"A minha família foi a última guardiã da sinagoga durante 40 anos
até este acordo ser feito [em 2009] entre a comunidade israelita de Lisboa e a
Câmara Municipal de Ponta Delgada [por um prazo de 99 anos]", afirmou à
Lusa o cofundador da Associação Cultural Amigos da Sinagoga de Ponta Delgada
Jorge Delmar Soares, que não esconde a sua satisfação por ter sido possível
recuperar o edifício.
Fundada em 1836, a sinagoga de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel,
está localizada na Rua do Brum, na baixa da cidade, num edifício que passa
despercebido, já que, na altura em que foi construída, a legislação portuguesa
proibia que os templos não católicos tivessem símbolos no exterior.
O imóvel estava votado ao abandono desde 1970, quando as duas últimas
inquilinas, Raquel e Haliá Albo, morreram, mas mantinha no seu interior muito
do espólio e objectos usados nas cerimónias religiosas e, já recuperados, voltam
agora a ser expostos.
Jorge Delmar Soares salientou que há ainda várias peças da sinagoga de
Ponta Delgada que continuam à guarda da comunidade israelita de Lisboa e que
terão de voltar para os Açores.
"Por exemplo, há o quadro dos fundadores da sinagoga que não
aparece e terá necessariamente de aparecer. Há outras Toras pequenas que também
ainda não vieram e que terão de vir", disse o judeu que resgatou as peças
e as enviou para Lisboa, quando o edifício em Ponta Delgada se começou a
degradar.
Jorge Delmar Soares não tem dúvidas que a recuperação deste imóvel
coloca Ponta Delgada numa rota mundial e atrairá muitos turistas, apesar de a
sinagoga nunca ter verdadeiramente deixado de receber visitas durante os anos
em que esteve em degradação.
A chegada aos Açores dos primeiros judeus originários de Marrocos data
de 1819, quando rapidamente se instalaram e criaram os seus templos de culto
por várias ilhas, como S. Miguel, Terceira e Faial, património que, entretanto,
se perdeu.
Entre escadotes, aspiradores e fotografias antigas, José de Almeida
Mello referiu que Ponta Delgada vai apresentar "ao país o seu legado
hebraico totalmente recuperado", destacando os cemitérios dos judeus em
Santa Clara e Pico Salomão, bem como a sinagoga.
Segundo José de Almeida Mello, o próximo passo será concluir a
identificação das casas dos judeus, as lojas e as restantes quatro sinagogas
que chegaram a existir no centro de Ponta Delgada para se criar um roteiro
hebraico na cidade, "permitindo dar a conhecer o legado dos judeus sefarditas
que estiveram em Portugal durante mais de 1.000 anos".
O projecto de arquitectura da reabilitada sinagoga de Ponta Delgada é de
Igor França e o programa científico do espaço museológico foi entregue à
historiadora Susana Goulart Costa, docente na Universidade dos Açores.
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