quarta-feira, 29 de janeiro de 2020
Manuel José do Conde primeiro e único visconde do Rosário
Manuel José do Conde (Guadalupe, 5 de Abril de 1817 — Londres, 6 de Junho de 1897), primeiro e único visconde do Rosário, foi um emigrante açoriano, oriundo da ilha Graciosa, que enriqueceu no Brasil. Tendo começada a vida como padeiro em Salvador (Bahia), conseguiu criar um grande empório comercial que se traduziu numa grande fortuna. Elevado a visconde do Rosário em 1875, acabou por se fixar em Lisboa, onde se ligou às melhores famílias da aristocracia portuguesa. Nunca esqueceu as suas origens, sendo um dos grandes beneméritos da ilha Graciosa, contribuindo generosamente para a Santa Casa da Misericórdia de Santa Cruz e construindo e equipando, à sua custa, uma escola no seu lugar natal da Vitória, Guadalupe, cujo professor pagava.
Manuel José do Conde nasceu no lugar da Vitória, freguesia do Guadalupe, ilha Graciosa, filho mais velho de Teodósio José do Conde e de sua mulher, Maria de Melo Pacheco. Os pais, um casal de pequenos agricultores, teria outros 5 filhos, vivendo uma vida de grande pobreza.
Em 1835, com 18 anos de idade, Manuel José abandonou a ilha clandestinamente, com destino ao Brasil, financiando a viagem, reza a tradição, com a venda de um jumento que possuía.
Não existindo qualquer registo de que lhe tenha sido emitido passaporte, terá saído ilegalmente da ilha e entrado clandestinamente no Brasil. Apenas se sabe que a 3 de Julho de 1838 se apresentou no Consulado de Portugal na Bahia, indocumentado e em situação ilegal, solicitando um passaporte, para o que teve de apresentar abonadores que fizessem prova da sua identidade e naturalidade. Na altura declarou que era padeiro em Salvador, residindo nas Portas da Ribeira. No documento é descrito como de baixa estatura, cabelos louros e olhos claros.
Legalizada a sua situação no Brasil, subiu o vale do rio Paraguaçu, fixando-se na povoação ribeirinha de São Félix onde se empregou numa padaria, propriedade de um dos mais influentes comerciantes locais. No ano seguinte, em 1839, mudou-se para Cachoeira, na margem oposta do rio, povoado que se começava a afirmar como um ponto estratégico no comércio com o interior da região. Naquela cidade montou, aparentemente com o apoio do ex-patrão de São Félix, uma padaria na Rua de Baixo (hoje Rua 13 de Maio), iniciando, apesar de ser analfabeto, um negócio por conta própria.
Por não saber ler, precisou da assistência de uma jovem, filha (ao que parece ilegítima) do ex-patrão, de nome Eufrosina Ermelinda do Nascimento, com a qual por meados da década de 1840 passou a viver maritalmente. Era Eufrosina quem lia a escrita da empresa e mantinha a correspondência, ao mesmo tempo que foi ensinando Manuel a ler e escrever. Em 1848 tiveram o primeiro dos cinco filhos do casal, e em 1857, já a fixados em Salvador, finalmente casaram.
Eufrosina Ermelinda do Nascimento nascera a 25 de Dezembro de 1828 em Santana, Salvador, registada como filha de Maria Clementina Silva Pimentel e de pai incógnito. Teria ascendência africana e portuguesa.
Entretanto, Manuel José do Conde foi expandindo os seus negócios, passando primeiro por comerciar farinhas, actividade que manteria durante toda a sua vida, mas alargando depois a sua actividade aos negócios de importação e exportação e aos couros. Em 1851 terá visitado a Europa, aparentemente numa viagem de prospecção comercial. Pela mesma altura adquiriu uma ilha no rio Paraguaçu, frente a Cachoeira, hoje denominada ilha da Mata-Onça, onde construiu armazéns.
Já com investimentos significativos em Salvador, em 1853, a família muda-se para aquela cidade, fazendo dela o centro dos seus negócios. Pouco depois, Manuel José já comerciava com Portugal e os Estados Unidos da América e tinha o seu próprio brigue, o Conde, que usava para transportar açúcar e couros para Lisboa, trazendo de volta a Salvador trigo e farinha. Fez-se também accionista de alguns bancos e seguradoras, entrando nos circuitos do grande capital.
A família fixou-se junto à igreja do Rosário, que daria depois o nome ao título do visconde, na zona que hoje é atravessada pela Avenida Sete de Setembro, adquirindo progressivamente múltiplos prédios na vizinhança e alguns armazéns com um molhe anexo (os trapiches) que usava na sua actividade comercial.
Subindo na escala social, a 8 de Janeiro de 1864 foi admitido como irmão da Santa Casa da Misericórdia de Salvador, pagando 100$000 réis, e a 6 de Setembro de 1866 foi feito comendador da Ordem da Rosa.
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