Construída em torno de uma pequena calheta, que facilitava o desembarque, sita no fundo de uma enseada relativamente abrigada dos ventos dominantes do oeste, a vila das Lajes terá sido um dos primeiros pontos de povoamento da ilha das Flores. Se descontarmos a tentativa frustrada de fixação, protagonizada pelo aventureiro flamengo Willem van der Hagen na zona da Ribeira da Cruz, mais a norte, o lugar das Lajes terá sido o primeiro a ter habitação permanente, logo a partir da primeira década do século XVI.
Em 1510, já o lugar das Lajes das Flores constituía uma significativa povoação, beneficiando do seu pequeno porto natural, que oferecia excelentes condições de desembarque. Tal justificou que apenas cinco anos mais tarde, em 1515, fosse elevado à categoria de vila, cabeça de um concelho que abrangia todo o sul e oeste da ilha. A vila das Lajes é assim a mais antiga povoação do Grupo Ocidental dos Açores e a primeira a nele ter adquirido a categoria de vila.
Inicialmente, a povoação de Lajes das Flores estendia-se da Ribeira da Silva, no termo da actual freguesia da Lomba, à Fajã Grande, e englobava os lugares de Lajedo, Fajãzinha, Caldeira, Mosteiro, Fajã Grande e Fazenda. Os lugares da costa oeste, com excepção do Lajedo, foram desanexados para formar a paróquia de Nossa Senhora dos Remédios das Fajãs, independente em 1676 e com sede na Fajãzinha. A Fazenda apenas seria desanexada em 1919.
O historiador padre António Cordeiro dá na sua História Insulana, a seguinte descrição:
Daqui para o Norte, está a nobre, & fecunda Villa das Lajes, & já em nada sujeita à Villa de Santa Cruz: consta de muito mais de trezentos fogos, & de duas grandes Companhias, & dous Capitães de ordenança, & hum Capitão mor da Villa, & seu termo; e consta de hua grande rua, & muytas travessas; & tem diante de si para o mar alguns bayxos perigosos aos que quiseram acometer a Villa, & fica já mais de duas legoas do sobredito lugar de São Pedro. A Matriz desta Villa he da invocação de Nossa Senhora do Rosário, com Vigario, & algumas familias nobres, como em seu lugar diremos. (…) Já houve comtudo ocasição (em 25 de Julho de 1587, há quasi cento & trinta annos) que cinco navios Inglezes enganadamente entrarão na Villa das Lajes, & a saquearão, fugindo os moradores para os matos; mas atèagora lhes não succedeo outra, pela vigia que sempre ao diante tiverão: & nem se sabe de fogo, terramoto, peste ou guerra que houvesse nesta Ilha atègora.
O florentino José António Camões, no seu Roteiro Exacto da Costa da Ilha, escrevendo na primeira década do século XIX, afirma que:
… tem aquella Villa o porto a susueste; tem para fora uma baia com ancoradouro de areia. Continuando do dicto porto para sull nascem em uma rocha varias fontes juntas, a que chamão os Canos d’agoa, e que se diz procederem da caldeira funda, como acima fica notado. Continuando, segue-se a sul uma fajã chamada a Fajã de Loppo Vaz, que dizem ser o primeiro que pôs os pés nesta Ilha. Produzindo esta fajã todo o género de comestíveis, tem uma particularidade notavel, que é ficarem as sementes de um ano para o outro em caseiras d’abobora, bogango, melão, melancia, cabaça, etc. e no anno seguinte, sem nova cultura, produzes como as que tivessem sido cultivadas. Há nesta Fajã um pequeno porto muito ridículo, chamado o porto de Inglez. (…) Começa, como acaba de dizer-se o destricto da Villa das Lajens, na ribeira do Fundão ou dos Ladroens, e continuando para o Sul, em distancia pouco mais ou menos de meia legua havia antigamente uma povoaçãozinha só com 2 fogos chamada a Ribeira da Lapa, que já hoje está deserta. (…) Seo Orago é Nossa Senhora do Rozario, com Vigario que tem de ordenado 7 moios, 4 alqueires de trigo e 8$000 réis. Tem mais, a capela dos Castelhanos edificada em 1741, etc.. Há nesta Villa 75 fogos em que residem 486 almas, a saber 240 homens e 246 mulheres. Tem 35 casas de telha e 17 homens calçados. Tem 2 companhias de ordenança. A 1ª formada na Villa, Monte e Morros, com 1 capitão, 1 alferes, 2 tenentes, que foram de fortes, dois sargentos e 170 soldados, a 2ª formada na Fazenda, Lajedo e Mosteiro, com 1 capitão, 1 alferes, 1 tenente, 3 sargentos e 147 soldados, a saber, 77 na Fazenda, 36 no Lajedo e Costa, e 34 no Mosteiro e Caldeira. Tem um castello no porto da Villa com casa e guarda e 9 peças, e mais 2 fortes, um delles em um cerrado sobre uma rocha, sem casa, e 1 peça.
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