Nasceu na freguesia da Fazenda, concelho de Lajes das Flores, em 30 de Janeiro de 1915, filha de Francisco Coelho Gomes e de Maria do Rosário Gomes, onde residiu parte da sua vida.
Como não aproveitou convenientemente a escola primária, a sua instrução era pouca, mas, o suficiente para desenvolver as suas capacidades intelectuais, graças à sua privilegiada inteligência e à excelente memória.
Figura atípica da ilha das Flores, foi sempre uma trabalhadora incansável, dedicando-se desde muito jovem, quer aos trabalhos domésticos das mulheres, quer aos trabalhos rurais dos homens e, sobretudo, à pesca.
Para além de fumar desde jovem, vestia geralmente roupas de homens – numa altura em que eram poucas as mulheres açorianas que ousavam fazê-lo publicamente. Frequentava qualquer tipo de taberna, bebendo lado-a-lado com os homens, sobretudo depois de se separar do marido. No seu tempo as mulheres, para além de não fumarem, não tomavam bebidas alcoólicas, nem frequentavam cafés e muito menos tabernas.
Dela o escritor faialense, Manuel Greves – que viveu temporariamente nas Flores – para evidenciar a sua força e teimosia, escreveu o seguinte em “Aventuras de Baleeiros”: “E certo é, também, que [o mar] não venceu arrancar de cima dum bico de rocha, numa tarde, as mãos fortes, pegadas a uns músculos rijos, de Maria da Luz, quando andava às lapas, na costa da Fazenda das Lajes das Flores. A corajosa mulher, agarrada ao rochedo, praguejava às vagas violentas que a cercavam:”
“ - Ó alma do diabo! Tu serás mais forte do que eu... mas, não és mais teimoso!...”
“E a Maria salvou-se”.
Foi casada com o fazendense Francisco Rodrigues Azevedo. Do casal nasceram as filhas Jesuína (já falecida), Alzira e Judite, pelo que era ela que, com esmerado zelo e amor, cuidava da sua educação, ao mesmo tempo que se esforçava pela manutenção da vida económica do seu lar. As filhas, depois de casadas, viriam a emigrar para o Canadá, na companhia do pai, onde actualmente residem e onde também existem netos que ela adorava.
Durante a sua vida passou por diversas actividades. De início, quando residia na Fazenda, acumulando com a lida da casa, dedicava-se à actividade rural da agro-pecuária, fazendo-o com o conhecimento e a resistência física de um homem. Com a ajuda do marido, lavrava os seus terrenos, semeava e tratava do milho e das demais culturas agrícolas, ordenhava vacas, transportava às costas lenha e alimentação para os animais, alternando essas trabalhos com a actividade da pesca. Recordo-me que foi ela quem me ensinou a lavrar, no Cerrado Grande, com arado de “aiveca”, numa altura em que, devido à minha juventude, meu pai não tinha paciência para me deixar “dar um reguinho” – orgulho de qualquer jovem rural do meu tempo.
Certamente para facilidade do trabalho que fazia começou a usar calças de homem desde jovem. Por esse motivo dava nas vistas, constando que, por essa razão, chegou a ser detida pela polícia na ilha Terceira, no tempo em que eram proibidos os “travestis” na via pública, valendo-lhe então o Chefe da PSP, António Gonçalves, também ele um florentino natural de Lajes das Flores que muito bem a conhecia.
Nunca a vimos usar saia, salvo no dia da festa religiosa por ela custeada, na freguesia da Fazenda, no cumprimento anual de uma promessa. Vestia-se assim para nesse dia ir à igreja assistir às cerimónias religiosas que nela se realizavam – fazendo-o com o respeito e a devoção que sempre tivera pela religião Católica.
Mais tarde viria a fixar residência na Vila de Baixo, em Lajes das Flores, mesmo junto do Porto, onda se dedicava quase exclusivamente à pesca e à venda de pescado. A lida da casa aborrecia-a, embora por vezes fosse forçada a fazê-la. Para poder ir legalmente para o mar, as autoridades marítimas chegaram a passar-lhe uma cédula pessoal, já que sua actividade piscatória era essencialmente feita por mar, com uma lancha que chegou a possuir.
Discutia com os companheiros de pesca e com quaisquer homens sobre os problemas e as notícias do dia-a-dia, já que era possuidora de um espírito curioso e contraditório, dedicado a todo o género de actualidades.
Geralmente não tinha interesse pelas conversas das mulheres, situação que fazia com que estas lhe respondessem de igual forma. Animava-se com as discussões que mantinha, parecendo provocá-las para aprender e saber mais.
Odiada por uns e tolerada por outros, tinha especial vocação para se envolver em questões judiciais e polémicas. Era também uma grande frequentadora, como assistente, dos julgamentos realizados no Tribunal das Flores. Certamente por esse motivo livrava-se bem das questões judiciais, que gostosamente provocava, defendendo-se nelas com astúcia.
Apesar de ser temida por alguns, pela sua falta de rigor e pelo seu feitio polémico, em certas ocasiões, era, contudo, muito caridosa e prestável para servir os amigos e todos os que dela necessitassem.
sábado, 24 de novembro de 2018
quinta-feira, 22 de novembro de 2018
Antero de Quental
Antero Tarquínio de Quental nasceu em Ponta Delgada, 18 de Abril de 1842 e faleceu em Ponta Delgada, 11 de Setembro de 1891 , foi um escritor e poeta português do século XIX que teve um papel importante no movimento da Geração de 70.
Nascido na Ilha de São Miguel, Açores, filho do combatente liberal Fernando de Quental (Solar do Ramalho - do qual mandou tirar a pedra de armas da família -, 10 de maio de 1814 - Ponta Delgada, Matriz, 7 de Março de 1873) e de sua mulher Ana Guilhermina da Maia (Setúbal, 16 de Julho
de 1811 - Lisboa, 28 de Novembro de 1876). O casal teve sete filhos, sendo Antero o quarto, numa família onde proliferavam as mortes prematuras e a loucura.
Durante a sua vida, Antero de Quental dedicou-se à poesia, à filosofia e à política. Deu início aos seus estudos na cidade natal, mudando-se para Coimbra aos 16 anos, ali estudando Direito e manifestando as primeiras ideias socialistas. Fundou em Coimbra a Sociedade do Raio, que pretendia renovar o país pela literatura.
Em 1861, publicou os seus primeiros sonetos. Quatro anos depois, publicou as Odes Modernas, influenciadas pelo socialismo experimental de Proudhon, enaltecendo a revolução. Nesse mesmo ano iniciou a Questão Coimbrã, em que Antero e outros poetas foram atacados por António Feliciano de Castilho, por instigarem a revolução intelectual. Como resposta, Antero publicou os opúsculo Bom Senso e Bom Gosto, carta ao Exmo. Sr. António Feliciano de Castilho, e A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais.
Ainda em 1866 mudou-se para Lisboa, onde experimentou a vida de operário, trabalhando como tipógrafo, profissão que exerceu também em Paris, entre Janeiro e Fevereiro de 1867.
Em 1868 regressou a Lisboa, onde formou o Cenáculo, de que fizeram parte, entre outros, Eça de Queirós, Abílio de Guerra Junqueiro e Ramalho Ortigão.
Foi um dos fundadores do Partido Socialista Português.
Nascido na Ilha de São Miguel, Açores, filho do combatente liberal Fernando de Quental (Solar do Ramalho - do qual mandou tirar a pedra de armas da família -, 10 de maio de 1814 - Ponta Delgada, Matriz, 7 de Março de 1873) e de sua mulher Ana Guilhermina da Maia (Setúbal, 16 de Julho
de 1811 - Lisboa, 28 de Novembro de 1876). O casal teve sete filhos, sendo Antero o quarto, numa família onde proliferavam as mortes prematuras e a loucura.
Durante a sua vida, Antero de Quental dedicou-se à poesia, à filosofia e à política. Deu início aos seus estudos na cidade natal, mudando-se para Coimbra aos 16 anos, ali estudando Direito e manifestando as primeiras ideias socialistas. Fundou em Coimbra a Sociedade do Raio, que pretendia renovar o país pela literatura.
Em 1861, publicou os seus primeiros sonetos. Quatro anos depois, publicou as Odes Modernas, influenciadas pelo socialismo experimental de Proudhon, enaltecendo a revolução. Nesse mesmo ano iniciou a Questão Coimbrã, em que Antero e outros poetas foram atacados por António Feliciano de Castilho, por instigarem a revolução intelectual. Como resposta, Antero publicou os opúsculo Bom Senso e Bom Gosto, carta ao Exmo. Sr. António Feliciano de Castilho, e A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais.
Ainda em 1866 mudou-se para Lisboa, onde experimentou a vida de operário, trabalhando como tipógrafo, profissão que exerceu também em Paris, entre Janeiro e Fevereiro de 1867.
Em 1868 regressou a Lisboa, onde formou o Cenáculo, de que fizeram parte, entre outros, Eça de Queirós, Abílio de Guerra Junqueiro e Ramalho Ortigão.
Foi um dos fundadores do Partido Socialista Português.
terça-feira, 20 de novembro de 2018
José da Lata - "O sol " (Recolha 1952) tradicional da Terceira-Açores
José Martins Pereira (Cinco Ribeiras, 6 de Janeiro de 1898 — Terra Chã, 10 de Fevereiro de 1965), mais conhecido por José da Lata, foi um pastor de gado bravo, manobrador de touros nas corridas à corda, que se notabilizou como cantador e improvisador popular. Uma das personalidades que mais marcaram a cultura popular da ilha Terceira no século XX, era um extraordinário animador de festas populares, particularmente como cantador de Reises e do Rancho de matança, peças típicas do folclore terceirense, e como tocador de viola-da-terra.
José da Lata foi uma figura típica da freguesia da Terra Chã, pois apesar de nascido na freguesia de Nossa Senhora do Pilar, viveu a maior parte da sua vida naquela freguesia, no Caminhoo para Belém, em frente da Canada dos Folhadais.
domingo, 18 de novembro de 2018
Lília Cabral
Lília Cabral Bertolli Figueiredo nasceu em São Paulo, 13 de Julho de 1957 é uma actriz brasileira. Foi indicada duas vezes ao Prêmio Emmy Internacional de Melhor Actriz.
Lília é brasileira, filha de pai italiano (Gino Bertolli) e mãe portuguesa (Almedina Cabral, natural de São Miguel, Arquipélago dos Açores). Sua mãe faleceu quando Lília tinha por volta dos 20 anos de idade, antes de ela começar a actuar na TV, fato que lamenta bastante, já que esta nunca teve a oportunidade de vê-la trabalhar como actriz.
O seu primeiro casamento foi aos 29 anos de idade, com o cineasta João Henrique Jardim, matrimonio este que durou 7 anos. É casada desde 1994 com o economista Iwan Figueiredo, pai de sua única filha, Giulia, que nasceu quando Lília tinha 39 anos.
É formada pela Escola de Arte Dramática na turma de 1978, actuando nos espectáculos teatais Marat-Sade, Divinas Palavras, Estado de Sitio e o O Bordel. Começou a sua carreira no teatro, com a peça Feliz Ano Velho, baseada num livro de Marcelo Rubens Paiva. Estreou na televisão, em 1981, com a novela Os Adolescentes, escrita por Ivani Ribeiro e produzida pela Rede Bandeirantes. Em 1984, transferiu-se para a Rede Globo para atuar em Corpo a Corpo, de Gilberto Braga. Um fato curioso é que desde então não ficou um ano sequer fora da teleEm 1988, actuou em Vale Tudo, de Gilberto Braga e Aguinaldo Silva, no papel da secretária Aldeíde Candeias, que sofria nas mãos do patrão Marco Aurélio (Reginaldo Faria). Em 1989, viveu a beata Amorzinho no grande sucesso de Aguinaldo Silva Tieta. Em 1995, participou em História de Amor, como a neurótica Sheila, ex-esposa do médico e protagonista da história, Carlos (José Mayer). Depois, em 1997, participou em Anjo Mau, como Goreti, interpretou Verena na telenovela Meu Bem Querer e, em 1999, foi a mãe de Tati, protagonista da primeira temporada de Malhação.
Em 2000 actuou na novela Laços de Família, como Ingrid, mulher do interior que se muda para a cidade e morre num assalto. Em 2001, viveu Daphne em Estrela-Guia e, no ano seguinte, apareceu em Sabor da Paixão, como Edith. Em 2003, participou de Chocolate com Pimenta, como a vilã cómica Bárbara. Posteriormente, integrou o elenco de Começar de Novo, como Aída, dona de um famoso spa. Em 2006, foi a antagonista de Páginas da Vida, por cuja actuação recebeu o Troféu Imprensa de melhor actriz daquele ano e foi também indicada ao Emmy Internacional de 2007, na categoria de melhor actriz. Contudo, perdeu a estatueta para a actriz francesa Muriel Robin, pela sua participação em Marie Besnard - The Poisoner. Em 2008, viveu Catarina, na novela A Favorita, de João Emanuel Carneiro. Em 2009 estreou o filme Divã, no qual interpretou a protagonista Mercedes. Posteriormente, viveu a ex-modelo Teresa, em Viver a Vida. Em 2011 actuou em Fina Estampa, onde interpretou sua protagonista no horário nobre, Griselda Pereira "Pereirão".
sexta-feira, 16 de novembro de 2018
Judeus na ilha Terceira
A Sinagoga Ets Haim (possível tradução: "Árvore da Vida") localizava-se no centro histórico de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, nos Açores.
Fundada na segunda metade do século XIX, a sua história está ligada à vida e obra do comerciante judeu Mimom ben Abraham Abohbot, que foi seu fundador, nela tendo exercido as funções de oficiante e mestre de religião. Foi instalada na sua residência, inaugurada quando este obteve emprestada uma torah pertencente ao rabino Judah Azagury, que saiu dos Açores para ir viver em Lisboa.
Em consequência das difusão das ideias liberais em Portugal, diversas famílias hebraicas que viviam no Marrocos, muitas de ascendência portuguesa (sefardita), passaram a dirigir-se a Portugal, nomeadamente para o Algarve e os Açores, onde se instalaram a partir da década de 1820. Esta vaga migratória era constituída por indivíduos que se assumiam como cidadãos britânicos embora, mais tarde, tomasse a nacionalidade portuguesa.
A monarquia liberal portuguesa permitiu em sua Constituição a existência de cultos religiosos diversos, embora mantendo o catolicismo como religião oficial do Estado. Isso levou, por exemplo, a que as sinagogas não tivessem autorização para comunicar directamente com a via pública, devendo existir um pátio ou zona intermediária de ligação.
Entre os sobre nomes representativos das famílias judaicas em Angra do Heroísmo, incluem-se:
Abohbot
Athias
Baroche
Benarus
Ben Ayon
Benithé (ou Benitarre)
Benjamim
Ben-Sabat (ou Bensabat)
Benzaquim
Bozaglo
Cohen
Hanon
Levy
Sabag
Seriqui
Zagori
Mimom Abohbot era um judeu sefardita nascido no Mogador. Era filho de Abraham Abohbot e Raquel Abohbot e foi educado nos estudos e teologia hebraicos. Não se sabe a data de sua chegada aos Açores ou a Angra, mas o historiador Pedro de Merelim, a primeira referência a seu respeito data de 5 de Março de 1827, no Livro da Porta da Capitania Geral dos Açores.
Desposou, em 1833, em Londres, Elisabeth Davis Abohbot, por contrato hebraico, em língua hebraica, o qual está no livro de registos da sinagoga "Porta do Céu".
Em 1835, aproveitou a venda em hasta pública de bens nacionais dos conventos extintos em 1834, e adquiriu o imóvel do antigo Convento da Esperança, à esquina da rua da Sé com a rua da Esperança, onde actualmente se encontram as instalações do RIAC e a loja da TAP. Remodelou e reconstituiu este antigo edifício, dando-lhe o aspecto que hoje conserva, e onde fixou residência. Posteriormente, em 1857, adquiriu uma quinta na Canada dos Folhadais.
Na Terceira tornou-se comerciante de projecção, com estabelecimentos em Angra, vendendo a crédito e emprestando dinheiro a juros. Exportou ainda laranjas para a Grã-Bretanha. Os periódicos da época e as referências públicas mostram-no como uma figura socialmente respeitável, não apenas entre a comunidade judaica, mas em toda a cidade.
Faleceu em Angra do Heroísmo a 21 de Julho de 1875, "rezando psalmos de David", sendo sepultado no Campo da Igualdade, no Caminho Novo, na mesma cidade.
quarta-feira, 14 de novembro de 2018
Brianda Pereira
Brianda Pereira nasceu no Porto Judeu, c. 1550 — Jurisdição do extinto Concelho da Vila de São Sebastião, c. 1620 foi uma mulher açoriana elevada pela historiografia da Batalha da Salga e dos acontecimentos que a rodearam ao papel de heroína da resistência da ilha Terceira contra Filipe II de Espanha.
Brianda Pereira nasceu provavelmente na cidade de Angra ou alternativamente no Porto Judeu então Concelho da da Vila de São Sebastião, conforme a tradição popular, filha de Álvaro Anes de Alenquer e de Maria Pereira de Sousa. O pai foi juiz ordinário da Câmara de Angra em 1553 e descendia de Pero Anes de Alenquer, um dos primeiros colonos da ilha Terceira e, tal como a mãe, tinha ascendentes nobres.
Casou com Bartolomeu Lourenço, indo residir para o vale da Salga, na zona litoral do Porto Judeu na Jurisdição do extinto Concelho da vila de São Sebastião, onde o casal era dono de terras e tinha uma abastada casa agrícola. Residiam nesse local quando a 25 de Julho de 1581, no contexto da luta entre partidários de Filipe II de Espanha e de D. António I de Portugal, se travou na baía da Salga, em cuja arriba se situava a casa do casal, a batalha da Salga.
A batalha iniciou-se pelo desembarque de uma força espanhola que de imediato incendiou as searas e as casas existentes nas imediações, entre as quais muito provavelmente a de Brianda Pereira, aprisionando os homens que encontrou. Entre os prisioneiros figurava Bartolomeu Lourenço, que se encontraria ferido.
segunda-feira, 12 de novembro de 2018
Casa do Castelhano
Esta casa foi moradia do Capitão Pedro de Mendonça que foi o comandante de uma companhia militar na então ainda Vila da Praia e actual cidade da Praia da Vitória durante as lutas da Restauração de 1641.
A Casa do Castelhano ou Casa do Espanhol como também é conhecida é uma casa histórica
portuguesa que foi edificada junto ao mar no local denominado Caldeira das Lajes, freguesia das Lajes, concelho da Praia da Vitória, nos princípios do Século XVI. Faz parte da Lista de património edificado nos Açores e da Lista dos imóveis classificados no concelho da Praia da Vitória por Resolução nº 140/2001, de 4 de Outubro do Governo Regional dos Açores.
Trata-se de um edifício único pelas suas características especificas a nível dos sistemas construtivos tendo em atenção a data da sua edificação e também pela própria paisagem ambiente que o envolve. Trata-se de uma casa ensolarada, nobre, construída com belas cantarias de grande porte, edificada sobre colunas e arcos no piso térreo, denunciando uma arquitectura e gosto mourisco.
Na parte da frente da casa eleva-se uma escadaria em pedra basáltica de boa qualidade que dá acesso a uma varanda aberta e sustentada por uma galeria formada por arcos de volta perfeita dispostos em duas direcções. A ela liga-se o corpo do edifício de planta quadrada com dois alinhamentos de quatro arcos cada um, dispostos em cruz. Esta varanda estende-se ao longo de todo o andar superior dando assim aceso à parte nobre da moradia.
É esta casa ainda detentora de uma cisterna e de um forno de grande dimensão para cosedura de pão, que além dessa função era no mundo rural utilizado para a secagem de cereais, particularmente de milho. Sendo que um forno e uma cisterna eram considerados indispensáveis numa habitação do mundo rural do Século XVII.
A forma, dimensão e apresentação dos arcos dá-nos uma espessura das paredes, de um côvado (0,66 m), e são semelhantes aos de restantes elementos estruturais dessa época, existentes na cidade de Angra do Heroísmo a mais de 25 quilómetros de distância.
A simetria e volumétrica longitudinal só é quebrada pela presença do maciço forno que se encontra agregado à cozinha de cunho quase medieval.
No andar superior a varanda é larga e dá acesso a dois de quatro compartimentos, todos iguais e dispostos em cruz com chão em estrutura de madeira com traves apoiadas em cachorros. Os tectos são em caixotão.
O trabalho aplicado às cantarias, vãos, cimalhas e restantes elementos estruturais são determinantes para fixar a época da construção no Século XVII.
Os vãos interiores apresentam-se com vergas de pedra, ligeiramente sutadas e arredondadas na concordância com as ombreiras, tendo um rasgo em bico em toda a espessura, a meio vão, que constitui um remanescente decorativo dos bicos dos arcos em querena, comuns no estilo gótico. Estas peças de arquitectura são iguais a outras peças que se encontram no Solar do Provedor das Armadas.
Outros dos vãos são sutados nas esquinas das ombreiras, os cachorros de apoio das traves e a consola dupla em gomo que sustenta a soleira do lar do forno, são dispositivos construtivos comuns nas raras obras sobreviventes executadas anteriormente ao Século XVIII.
As particularidades estruturais mais relevantes mostram-se em projecção isométrica aplicada na escala de 1:100.
Sendo que ainda existem peças raras actualmente, como são o caso de um o talhão da água, uma maçaria de pedra, um canal de despejo, o forno na cozinha e a moenda manual. Sendo que é também de grande importância não apenas decorativas mas de raridade arquitectónica os tectos de caixotão das copeiras e dos pavimentos tradicionais.
Foi esta casa detentora de uma capela dedicada a Nossa Senhora da Luz de que só restam vestígios não se sabendo qual a razão do seu desaparecimento sendo que a casa resistiu a dois grandes terramotos ocorridos nos anos de 1841 e 1980.
sábado, 10 de novembro de 2018
General Francisco Maria da Cunha nasceu na ilha Terceira Açores
O General Francisco Maria da Cunha, que foi o primeiro ajudante de campo e chefe da casa militar de El-Rei D. Carlos I, nasceu na ilha Terceira no dia 22 de Dezembro de 1832, em meio desse período agitadíssimo na nação, em que os liberais triunfam sobre o absolutismo agonizante, cujos golpes mortais se talharam nas praias e nas rochas da Terceira que lhe embalará o berço.
Foi, o general Cunha, do conselho de Sua Majestade Fidelíssima, grã-cruz e comendador da ordem de São Bento de Aviz, comendador das ordens da Torre e Espada e Nosso Senhor Jesus Cristo, grã-cruz e comendador das ordens de Isabel a católica e do Mérito Militar de Espanha, cavaleiro da ordem de Carlos III, também de Espanha, grã-cruz e comendador da ordem da Estrela Brilhante, condecorado com as medalhas de ouro do comportamento exemplar e de serviços no Ultramar, com a de prata de bons serviços e com a de cobre para galardoar os serviços prestados pelos sócios da associação de socorros a náufragos; general da divisão dos quadros de reserva; 1.º Ajudante de campo e chefe da casa militar de El-Rei D. Carlos I; par do reino, ministro de estado honorário, etc.
É filho de general Francisco Jaques da Cunha e D. Maria Cândida de França e Horta.
O general Francisco Maria da Cunha exerceu em Portugal os mais elevados cargos que podia aspirar a sua capacidade intelectual e moral, e tão recentemente que todos dele conservam recordação.
domingo, 4 de novembro de 2018
Lenda da descoberta da ilha de Santa Maria
A lenda da descoberta da ilha de Santa Maria é um das lendas tradicionais da ilha de Santa Maria, nos Açores. Constitui-se em um dos muitos mitos que envolvem os descobrimentos portugueses do século XV.
A lenda passa-se à época do Infante D. Henrique, fundador da mítica Escola Náutica de Sagres. De acordo com ela, Gonçalo Velho Cabral, marinheiro do Infante, frade devoto da "Nossa Senhora", por ordem daquele fez-se ao mar numa caravela, fazendo uma promessa à Virgem de dar o nome dela à primeira terra que encontrasse no "mar Oceano".
As viagens marítimas dos descobrimentos eram geralmente difíceis, demoradas e imprevisíveis. Os marinheiros dependiam do vigia, no alto cesto da gávea quase na ponta de um mastro, para olhar o horizonte, desde o raiar da madrugada até ao anoitecer e tentar descobrir terra.
Gonçalo Velho esquadrinhava os mapas, anotava as correntes e rezava. Passaram-se calmarias e tempestades, noites e dias, meses... Foi então que num dia de Verão, no dia de Nossa Senhora em Agosto, amanheceu um dia claro, suave, de céu limpo. A vista alcançava grandes distâncias.
Na linha do horizonte foi surgindo uma nuvem, que foi se agigantando, ganhando forma e nitidez. A dada altura o gajeiro já não tinha mais dúvidas e gritou: "Terra à vista!". Gonçalo Velho Cabral e a restante marinhagem começavam o dia, como era hábito nessas alturas, com orações a Deus e a Nossa Senhora para que os ajudasse a encontrar terras novas. Estavam a rezar a "Ave Maria", e nesse preciso momento pronunciavam "Santa Maria".
Gonçalo Velho considerou que se tratava de um milagre de Nossa Senhora a lembrar-lhe a promessa que tinha feito. Esta era a primeira ilha descoberta nos Açores, a "ilha mãe", que recebeu de imediato o nome de ilha de Santa Maria.
Segundo a lenda, esta fé de Gonçalo Velho perpetuou-se no local, onde ainda se mantém grande devoção em Nossa Senhora, festejada efusivamente no mês de Agosto de cada ano.
A lenda passa-se à época do Infante D. Henrique, fundador da mítica Escola Náutica de Sagres. De acordo com ela, Gonçalo Velho Cabral, marinheiro do Infante, frade devoto da "Nossa Senhora", por ordem daquele fez-se ao mar numa caravela, fazendo uma promessa à Virgem de dar o nome dela à primeira terra que encontrasse no "mar Oceano".
As viagens marítimas dos descobrimentos eram geralmente difíceis, demoradas e imprevisíveis. Os marinheiros dependiam do vigia, no alto cesto da gávea quase na ponta de um mastro, para olhar o horizonte, desde o raiar da madrugada até ao anoitecer e tentar descobrir terra.
Gonçalo Velho esquadrinhava os mapas, anotava as correntes e rezava. Passaram-se calmarias e tempestades, noites e dias, meses... Foi então que num dia de Verão, no dia de Nossa Senhora em Agosto, amanheceu um dia claro, suave, de céu limpo. A vista alcançava grandes distâncias.
Na linha do horizonte foi surgindo uma nuvem, que foi se agigantando, ganhando forma e nitidez. A dada altura o gajeiro já não tinha mais dúvidas e gritou: "Terra à vista!". Gonçalo Velho Cabral e a restante marinhagem começavam o dia, como era hábito nessas alturas, com orações a Deus e a Nossa Senhora para que os ajudasse a encontrar terras novas. Estavam a rezar a "Ave Maria", e nesse preciso momento pronunciavam "Santa Maria".
Gonçalo Velho considerou que se tratava de um milagre de Nossa Senhora a lembrar-lhe a promessa que tinha feito. Esta era a primeira ilha descoberta nos Açores, a "ilha mãe", que recebeu de imediato o nome de ilha de Santa Maria.
Segundo a lenda, esta fé de Gonçalo Velho perpetuou-se no local, onde ainda se mantém grande devoção em Nossa Senhora, festejada efusivamente no mês de Agosto de cada ano.
sexta-feira, 2 de novembro de 2018
Gervásio Lima
Gervásio da Silva Lima nasceu na Praia da Vitória, 26 de Março de 1876 — e faleceu em Angra do Heroísmo, 24 de Fevereiro de 1945 , mais conhecido por Gervásio Lima, foi um prolífico escritor açoriano com uma obra em prosa e em verso que inclui contos, teatro e ensaios nas áreas da etnografia e da história. No campo da história não foi um investigador preocupado com o rigor científico dos temas tratados, antes escrevendo obras de pendor romântico, reveladoras do seu patriotismo e amor à terra em que nasceu, nas quais deu alma e corpo a heróis terceirenses, transformando-os em verdadeiros mitos populares. A ele se deve a mistificação
em torno das heroínas Brianda Pereira e Violante do Canto e o alpendurar da batalha da Salga em evento de extraordinária heroicidade.
Gervásio Lima perdeu o pai aos 5 meses de idade. Em consequência viu-se forçado a ingressar cedo no mundo do trabalho, empregando-se imediatamente após a conclusão dos estudos primários. Foi assim essencialmente um autodidacta, desenvolvendo desde cedo, e sem frequentar qualquer escola, uma escrita cuidada e erudita e um notável acervo de conhecimentos sobre a historiografia local.
Residiu até 1914 na então vila da Praia da Vitória, ali fundando e dirigindo os periódicos o Cartão (1903), A Primavera (1905), e O Imparcial (1907-1913). Com a publicação destes jornais e com o início da sua produção escrita, foi ganhando notoriedade no meio intelectual da ilha, o que lhe valeu ser contratado para o lugar de ajudante de bibliotecário na Biblioteca Municipal de Angra.
Em consequência, fixou-se em Angra do Heroísmo e iniciou uma carreira de 31 anos de trabalho como bibliotecário adjunto (até 1917) e depois como bibliotecário (de 1917 a 1945), o que lhe permitiu acesso permanente aos arquivos municipais e às obras existentes na Biblioteca Municipal. Naquela biblioteca procedeu à catalogação e ao estudo das mais de 3 000 obras de temática açoriana oferecidas por Mendo Bem, um fundo que serviu de inspiração à sua obra posterior.
Mantendo a sua actividade de publicista, em Angra do Heroísmo, dirigiu os periódicos O Democrata (1914-1920), o ABC (1920) e Cantos & Contos (1935), o que não o coibiu de colaborar noutros periódicos angrenses e de outras localidades. Na sua acção como publicista, utilizou, entre outros, os pseudónimos João Azul, João das Ilhas, João do Outeiro e Tomé da Eira.
Na década de 1920, com o objectivo de facilitar a impressão dos seus periódicos, adquiriu a Tipografia Insulana Editora, sendo contudo obrigado a vendê-la pouco depois.
em torno das heroínas Brianda Pereira e Violante do Canto e o alpendurar da batalha da Salga em evento de extraordinária heroicidade.
Gervásio Lima perdeu o pai aos 5 meses de idade. Em consequência viu-se forçado a ingressar cedo no mundo do trabalho, empregando-se imediatamente após a conclusão dos estudos primários. Foi assim essencialmente um autodidacta, desenvolvendo desde cedo, e sem frequentar qualquer escola, uma escrita cuidada e erudita e um notável acervo de conhecimentos sobre a historiografia local.
Residiu até 1914 na então vila da Praia da Vitória, ali fundando e dirigindo os periódicos o Cartão (1903), A Primavera (1905), e O Imparcial (1907-1913). Com a publicação destes jornais e com o início da sua produção escrita, foi ganhando notoriedade no meio intelectual da ilha, o que lhe valeu ser contratado para o lugar de ajudante de bibliotecário na Biblioteca Municipal de Angra.
Em consequência, fixou-se em Angra do Heroísmo e iniciou uma carreira de 31 anos de trabalho como bibliotecário adjunto (até 1917) e depois como bibliotecário (de 1917 a 1945), o que lhe permitiu acesso permanente aos arquivos municipais e às obras existentes na Biblioteca Municipal. Naquela biblioteca procedeu à catalogação e ao estudo das mais de 3 000 obras de temática açoriana oferecidas por Mendo Bem, um fundo que serviu de inspiração à sua obra posterior.
Mantendo a sua actividade de publicista, em Angra do Heroísmo, dirigiu os periódicos O Democrata (1914-1920), o ABC (1920) e Cantos & Contos (1935), o que não o coibiu de colaborar noutros periódicos angrenses e de outras localidades. Na sua acção como publicista, utilizou, entre outros, os pseudónimos João Azul, João das Ilhas, João do Outeiro e Tomé da Eira.
Na década de 1920, com o objectivo de facilitar a impressão dos seus periódicos, adquiriu a Tipografia Insulana Editora, sendo contudo obrigado a vendê-la pouco depois.
quinta-feira, 1 de novembro de 2018
O aventureiro da ilha do Pico em terras do Canadá
Silvey, que nasceu na pequena Ilha do Pico, na freguesia da Calheta de Nesquim, empregou-se num navio americano aos 12 anos de idade e, eventualmente abandonou a tripulação e se estabeleceu nesta província – e 158 anos após o início da sua aventura na costa do Canadá, há mais do que 1.000 dos seus descendentes espalhados por esta província.
Joe adquiriu uma propriedade em Stanley Park, estabeleceu um negócio de pescaria, construiu o seu primeiro barco e iniciou a indústria de pesca com redes – usando a sua experiência lusitana.
"The Remarkable Adventure of Portuguese Joe Silvey" publicada em 2004 é o primeiro trabalho de Jean Barman abordando a problemática da emigração açoriana para a Colúmbia Britânica.
No prefácio desta obra escreve Manuel A. Azevedo: "Existe um provérbio português que diz que Deus está em todo o lado, mas os portugueses chegaram lá primeiro."
Joe Silvey (Silva) foi um dos primeiros pioneiros portugueses a chegar ao Canadá muito antes de 1867, o ano da Confederação à qual a Colúmbia Britânica se juntou em 1871.
A história do Picoense Joe Silvey iniciou-se durante a corrida ao ouro de 1858 na Colúmbia Britânica. Estes foram os anos em que a população não nativa cresceu do dia para a noite. As 1000 almas que habitavam a Colúmbia Britânica viram de um momento para o outro o seu lugar "inundado" por sonhadores à procura de riqueza. Em pouco tempo a população somava 20.000 pessoas.
Todavia, o Picoense Joe Silvey não encontrou fortuna no ouro mas encontrou uma esposa nativa da localidade que mais tarde ficaria conhecida por Vancouver.
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