Na pequena ilha açoriana da Graciosa, a emigração leva potenciais tocadores da tradicional viola da terra para longe. Helder Eiró viveu muitos anos nos Estados Unidos, tem uma casa perto das afamadas termas do Carapacho e procura ensinar as novas gerações. «Construo violas e ensino o que sei para que isto não morra».
Foi na sua casa do Carapacho, com uma vista magnífica sobre o mar da Graciosa que encontrei o construtor de violas e tocador de viola da terra Helder Eiró. Fui lá graças a outro tocador mais jovem, António Reis, que aprendeu a tocar com Eiró.
No dia em que lá passámos Eiró estava à espera de três jovens da freguesia de Guadalupe a quem ensina gratuitamente viola da terra para que a arte não se perca. Na Graciosa, há necessidade de que existam mais jovens a envolver-se com a viola característica dos Açores. A emigração e migração para fora da ilha esvazia o lote de potenciais tocadores. Curiosamente, dos três jovens que apareceram naquele dia em casa de Hélder, uma rapariga ia em breve partir para estudar fora da ilha.
O próprio Helder vive parte do seu tempo no Carapacho e outro tanto na Califórnia. Foi nos Estados Unidos, para onde emigrou em 1965, que começou a construir violas da terra. «Até aos 20 anos trabalhei a terra. Depois trabalhei de carpinteiro aqui na Graciosa e depois emigrei em 65. Estive na costa leste, no Massachusetts como operador de máquina de fazer caixas de papelão. Nos tempos livres aprendi a construir violas».
O pai era tocador e mandava nos bailes de roda. Foi ele que insistiu para Eiró começar a construir. «Comecei por construir um violão velho e experimentei colocar-lhe os corações como na viola da terra. Mas a minha pequena não gostou. Depois, fiz a primeira viola». Em 1976, mudou de ares. Da costa leste foi viver para a Califórnia. «Trabalhei numa fábrica de waffles, depois fui novamente para uma fábrica de papelão e uma vez numa filarmónica de lá conheci um indivíduo que me arranjou trabalho na Lockeed, numa fábrica de armamento. Andei lá 23 anos a limpar os escritórios, vim com uma reforma linda».
Comprou três livros sobre a viola e foi construindo para os emigrantes. «Cada viola leva o nome do dono, onde eles estão e quanto custou», diz a sorrir. Também já construiu nove bandolins, dois violões, três guitarras de fado e consertou muita viola. «Mas já não conserto. O conserto dá muito trabalho e não compensa. Mais vale comprarem uma nova».
Existem vários casos de pessoas que se dirigem a Eiró para consertar violas da terra que pertenciam aos antepassados. «São violas que pertenciam à família e têm muito afecto por elas. Houve um que me disse: Esta viola, senhor, é do meu avô. Custe o que ela custar, pago o que for preciso para a consertar. Tinha conchas incrustadas ...»
Uma vez, apareceu-lhe uma encomenda de conserto do Havai. «Eu disse ê senhor eu conserto a viola mas tu assinas uma carta em como és responsável pelo transporte para o Havai, eu cá não vou ser responsável pelo transporte...Ele concordou, assinou o termo de responsabilidade e lá chegou a viola da terra ao Havai. Era do avô dele. Já mandou o endereço do Havai para eu ir lá uma semana a casa dele mas nunca fui...»
Na Califórnia, aos fins-de-semana, Eiró organizava bailes de roda com «pessoal» quase todo da Graciosa, tocando e cantando as modas da ilha. «Aqui é preciso não deixar morrer a tradição. Há tempos fizemos um baile aqui no Carapacho e eu ensino estes jovens para que isto não morra».
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