livrava-se bem das questões judiciais, que gostosamente provocava, defendendo-se nelas com astúcia.

Apesar de ser temida por alguns, pela sua falta de rigor e pelo seu feitio polémico, em certas ocasiões, era, contudo, muito caridosa e prestável para servir os amigos e todos os que dela necessitassem.



quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Hospital Militar da Terra Chã na ilha Terceira Açores

 

O Hospital Militar da Terra Chã (1943-1975) foi uma unidade de saúde militar, inicialmente dependente do Exército Português e depois da Força Aérea Portuguesa. Estava situada na Terra Chã, arredores da cidade de Angra do Heroísmo, nos Açores


A instituição começou a funcionar a 6 de Outubro de 1943, numa estrutura construída frente à igreja paroquial da Terra Chã, destinada a apoiar os militares do Corpo Expedicionário português então estacionados na ilha Terceira e os militares ingleses que então ali desembarcaram. Esse apoio foi estendido aos militares norte-americanos enquanto não dispuseram de instalações sanitárias próprias na Base das Lajes.

Em 1946, com a partida da Força Expedicionária portuguesa e das forças britânicas estacionadas nas Lajes, estas substituídas pelas forças norte-americanas ainda hoje presentes na Base das Lajes, o Hospital Militar da Terra Chã foi transferido para a tutela da Base Aérea n.º 4, recebendo a 9 de Setembro de 1946 a designação de Hospital Militar da BA4 (Terra-Chã), nome que manteve até 13 de Agosto de 1972, quando por força do Decreto-Lei n.º 296/72, de 14 de Agosto,  que reorganizou o Serviço de Saúde da Força Aérea Portuguesa e determinou várias outras providências respeitantes àquele ramo das forças armadas, passou a designar‑se por Núcleo Hospitalar Especializado da Força Aérea n.º 2 (NHEFA2). 

Foi único hospital da Força Aérea Portuguesa no período de 1946 até 1975, ano em que foi extinto pelo Decreto-Lei n.º 525/75, de 25 de Setembro,  e desactivado na sequência da concentração dos serviços de saúde da Força Aérea Portuguesa no Lumiar, Lisboa, onde subsequentemente deram origem ao Hospital da Força Aérea. A partir de meados da década de 1960 o Hospital da Terra-Chã foi utilizado para os militares feridos evacuados dos teatros de operações da Guerra Colonial Portuguesa em África. Passaram pela instituição largas centenas de militares, cuja presença na Terra Chã foi importante na alteração da estrutura social da freguesia.

Pelo seu quadro passaram médicos ilustres que colaboraram também no Hospital de Angra.  Entre esses médicos destacou-se o médico militar Dr. Viriato Garrett, chegado à Terceira em 1941 como alferes miliciano do Exército Português, trabalhou quase em permanência no Hospital desde a sua fundação. A sua actividade como cirurgião foi particularmente intensa a partir de 1957, ano em que ingressou no quadro permanente da FAP, foi promovido a capitão-médico e colocado na BA4, onde permaneceu até ao encerramento da estrutura, da qual foi director a partir de 1966.

Após o fim da actividade hospitalar, o edifício do Hospital Militar serviu de abrigo para refugiados provenientes das colónias portuguesas em África (os retornados), sendo em 1976 entregue ao então recém-fundado Instituto Universitário dos Açores, que ali instalou o seu Departamento de Ciências Agrárias. Com a transformação do Instituto em Universidade dos Açores, o imóvel passou a albergar o Campus de Angra do Heroísmo daquela instituição, situação que se mantém na actualidade, pese embora a mudança progressiva da actividade universitária para o novo campus do Pico da Urze a partir de 2004. O imóvel parece destinado a ser transformado em parque tecnológico associado à Universidade.