quarta-feira, 30 de dezembro de 2015
Duarte de Armas,Arquitecto do Rei D . Manuel. Deixou descendência nas Ilhas do Corvo e Flores
Duarte de Armas, também grafado como Duarte d'Armas (Lisboa, 1465 - Lisboa?, 1???), foi um escudeiro da Casa Real e "debuxador" português.
Filho de Rui Lopes de Veiros, escudeiro da Casa Real, bacharel em Direito Canónico e notário apostólico, que exerceu as funções de escrivão da Livraria Régia e da Torre do Tombo.
Hábil no desenho, foi encarregado por Manuel I de Portugal para levantar o estado das fortificações da fronteira com Castela, o que fez em planta e em panorâmicas, com as respectivas medidas, sinais cartográficos e notas explicativas, de Castro Marim a Caminha.
Além do chamado Livro das Fortalezas (Códices A e B), conhecemos apenas a referência a mais dois trabalhos deste profissional, também a mando de D. Manuel.
Conta a lenda que os primeiros navegadores que rumaram a Ocidente, a partir de Portugal continental, avistaram na parte mais alta do Corvo uma estátua equestre com um cavaleiro que empunhava uma espada com o braço erguido para a frente a indicar o caminho para o Novo Mundo. Esculpida no basalto negro vulcânico, esta estátua despertou interesse em D. Manuel I de Portugal que ordenou que fosse entregue na sua corte. Durante a viagem nau e estátua naufragaram, como se fosse seu destino permanecer no Corvo. A misteriosa estátua surge referida pela primeira vez na Crónica do Príncipe D. João, Cap. IX, 1567:
El-rei D. Manuel mandou tirar pelo natural, por um seu criado debuxador, que se chamava Duarte D’Armas; e depois que viu o debuxo, mandou um homem engenhoso, natural da cidade do Porto, que andara muito em França e Itália, que fosse a esta ilha, para, com aparelhos que levou, tirar aquela antigualha; o qual quando dela tornou, disse a el-rei que a achara desfeita de uma tormenta, que fizera o inverno passado. Mas a verdade foi que a quebraram por mau azo; e trouxeram pedaços dela, a saber: a cabeça do homem e o braço direito com a mão, e uma perna, e a cabeça do cavalo, e uma mão que estava dobrada, e levantada, e um pedaço de uma perna; o que tudo esteve na guarda-roupa de el-rei alguns dias, mas o que depois se fez destas coisas, ou onde puseram, eu não o pude saber.
Duarte de Armas, que anteriormente havia sido encarregado pelo rei de fazer o levantamento das fortalezas da fronteira com Espanha, fora também encarregado de fazer um debuxo da estátua, que infelizmente se perdeu.” Mais tarde, Gaspar Frutuoso (1522-1591), natural da Ilha de São Miguel, escrevia na sua obra “Saudades da Terra”:
“...um vulto de um homem de pedra, grande, que estava em pé sobre uma laje ou apoio, e na laje estavam esculpidas umas letras, e outros dizem que tinha a mão estendida ao nor-nordeste, ou noroeste, como que apontava para a grande costa da Terra dos Bacalhaus [Terra Nova]; outros dizem que apontava para o sudoeste, como que mostrava as Índias de Castela [Antilhas] e a grande costa da América com dois dedos estendidos e nos mais, que tinha cerrados, estavam uma letras, ou caldeias ou hebreias ou gregas, ou doutras nações, que ninguém sabia ler, que diziam os daquele ilhéu e ilha das Flores dizerem: Jesus avante. Os construtores teriam sido na sua opinião dos cartagineses pela viagem que eles para estas partes fizeram, … e da vinda, que das Antilhas alguns tornassem, deixariam aquele padrão com as letras por marco e sinal do que atrás deixavam descoberto.”
Após estas duas referências históricas, outros terão gisado sobre elas – aparentemente sem terem à disposição outras fontes – e propagado esta descoberta. Falamos de António Cordeiro (1641-1722) e de Manuel de Faria e Sousa (1590-1649). Duarte de Armas foi arquitecto da casa real. Deixou descendência na ilha do Corvo e ainda hoje existe o livro das Fortalezas onde se encontra projectos desenhados por ele.
A cidade de Angra do Heroísmo, ilha Terceira Açores já foi Capital do Reino Português
A cidade, mais de uma vez, teve parte activa na história de Portugal: à época da Crise de sucessão de 1580 resistiu ao domínio Castelhano, apoiando António I de Portugal que aqui estabeleceu o seu governo, de 5 de Agosto de 1580 a 6 de Agosto de 1582. O modo como expulsou os espanhóis entrincheirados na fortaleza do Monte Brasil em 1641 valeu-lhe o título de "Sempre leal cidade", outorgado por João IV de Portugal.
Posteriormente, aqui esteve Afonso VI de Portugal, detido nas dependências da fortaleza do Monte Brasil, de 21 de Junho de 1669 a 30 de Agosto de 1684.
Posteriormente Angra constitui-se na capital da Província dos Açores, sede do Governo-geral e em residência dos Capitães-generais, por Decreto de 30 de Agosto de 1766, funções que desempenhou até 1832. Foi sede da Academia Militar, de 1810 a 1832.
No século XIX, Angra constitui-se em centro e alma do movimento liberal em Portugal. Tendo abraçado a causa constitucional, aqui se estabeleceu em 1828 a Junta Provisória, em nome de Maria II de Portugal. Foi nomeada capital do reino por Decreto de 15 de Março de 1830. Aqui, no contexto da Guerra Civil Portuguesa (1828-1834), Pedro IV de Portugal organizou a expedição que levou ao desembarque do Mindelo e aqui promulgou alguns dos mais importantes decretos do novo regime, como o que criou novas atribuições às Câmaras Municipais, o que reorganizou o Exército Português, o que aboliu as Sisas e outros impostos, o que extinguiu os morgados e capelas, e o que promulgou a liberdade de ensino no país.
Em reconhecimento de tantos e tão destacados serviços, o Decreto de 12 de Janeiro de 1837 conferiu à cidade o título de "mui nobre, leal e sempre constante cidade de Angra do Heroísmo", e a Rainha D. Maria II de Portugal condecorou-a com a Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.
A cidade sempre teve forte tradição municipalista, e a sua Câmara Municipal foi a primeira do país a ser eleita, já em 1831, após a reforma administrativa do Constitucionalismo (Decreto de 27 de Novembro de 1830).
Em Angra encontraram refúgio Almeida Garrett, durante a Guerra Peninsular, e a rainha Maria II de Portugal entre 1830 e 1833, durante a Guerra Civil Portuguesa (1828-1834). Por aqui passou Charles Darwin, a bordo do "HMS Beagle", tendo aportado a 20 de Setembro de 1836. Darwin partiu daqui para a ilha de São Miguel em 23 de Setembro, após fazer um passeio a cavalo pela ilha, onde entre vários locais visitou as Furnas do Enxofre, tendo na altura afirmado que a nível biológico "nada de interessa encontrar". Mais tarde, e reconhecendo o seu erro, pediu a vários cientistas, nomeadamente a Joseph Dalton Hooker, a Hewett Cottrell Watson e a Thomas Carew Hunt que lhe enviassem espécimes da flora endémica da Macaronésia e também amostras geológicas.
1643 - Por Alvará de 2 de Abril, D. João IV de Portugal concede à cidade de Angra o título de "Mui nobre e leal", pela sua bravura durante a Guerra da Restauração;
1828 - Decreto (não revogado) de 28 de Outubro que declara Angra a Capital da Província dos Açores, com o seguinte perambulo: “Tendo sido esta cidade condecorada com o título de: Muito nobre e sempre leal cidade de Angra, pelos feitos heróicos praticados por seus fiéis habitantes na restauração de Portugal em 1641, e tendo outrossim estas ilhas sido declaradas adjacentes ao reino de Portugal por alvará de 26 de Fevereiro de 1771, e ultimamente (1828) contempladas como província do reino, §. 1.º, artigo 2.º, título 1.º da Carta Constitucional: há por bem esta Junta Provisória, encarregada de manter a legítima autoridade d'el-rei o Sr. D. Pedro IV, declarar em nome do mesmo Augusto Senhor, que todas as nove ilhas dos Açores são uma só e única província do reino, e que esta cidade de Angra é a capital da província dos Açores. As autoridades a quem competir assim o tenham entendido, cumpram e façam executar: e o Secretário dos Negócios Interinos faça dirigir cópia deste decreto às estações competentes e autoridades na forma do estilo. - Angra, 28 de Outubro de 1828. - Deocleciano Leão Cabreira. - João José da Cunha Ferraz. - José António da Silva Torres. - Referendado; Alexandre Martins Pamplona Corte Real.”
1830 - Por força do Decreto lei de 15 de Março - Angra é nomeada capital do Reino de Portugal.
1837 - Por Carta Régia, pelos serviços prestados durante a Guerra Civil, a cidade de Angra acrescenta aos seus títulos o de "Heroísmo" e de "Sempre Constante", tornando-se a "Mui Nobre, Leal e Sempre Constante Cidade de Angra do Heroísmo"; a sua Câmara Municipal é condecorada com a Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, Valor, Lealdade e Mérito, recebendo um novo brasão de armas;
O Centro Histórico de Angra do Heroísmo encontra-se, desde 1983, classificado como Património Mundial pela UNESCO.
terça-feira, 29 de dezembro de 2015
Sabrina a décima ilha do Arquipélago dos Açores
A ilha Sabrina foi uma pequena ilha formada em Junho e Julho de 1811 por uma erupção vulcânica submarina que ocorreu ao largo da Ponta da Ferraria, na ilha de São Miguel, Açores. A ilha foi primeiro abordada pelo capitão James Tillard, comandante do navio de guerra britânico HMS Sabrina, que lá hasteou a bandeira britânica e a reclamou como território de Sua Majestade Britânica. A ilha desapareceu no decurso daquele ano.
Durante os meses de Janeiro e Fevereiro de 1811 verificou-se uma prolongada crise sísmica que afectou as povoações sitas no extremo sudoeste da ilha de São Miguel, com destaque para a freguesia dos Ginetes. Nesses meses verificou-se que haveria emissão de gases no mar, frente à Ponta da Ferraria, mas em final de Fevereiro, a actividade tinha cessado.
Em Maio e Junho daquele mesmo ano, a actividade sísmica recrudesceu na zona, fazendo ruir rochedos e arruinando muitas casas. A 10 de Junho de 1811, num local sito cerca de 3 milhas náuticas da zona onde se verificara a erupção de Janeiro e a cerca de 2 km da costa, desencadeou-se uma poderosa erupção submarina que em poucos dias criou uma nova ilha ao largo da Ponta da Ferraria, matando muito peixe.
A erupção, ou antes as erupções, de 1811 foram apenas mais um dos múltiplos eventos eruptivos que têm marcado as faldas do maciço do vulcão das Sete Cidades. Apenas nos cerca de 600 anos decorridos desde o povoamento da ilha de São Miguel verificaram-se erupções submarinas a sudoeste e oeste daquele maciço pelo menos nos anos de 1638, 1682, 1811 e 1981.
A ilhota era de forma circular e tinha cerca de 2 km de perímetro e por volta dos 90 m de altitude máxima, configurando-se, muito à semelhança do ilhéu de Vila Franca, como um anel rebaixado para noroeste, em direcção à vizinha costa da ilha de São Miguel. No interior do anel existia uma laguna de água em ebulição, da qual nascia uma torrente que corria para o mar.
Entretanto, a 12 de Junho, a erupção fora avistada pelo HMS Sabrina, uma chalupa britânica construída em 1806, armada com 20 peças, que se encontrava em cruzeiro na zona dos Açores com a missão de vigiar eventuais movimentações de forças francesas em torno daquele arquipélago. O comandante do navio, o capitão James Tillard, julgando tratar-se de fumo proveniente de um combate naval, dirigiu-se para o local, encontrando um cenário bem diferente de uma batalha naval. A erupção foi por ele descrita, num artigo publicado no volume das Philosophical Transactions of the Royal Society de 1812, como produzindo uma imensa coluna de fumo subindo do oceano que, quando não se verificavam explosões, tinha o aspecto de uma imensa nuvem circular, que se elevava em revolutas irregulares a partir do mar. Essa nuvem subia muito acima do ponto de máxima altura de projecção das cinzas vulcânicas, expandindo-se gradualmente na direcção para onde soprava o vento, de forma quase horizontal, gerando relâmpagos e trombas de água.
Na manhã do dia 13 de Junho a HMS Sabrina arribou a Ponta Delgada, tendo o capitão James Tillard desembarcado para visitar o cônsul inglês William Harding Read, sendo então informado dos sismos sentidos na ilha, especialmente na região sudoeste das Sete Cidades, da erupção do ano anterior e das fendas abertas na zona dos Mosteiros, fenómenos que tinham causado pânico na ilha e eram então objecto longas rezas e promessas.
Não existindo condições de vento que permitissem velejar com segurança até à zona da erupção, no dia 14 de Junho o capitão James Tillard desembarcou novamente, arranjou cavalos e partiu para os Ginetes, onde observou o fenómeno a partir da costa fronteira ao centro eruptivo. Diz-se que enquanto almoçava junto à costa dos Ginetes, aconteceu um abalo tão violento que derrubou uma parte importante da falésia que lhe estava próxima.
Tendo o vento melhorado, a 15 de Junho a HMS Sabrina levantou ferro e foi, ainda de noite, observar o vulcão, não se podendo contudo aproximar por falta de vento.
A 18 de Junho a HMS Sabrina fez nova tentativa de se aproximar da ilha e, numa zona onde as cartas antes assinalavam 40 braças de profundidade, avistaram o topo da cratera à superfície da água. Na altura puderam testemunhar a emissão de grandes blocos de pedra e de muitas cinzas e vapor. Estimaram que em três horas a altura da ilhota que então se formava, e que o capitão James Tillard baptizou com o nome de ilha Sabrina, se tivesse elevado cerca de 10 m acima do nível do mar. No dia seguinte, a ilha Sabrina já tinha cerca de 20 m de altura e cerca de um quilómetro de diâmetro. Apesar do navio se encontrar a mais de 5 km de distância, os aguaceiros que eram gerados pela nuvem formada pela erupção recobriram o navio com uma espessa camada de fina areia negra.
Não existindo condições de vento que permitissem uma melhor aproximação à ilha, a HMS Sabrina foi fundear no porto de Ponta Delgada, aguardando o desenrolar dos acontecimentos, mas ao que parece planeando, em conjunto com o cônsul, uma expedição que permitisse reclamar soberania britânica sobre a nova ilha.
Finalmente, quando a 4 de Julho a erupção parou subitamente e cessou o tremor contínuo e pouco acelerado que havia nos Ginetes desde inícios de Junho. Com tempo favorável, a HMS Sabrina pôde finalmente aproximar-se da ilha, tendo o capitão James Tillard e o cônsul William Read desembarcado, hasteado a bandeira britânica e tomado posse formal da ilha em nome de Sua Majestade Britânica.
O conflito diplomático desencadeado em torno da soberania sobre ilha foi de curta duração pois o governo português, então refugiado no Rio de Janeiro e totalmente dependente dos britânicos na sua luta contra os franceses, não estava em condições de apresentar grandes reclamações.
Felizmente para a parte portuguesa, o assunto acabou por se extinguir naturalmente, pois as ilhas e os ilhéus resultantes da actividade vulcânica submarina têm frequentemente uma existência efémera, uma vez que são destruídas pela acção erosiva do mar, especialmente quando são formadas por níveis incoerentes, não compactados, de tefra.
Tal foi o caso da ilha Sabrina: formada por escórias basálticas, a ilha apesar de ter atingido cerca de 100 metros de altura, foi rapidamente destruída pela erosão marinha, de modo que, em Outubro de 1811, só restava um baixio na zona onde antes estivera o cone. Não havendo território, não podia existir disputa territorial, e assim ficou encerrado o incidente.
A ilha foi desenhada a 19 de Junho de 1811 pelo tenente John William Miles, da guarnição do HMS Sabrina, cuja obra está disponível no National Maritime Museum, em Greenwich, arredores de Londres. O evento também despertou grande interesse na comunidade científica, tendo sido objecto de várias comunicações e comentários. Charles Darwin escreveu uma carta sobre o assunto.
Uma história muito semelhante ocorreria em 1831, quando nas águas do Mediterrâneo, a sul da Sicília, uma erupção levou à formação da ilha Ferdinandea, ela também centro de um conflito diplomático que terminou com o desaparecimento da ilha alguns meses depois.
A zona onde ocorreu a erupção tem hoje fundos a cerca de 75 m de profundidade, formando uma elevação que se destaca num talude submarino inclinado para sudoeste, que na zona circundante tem cerca de 350 m de profundidade. A zona continua a libertar um grande volume de gases, visíveis a subir pela coluna de água.
Rui de Mendonça
Rui de Mendonça (Santa Cruz da Graciosa, 27 de Abril de 1896 - Velas, 30 de Janeiro de 1958) foi um professor, escritor e jornalista açoriano.
Após concluir o ensino primário na Graciosa, partiu para a ilha Terceira onde frequentou o Liceu de Angra do Heroísmo, vindo a concluir o curso do Magistério Primário na Horta. Esteve ligado aos movimentos de professores mais progressistas, que se preocupavam com as questões pedagógicas e com a melhoria do estatuto da classe.
O gosto pela escrita manifestou-se desde cedo. Dedicou-se à poesia e ao teatro, ficando algumas de suas peças por publicar. A propósito de uma delas, o também escritor Vitorino Nemésio, referiu:
"Rui de Medeiros é um bom, e além disso um artista que soube aurir dos encantos daquela ilha Graciosa, que no nome tem o qualificativo, a graça simples do entrecho de 'A Flor da Serra', para depois nos vir entornar sobre o coração a candura campesina da sua factura mimosa."
Além de ter colaborado em vários periódicos, dirigiu o jornal "A Ideia", editado nas Velas, em 1929.
Republicano, manteve a sua ideologia por toda a vida. Em 1931, no contexto da Revolta dos Deportados, foi nomeado representante da Junta Revolucionária para toda a ilha e Administrador do Concelho das Velas. Dominada a revolta pelas forças legalistas, esteve preso e foi expulso do ensino. Jamais requereu a reintegração como professor, nem sequer a aposentação a que tinha direito. Sobreviveu desempenhando a profissão de advogado provisório. Continuou a manifestar ideias contrárias ao Estado Novo Português, pelo que foi referenciado pela PIDE como opositor.
Foi iniciado na Maçonaria num Triângulo de Angra do Heroísmo, em 1931, tendo transitado para a Loja "8 de Abril". Foi nomeado delegado maçónico do Grande Oriente Lusitano para a vila das Velas.
A 9 de Junho de 1989 foi feito Oficial da Ordem da Liberdade a título póstumo.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
Realizador Açoriano Augusto Fraga filma anuncio da Coca- Cola
O realizador açoriano (nasceu em Ponta Delgada e vive actualmente em Barcelona) Augusto Fraga encontra-se, neste momento, na China a filmar um spot para a Coca-Cola que tem como pano de fundo os Jogos Olímpicos do Rio 2016. As filmagens vão decorrer em Pequim e em Shanghai e contam com a participação de atletas da equipa olímpica chinesa.
Além de Augusto Fraga, a produção conta com outro português na equipa, o editor Marcos Castiel. “Sendo um filme maioritariamente para o mercado chinês, espera-se que seja visto por mais de 500 milhões de pessoas”, conta o realizador ao M&P, que não hesita em descrever a produção como “um dos maiores projectos da minha carreira”. A criatividade do filme é da McCann Shangai.
A visibilidade internacional não fica por aqui. Augusto Fraga, que é também sócio da produtora Krypton, passará a partir de Janeiro de 2016 a ser representado, para o mercado norte-americano, pela produtora Little Minx, de Los Angeles. “Mantendo a minha base no mercado português, a minha intenção é dedicar-me também ao mercado geral americano, procurando assim novos desafios e oportunidades. Gosto imenso de Los Angeles e a relação com a Little Minx foi de amor à primeira vista”.
Dirigida por Rhea Scott, ex-sócia da RSA, na Little Minx Augusto Fraga estará ao lado de realizadores como Rodrigo Prieto (director de fotografia de Wolf of Wall Street, Argo ou Babel), Zoe Cassavetes ou Los Pérez.
“O convite da Little Minx aconteceu por acaso, depois de uma série de casualidades. Eles conheciam o algum do meu trabalho internacional com estrelas do desporto e também ficaram muito surpreendidos ao ver alguns anúncios que fiz com a Krypton em Portugal. Neste momento a Little Minx está a preparar a minha apresentação ao mercado americano que deve começar a concretizar-se a partir de 2016”, completa.
domingo, 27 de dezembro de 2015
Carlos Ávila de Borba
Carlos Ávila de Borba nasceu a 14 de Junho de 1963, no concelho da Praia da Vitória, na ilha Terceira, Açores.
Treinador profissional especializado em várias modalidades desportivas,fez a sua carreira pelos Estados Unidos da América, Alemanha, Finlândia e Japão, sendo preletor em acções de formação e congressos um pouco por todo o mundo.
Estudou desporto em Portugal, nos Estados Unidos (San Diego) e fez a sua licenciatura em Alto Rendimento Desportivo na Academia de Mainz, na Alemanha.
Detentor de uma carreira brilhante, Ávila de Borba foi treinador e preparador físico de grandes figuras mundiais do desporto, como Mao Asada (medalha de prata em patinagem artística nos Jogos Olímpicos de inverno de Vancouver e medalha de ouro nos Campeonatos Mundiais de 2008 e 2010), Koji Murofushi (medalha de ouro no lançamento do martelo nos Jogos Olímpicos de Atenas e bronze em Sydney), Miki Ando (campeã mundial de patinagem artística em 2007 e 2011), a italiana Carolina Kostner (campeã mundial e europeia) e, esteve presente nos Jogos Olímpicos de inverno de Turim em 2006, como treinador do atleta japonês Daisuke Takahashi. Em 2006, foi também comentador da cadeia televisiva Eurosport nos campeonatos do mundo de patinagem artística em Calgary, no Canadá.
Ao longo do seu percurso, trabalhou ainda como treinador e preparador físico de patinagem artística no Centro Olímpico de Munique e como colaborador na Karl-Heinz Riedl Soccer Academy (ambos na Alemanha), e foi conselheiro desportivo na Urheiluakatemia Pohjois-Savon (academia de desporto, Finlândia).
Entre 2007 e 2010, foi professor de metodologia do treino desportivo e alto rendimento na Universidade de Chukyo (Nagoya - Japão).
Em 2011, esteve presente nos Jogos Olímpicos da Ásia, realizados no Cazaquistão, como treinador do patinador artístico Denis Ten, atleta que viria a conquistar a medalha de ouro na competição.
Desde 2013 é treinador da patinadora artística Finlandesa, kiira Korpi.
sábado, 26 de dezembro de 2015
Escritor Ermelindo Ávila
Aos 100 anos de idade, o emérito lajense Ermelindo Ávila publica novo livro: A Terra e o Mar. Crónicas do Meu Sentir, com chancela da editora açoriana Companhia das Ilhas.
Ermelindo Ávila nasceu na Vila das Lajes do Pico, em 18 de Setembro de 1915. É um dos mais proeminentes cidadãos lajenses. Desempenhou na sua centenária vida vários cargos públicos de relevo, tendo sido homenageado com a Comenda da Ordem de Mérito e várias outras distinções oficiais.
É um nome incontornável da cultura açoriana, com quase três dezenas de livros publicados e um sem número de artigos dispersos nos mais importantes órgãos da imprensa local e regional, nas áreas da história, etnografia e cultura locais.
A Terra e o Mar. Crónicas do Meu Sentir vem na sequência de obras suas como Figuras & Factos (1993 e 2005) e Crónicas da Minha Ilha (1995 e 2002). «São crónicas escritas com prazer e entusiasmo, com o espírito de missão de quem sabe que o desenvolvimento dos povos é feito de avanços e recuos e, sobretudo, com valentia e persistência.» (José Gabriel Ávila)
A Terra e o Mar. Crónicas do Meu Sentir será apresentado pelo Professor Doutor Ermelindo Peixoto (Universidade dos Açores), no dia 19 de Setembro, pelas 17 horas, no Museu dos Baleeiros, na Vila das Lajes.
sexta-feira, 25 de dezembro de 2015
A Lenda de São Nicolau
Nicolau, filho de cristãos abastados, nasceu na segunda metade do século III, em Patara, uma cidade portuária muito movimentada.
Conta-se que foi desde muito cedo que Nicolau se mostrou generoso. Uma das histórias mais conhecidas relata a de um comerciante falido que tinha três filhas e que, perante a sua precária situação, não tendo dote para casar bem as suas filhas, estava tentado a prostituí-las. Quando Nicolau soube disso, passou junto da casa do comerciante e atirou um saco de ouro e prata pela janela aberta, que caiu junto da lareira, perto de umas meias que estavam a secar. Assim, o comerciante pôde preparar o enxoval da filha mais velha e casá-la. Nicolau fez o mesmo para as outras duas filhas do comerciante, assim que estas atingiram a maturidade.
Quando os pais de Nicolau morreram, o tio aconselhou-o a viajar até à Terra Santa. Durante a viagem, deu-se uma violenta tempestade que acalmou rapidamente assim que Nicolau começou a rezar (foi por isso que tornou também o padroeiro dos marinheiros e dos mercadores). Ao voltar de viagem, decidiu ir morar para Myra (sudoeste da Ásia menor), doando todos os seus bens e vivendo na pobreza.
Quando o bispo de Myra da altura morreu, os anciões da cidade não sabiam quem nomear para bispo, colocando a decisão na vontade de Deus. Na noite seguinte, o ancião mais velho sonhou com Deus que lhe disse que o primeiro homem a entrar na igreja no dia seguinte, seria o novo bispo de Myra. Nicolau costumava levantar-se cedo para lá rezar e foi assim que, sendo o primeiro homem a entrar na igreja naquele dia, se tornou bispo de Myra.
S. Nicolau faleceu a 6 de Dezembro de 342 (meados do século IV) e os seus restos mortais foram levados, em 1807, para a cidade de Bari, em Itália. É actualmente um dos santos mais populares entre os cristãos.
S. Nicolau tornou-se numa tradição em toda a Europa. É conhecido como figura lendária que distribui prendas na época do Natal. Originalmente, a festa de S. Nicolau era celebrada a 6 de Dezembro, com a entrega de presentes. Quando a tradição de S. Nicolau prevaleceu, apesar de ser retirada pela igreja católica do calendário oficial em 1969, ficou associado pelos cristãos ao dia de Natal (25 de Dezembro)
A imagem que temos, hoje em dia, do Pai Natal é a de um homem velhinho e simpático, de aspecto gorducho, barba branca e vestido de vermelho, que conduz um trenó puxado por renas, que esta carregado de prendas e voa, através dos céus, na véspera de Natal, para distribuir as prendas de natal. O Pai Natal passa por cada uma das casas de todas as crianças bem comportadas, entrando pela chaminé, e depositando os presentes nas árvores de Natal ou meias penduradas na lareira. Esta imagem, tal como hoje a vemos, teve origem num poema de Clement Clark More, um ministro episcopal, intitulado de “Um relato da visita de S. Nicolau”, que este escreveu para as suas filhas. Este poema foi publicado por uma senhora chamada Harriet Butler, que tomou conhecimento do poema através dos filhos de More e o levou ao editor do Jornal Troy Sentinel, em Nova Iorque, publicando-o no Natal de 1823, sem fazer referência ao seu autor. Só em 1844 é que Clement C. More reclamou a autoria desse poema.
Hoje em dia, na época do Natal, é costume as crianças, de vários pontos do mundo, escreverem uma carta ao S. Nicolau, agora conhecido como Pai natal, onde registam as suas prendas preferidas. Nesta época, também se decora a árvore de Natal e se enfeita a casa com outras decorações natalícias. Também são enviados postais desejando Boas Festas aos amigos e familiares.
Actualmente, Há quem atribuía à época de Natal um significado meramente consumista. Outros, vêem o Pai Natal como o espírito da bondade, da oferta. Os cristãos associam-no à lenda do antigo santo, representando a generosidade para com o outro.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2015
A Genealogia de Jesus Cristo
A Genealogia de Jesus está relatada em dois dos quatro Evangelhos, Mateus e Lucas. Estes relatos são substancialmente diferentes. Várias explicações têm sido sugeridas e tornou-se tradicional desde, pelo menos, 1490 pressupor que a genealogia dada por Lucas foi traçada através de Maria e que a Mateus o faz através de José. Académicos modernos geralmente vêem as genealogias como construções teológicas. Mais especificamente, sugere-se que as genealogias foram criadas com o objectivo de justificar o nascimento de uma criança com linhagem real.
Mateus menciona sinteticamente um total de 46 antepassados que teriam vivido até uns dois mil anos antes de Jesus, começando por Abraão. Em seu relato, o apóstolo cita não somente heróis da fé, mas também menciona os nomes das mulheres estrangeiras que fizeram parte da genealogia tanto de Jesus quanto de Davi, que no caso foram Rute, Raabe e Tamar. Também não omite os nomes dos perversos Manassés e Abias, ou de pessoas que não alcançaram destaque nas Escrituras judaicas. Divide então a genealogia de Jesus em três grupos de catorze gerações: de Abraão até Davi, de Davi até o cativeiro babilônico, ocorrido em 586 a.C., e do exílio judaico até Jesus.
Lucas, por sua vez, aborda a genealogia de Jesus retrocedendo continuamente até Adão, talvez com o objectivo de mostrar o lado humano de Jesus. E, superando Mateus, Lucas fornece um número maior de antepassados de Jesus. Esta genealogia é considerada por alguns autores como sendo a genealogia da Virgem Maria, a genealogia materna de Jesus, o que explicaria parte das diferenças entre esta e a genealogia apresentada por Mateus.
Os Evangelhos foram escritos com uma finalidade teológica e, portanto, não podem ser considerados, em hipótese alguma, como livros históricos. Não era a intenção desses escribas fazer história, mas de alentar as comunidades cristãs nascentes e de consolidar a nova mensagem que distinguia dos judeus, mas sem romper com a tradição judaica, e distinguia-os dos outros povos, chamados "pagãos".
A genealogia de Jesus, conforme descritas nos evangelhos, tem o intento de dar legitimidade à sua pessoa e aos seus ensinamentos, proclamando que Jesus era aquele esperado e anunciado no AT e fruto da intervenção celestial. Portanto, trata-se de uma mensagem teológica e não histórica que os evangelhos querem passar.
Livro da geração de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.
Abraão gerou a Isaque; Isaque gerou a Jacó (ou Israel); Jacó gerou a Judá e a seus irmãos (cada irmão representa uma das 12 tribos de Israel, dentre elas Judá e Levi - e, desta última, Moisés é descendente);
Livro da geração de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.
Abraão gerou a Isaque; Isaque gerou a Jacó (ou Israel); Jacó gerou a Judá e a seus irmãos (cada irmão representa uma das 12 tribos de Israel, dentre elas Judá e Levi - e, desta última, Moisés é descendente);
Judá gerou de Tamar a Perez e a Zara; Perez gerou a Esrom; Esrom gerou a Arão;
Arão gerou a Aminadabe; Aminadabe gerou a Naassom; Naassom gerou a Salmom;
Salmom gerou de Raabe a Boaz; Boaz gerou de Rute a Obede; Obede gerou a Jessé,
Jessé gerou ao rei David. David gerou a Salomão daquela que fora mulher de Urias;
Salomão gerou a Roboão; Roboão gerou a Abias; Abias gerou a Asa;
Asa gerou a Josafá; Josafá gerou a Jorão; Jorão gerou a Uzias;
Uzias gerou a Jotão; Jotão gerou a Acaz; Acaz gerou a Ezequias
Ezequias gerou a Manassés; Manassés gerou a Amom; Amom gerou a Josias,
e Josias gerou a Jeconias e a seus irmãos no tempo do exílio em Babilônia.
Depois do exílio em Babilônia, Jeconias gerou a Salatiel; Salatiel gerou a Zorobabel;
Zorobabel gerou a Abiúde; Abiúde gerou a Eliaquim; Eliaquim gerou a Azor;
Azor gerou a Sadoque; Sadoque gerou a Aquim; Aquim gerou a Eliúde;
Eliúde gerou a Eleazar; Eleazar gerou a Matã; Matã gerou a Jacó,
e Jacó gerou a José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama Cristo.
Assim todas as gerações desde Abraão até Davi são catorze gerações; também desde David até o exílio em Babilônia, catorze gerações; e desde o exílio em Babilônia até o Cristo, catorze gerações.
Katy Perry com origens nos Açores
Katheryn Elizabeth Hudson nasceu em 25 de Outubro de 1984 em Santa Bárbara, Califórnia, Estados Unidos, oriunda de uma família de classe baixa. Ela é filha de dois pastores evangélicos, Keith e Mary Hudson, e possui dois irmãos, uma mais velha chamada Angela Hudson e um mais jovem chamado David Hudson. Katheryn possui ascendência portuguesa por parte de sua mãe, que é irmã do cineasta Frank Perry e da roteirista Eleanor Perry, ambos falecidos. Três de seus trisavós eram originários dos Açores, mais especificamente de Horta. Perry também tem ascendência alemã, irlandesa e inglesa.
Quando era criança, ela ouvia apenas música gospel e era proibida de ouvir outros estilos musicais, chamados por seus pais de "músicas seculares". Ela participava de escolas dominicais e acampamentos religiosos, chegando a fazer aulas de dança em um salão em Santa Bárbara, onde aprendeu a dançar swing, Lindy Hop e jitterbug.
Segundo a cantora, ela competia musicalmente com sua irmã mais velha porque queria "copiar sua irmã e tudo o que ela fazia" e devido a isso, praticava seu canto com fitas cassetes, que eram frequentemente roubadas por Katheryn para treinar. Após treinar, ela cantou para seus pais e eles sugeriram para que ela aperfeiçoasse suas habilidades com aulas de canto; durante um certo período, Katheryn cantava publicamente em restaurantes e reuniões familiares. Ela foi baptizada e, aos nove anos de idade, começou a cantar no coro musical de sua igreja até os dezassete anos. Quando adolescente, ela estudou no Colégio Dos Pueblos e depois de completar o ensino médio e receber seu diploma, ela decidiu prosseguir sua carreira musical, estudando canto até os dezasseis anos de idade e até mesmo chegando a cursar ópera na Faculdade de Música do Oeste em Santa Bárbara, mas por pouco tempo.
terça-feira, 22 de dezembro de 2015
Maria da Luz Gomes, a primeira mulher a usar calças na ilha das Flores Açores
Nasceu na freguesia da Fazenda, concelho de Lajes das Flores, em 30 de Janeiro de 1915, filha de Francisco Coelho Gomes e de Maria do Rosário Gomes, onde residiu parte da sua vida.
Como não aproveitou convenientemente a escola primária, a sua instrução era pouca, mas, o suficiente para desenvolver as suas capacidades intelectuais, graças à sua privilegiada inteligência e à excelente memória.
Figura atípica da ilha das Flores, foi sempre uma trabalhadora incansável, dedicando-se desde muito jovem, quer aos trabalhos domésticos das mulheres, quer aos trabalhos rurais dos homens e, sobretudo, à pesca.
Para além de fumar desde jovem, vestia geralmente roupas de homens – numa altura em que eram poucas as mulheres açorianas que ousavam fazê-lo publicamente. Frequentava qualquer tipo de taberna, bebendo lado-a-lado com os homens, sobretudo depois de se separar do marido. No seu tempo as mulheres, para além de não fumarem, não tomavam bebidas alcoólicas, nem frequentavam cafés e muito menos tabernas.
Dela o escritor faialense, Manuel Greves – que viveu temporariamente nas Flores – para evidenciar a sua força e teimosia, escreveu o seguinte em “Aventuras de Baleeiros”: “E certo é, também, que [o mar] não venceu arrancar de cima dum bico de rocha, numa tarde, as mãos fortes, pegadas a uns músculos rijos, de Maria da Luz, quando andava às lapas, na costa da Fazenda das Lajes das Flores. A corajosa mulher, agarrada ao rochedo, praguejava às vagas violentas que a cercavam:”
“ - Ó alma do diabo! Tu serás mais forte do que eu... mas, não és mais teimoso!...”
“E a Maria salvou-se”.
Foi casada com o fazendense Francisco Rodrigues Azevedo. Do casal nasceram as filhas Jesuína (já falecida), Alzira e Judite, pelo que era ela que, com esmerado zelo e amor, cuidava da sua educação, ao mesmo tempo que se esforçava pela manutenção da vida económica do seu lar. As filhas, depois de casadas, viriam a emigrar para o Canadá, na companhia do pai, onde actualmente residem e onde também existem netos que ela adorava.
Durante a sua vida passou por diversas actividades. De início, quando residia na Fazenda, acumulando com a lida da casa, dedicava-se à actividade rural da agro-pecuária, fazendo-o com o conhecimento e a resistência física de um homem. Com a ajuda do marido, lavrava os seus terrenos, semeava e tratava do milho e das demais culturas agrícolas, ordenhava vacas, transportava às costas lenha e alimentação para os animais, alternando essas trabalhos com a actividade da pesca. Recordo-me que foi ela quem me ensinou a lavrar, no Cerrado Grande, com arado de “aiveca”, numa altura em que, devido à minha juventude, meu pai não tinha paciência para me deixar “dar um reguinho” – orgulho de qualquer jovem rural do meu tempo.
Certamente para facilidade do trabalho que fazia começou a usar calças de homem desde jovem. Por esse motivo dava nas vistas, constando que, por essa razão, chegou a ser detida pela polícia na ilha Terceira, no tempo em que eram proibidos os “travestis” na via pública, valendo-lhe então o Chefe da PSP, António Gonçalves, também ele um florentino natural de Lajes das Flores que muito bem a conhecia.
Nunca a vimos usar saia, salvo no dia da festa religiosa por ela custeada, na freguesia da Fazenda, no cumprimento anual de uma promessa. Vestia-se assim para nesse dia ir à igreja assistir às cerimónias religiosas que nela se realizavam – fazendo-o com o respeito e a devoção que sempre tivera pela religião Católica.
Mais tarde viria a fixar residência na Vila de Baixo, em Lajes das Flores, mesmo junto do Porto, onda se dedicava quase exclusivamente à pesca e à venda de pescado. A lida da casa aborrecia-a, embora por vezes fosse forçada a fazê-la. Para poder ir legalmente para o mar, as autoridades marítimas chegaram a passar-lhe uma cédula pessoal, já que sua actividade piscatória era essencialmente feita por mar, com uma lancha que chegou a possuir.
Discutia com os companheiros de pesca e com quaisquer homens sobre os problemas e as notícias do dia-a-dia, já que era possuidora de um espírito curioso e contraditório, dedicado a todo o género de actualidades.
Geralmente não tinha interesse pelas conversas das mulheres, situação que fazia com que estas lhe respondessem de igual forma. Animava-se com as discussões que mantinha, parecendo provocá-las para aprender e saber mais.
Odiada por uns e tolerada por outros, tinha especial vocação para se envolver em questões judiciais e polémicas. Era também uma grande frequentadora, como assistente, dos julgamentos realizados no Tribunal das Flores. Certamente por esse motivo livrava-se bem das questões judiciais, que gostosamente provocava, defendendo-se nelas com astúcia.
Apesar de ser temida por alguns, pela sua falta de rigor e pelo seu feitio polémico, em certas ocasiões, era, contudo, muito caridosa e prestável para servir os amigos e todos os que dela necessitassem.
sábado, 19 de dezembro de 2015
Fafá de Belém de origem Açoriana
Fafá de Belém, nome artístico de Maria de Fátima Palha de Figueiredo, nasceu a 9 de Agosto de 1956, em Belém, no estado do Pará, Brasil. Esta artista, de descendência açoriana, sempre gostou de cantar, tendo iniciado a sua carreira ainda adolescente. É considerada um símbolo da música brasileira e detentora de uma das mais poderosas vozes do Brasil. A sua música extravasa a geografia do seu país e emociona, há mais de três décadas, multidões pelo mundo fora.
Sendo uma das artistas com maior expressão de vendas de discos no mercado nacional, conquistou o estatuto de estrela na canção popular brasileira.
Em 1973, conheceu o baiano Roberto Santana, produtor do grupo “Quinteto Violado” e músico da “Polygram”, que a aconselhou a investir na carreira fonográfica. Incentivada por este, apresentou-se em alguns lugares do Rio de Janeiro, S. Salvador e Belém.
Em 1973, estreou-se como cantora profissional no teatro principal de Belém, “Theatro da Paz”. Foi fortemente influenciada por cantores consagrados da MPB como Maysa, Roberto Carlos, Cauby Peixoto e pelos grupos Jovem Guarda e Beatles, além de outros géneros, como jazz, música clássica, e os grandes ídolos da rádio.
O amplo leque de sua formação musical está reflectido na selecção do seu repertório, pelo que gravou vários géneros musicais, nomeadamente, música regional, pérolas do cancioneiro popular, como “Que Queres Tu De Mim”, de Evaldo Gouveia e Jair Amorim, ou “Você Vai Gostar” (Casinha Branca), de Elpídio dos Santos. Rock, boleros, ritmos caribenhos, guarânias, afoxé, lambadas, sambas-canções, composições dos grandes nomes da música popular brasileira, marcha-rancho, sertanejo, e muitos outros ritmos. Refira-se ainda a polémica apresentação que a musa das directas deu ao Hino Nacional, contestada pela justiça e ovacionada pela plateia, cada vez mais numerosa nos seus espectáculos.
Em 1976, lançou o primeiro LP, intitulado “Tamba Taja” e o álbum “Água” em 1977, que atingiu cerca de 95 mil cópias vendidas.
Em 1979, apresentou o seu maior sucesso com a música " (Chico Buarque), que integrou o reportório de um dos melhores discos da sua carreira – “Estrela”.
O seu trabalho mais recente foi a edição de um CD/DVD gravado ao vivo, em 2007, e lançado pela gravadora EMI – única multinacional que ainda não havia editado qualquer trabalho da artista.
Também aceitou o desafio de ser actriz e encarnou a personagem Ana Luz, na telenovela da Rede Record “Caminhos do Coração”, do autor Tiago Santiago.
Participou no especial “Mulher 80”, da Rede Globo.
A convite do Governo dos Açores, esta açordescendente, atuou em S. Miguel, representando a comunidade açoriana no Brasil.
Recentemente foi-lhe atribuída a “Medalha de Mérito Turístico 2011”, pela promoção de Portugal como destino turístico no mundo.
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