sábado, 20 de dezembro de 2014
Judeus na ilha Terceira
A Sinagoga Ets Haim (possível tradução: "Árvore da Vida") localizava-se no centro histórico de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, nos Açores.
Fundada na segunda metade do século XIX, a sua história está ligada à vida e obra do comerciante judeu Mimom ben Abraham Abohbot, que foi seu fundador, nela tendo exercido as funções de oficiante e mestre de religião. Foi instalada na sua residência, inaugurada quando este obteve emprestada uma torah pertencente ao rabino Judah Azagury, que saiu dos Açores para ir viver em Lisboa.
Em consequência das difusão das ideias liberais em Portugal, diversas famílias hebraicas que viviam no Marrocos, muitas de ascendência portuguesa (sefardita), passaram a dirigir-se a Portugal, nomeadamente para o Algarve e os Açores, onde se instalaram a partir da década de 1820. Esta vaga migratória era constituída por indivíduos que se assumiam como cidadãos britânicos embora, mais tarde, tomasse a nacionalidade portuguesa.
A monarquia liberal portuguesa permitiu em sua Constituição a existência de cultos religiosos diversos, embora mantendo o catolicismo como religião oficial do Estado. Isso levou, por exemplo, a que as sinagogas não tivessem autorização para comunicar directamente com a via pública, devendo existir um pátio ou zona intermediária de ligação.
Entre os sobre nomes representativos das famílias judaicas em Angra do Heroísmo, incluem-se:
Abohbot
Athias
Baroche
Benarus
Ben Ayon
Benithé (ou Benitarre)
Benjamim
Ben-Sabat (ou Bensabat)
Benzaquim
Bozaglo
Cohen
Hanon
Levy
Sabag
Seriqui
Zagori
Mimom Abohbot era um judeu sefardita nascido no Mogador. Era filho de Abraham Abohbot e Raquel Abohbot e foi educado nos estudos e teologia hebraicos. Não se sabe a data de sua chegada aos Açores ou a Angra, mas o historiador Pedro de Merelim, a primeira referência a seu respeito data de 5 de Março de 1827, no Livro da Porta da Capitania Geral dos Açores.
Desposou, em 1833, em Londres, Elisabeth Davis Abohbot, por contrato hebraico, em língua hebraica, o qual está no livro de registos da sinagoga "Porta do Céu".
Em 1835, aproveitou a venda em hasta pública de bens nacionais dos conventos extintos em 1834, e adquiriu o imóvel do antigo Convento da Esperança, à esquina da rua da Sé com a rua da Esperança, onde actualmente se encontram as instalações do RIAC e a loja da TAP. Remodelou e reconstituiu este antigo edifício, dando-lhe o aspecto que hoje conserva, e onde fixou residência. Posteriormente, em 1857, adquiriu uma quinta na Canada dos Folhadais.
Na Terceira tornou-se comerciante de projecção, com estabelecimentos em Angra, vendendo a crédito e emprestando dinheiro a juros. Exportou ainda laranjas para a Grã-Bretanha. Os periódicos da época e as referências públicas mostram-no como uma figura socialmente respeitável, não apenas entre a comunidade judaica, mas em toda a cidade.
Faleceu em Angra do Heroísmo a 21 de Julho de 1875, "rezando psalmos de David", sendo sepultado no Campo da Igualdade, no Caminho Novo, na mesma cidade.
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