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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Nomes de alguns Judeus que fugiram dos Açores para o Brasil

 



Eram numerosos os cristãos-novos portugueses que se movimentavam da Metrópole para as colónias, mercadejando ou simplesmente imigrando para lugares mais seguros para as suas famílias, e as ilhas atlânticas não foram exceções. Os judeus portugueses estiveram, como já disseram alguns historiadores, em todos os poros da colonização portuguesa. Eu diria que eles trilharam por todos os cantos do planeta, e ainda hoje são encontrados seus vestígios nos mais distantes ou diferentes países. Sem contar as colónias do Caribe, as Índias de Castela, a América do Norte e as colónias africanas. Os próprios judeus açorianos estão presentes em todo lado.


Vem para o Brasil no final do século XVII o cristão-novo Pedro Fernandes de Mello, comerciante da Ilha de São Miguel. Com o perdão de 1605, muitos se aproveitam para saírem de Portugal, indo muitos para a Holanda. Entretanto em 16l8, chega à Ilha Terceira um barco com 40 judeus portugueses provenientes da Holanda, entre eles António Rodrigues Pardo. De São Miguel, chega ao Rio de Janeiro o mercador judeu Manuel Homem de Carvalho, da família Homem de Almeida que teve como mártir em Coimbra o Dr. António Homem, líder religioso dos judaizantes. Manuel confessou ter retornado ao Judaísmo na Holanda onde havia estado.


Um pouco antes de 1600, vêm para a Bahia os cristãos-novos terceirenses António Rodrigues Pardo e Pero Garcia. Em 1592, o Pe. Jerônimo Teixeira Cabral, comissário da Inquisição nos Açores, denuncia a infiltração de cristãos-novos na Igreja como clérigos. Muitos partidários de D. António Prior do Crato, pretendente ao trono português, e de etnia hebraica, são expulsos da Ilha por Felipe II da Espanha, então detentor das duas coroas Ibéricas, que fugiram para os Países Baixos e para o Brasil. Entre eles, Manuel Serrão Botelho, que chega ao Brasil logo após 1582. Um contratador dos Açores foi o cristão-novo Miguel Gomes Bravo, natural do Porto que nomeou como arrendatário o cristão-novo Francisco Bocarro.


Miguel veio para o Brasil em 1585, e em 16l0 vai morar no Rio de Janeiro. Era casado com Isabel Pedrosa de Gouveia, tendo grande descendência. Álvaro Fernandes Teixeira, natural da Ilha Terceira, cristão-novo casado com Maria de Azevedo, filha do cristão-novo Diogo Cristóvão, do Porto, e seus parentes vieram residir no Rio de Janeiro no século XVII. Da ilha de São Miguel, vem residir na mesma cidade o cristão-novo Pedro Fernandes de Mello, casado com a congénere Ana Garcia de origem espanhola. Diogo Teixeira de Azevedo, cristão-novo nascido no Rio de Janeiro e filho do casal da Ilha Terceira, Álvaro Fernandes Teixeira e Maria de Azevedo, foi preso pela Inquisição e saiu em Auto-de-Fé em Lisboa em 5 de Abril de 1620, condenado a hábito penitencial e cárcere a arbítrio terminou solto em Junho daquele mesmo ano .




sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

calamidades naturais nos Açores no Séc. XV

 


1564 — Erupção vulcânica na Lagoa do Fogo, São Miguel - A erupção iniciou-se a 13 de Fevereiro e foi de curta duração, não tendo causado estragos. Provavelmente foi uma manifestação freatomagmática.


1571 — Crise sísmica causa graves danos em Angra - A partir do mês de Junho desencadeou-se uma crise sísmica centrada a SE da Terceira, provavelmente no Banco D. João de Castro. Para além da Terceira, os sismos eram sentidos em São Miguel, tendo sido, mesmo, notados por um navio que navegava nas proximidades. Um testemunho coevo, em carta escrita em Angra a 2 de Agosto de 1571, diz que o temor na ilha era muito, pois "a qual ha perto de dous meses que treme, e posto que agora são  raros os tremores, dia houve, em que por espaço de seis horas tremeu 10 vezes, e dia de 18 vezes, e os abalos eram também  grandes que derrubarão algumas casas, e muitas chaminés, e abrirão as mais das casas, e maiores desta cidade, e cairão grandes pedaços de rochas, das que estão ao longo do mar; os temores durarão tanto espaço, que a gente que então se achava em as casas tinham tempo para sair fora, e o tremor não sesava".



1580 — Erupção do vulcão da Queimada, ilha de São Jorge - Na noite de 28 de Abril a terra tremeu 30 vezes e 50 no dia seguinte. No dia 1 de Maio os tremores recrudesceram e nesse mesmo dia ocorreu uma explosão vulcânica no cimo da encosta sobranceira à Queimada. Outra explosão ocorreu posteriormente no alto da Ribeira do Nabo, 2 km a leste da inicial. Outra emissão de lavas teve a sua origem junto à Ribeira do Almeida. A erupção durou 4 meses com emissão de grandes correntes de lava que atingiram o mar e de muitas cinzas que recobriram a ilha, atingindo mesmo a Terceira. Uma nuvem ardente matou pelo menos 10 pessoas. Mais de 4000 cabeças de gado pereceram de fome e devido aos gases e cinzas que destruíram as pastagens.

1588 — Grandes inundações em São Bento e Porto de Pipas, Terceira - A 26 de Fevereiro chuvas muito intensas provocaram grandes cheias em São Bento. As águas seguiram uma canada em direcção ao Porto de Pipas, lugar onde destruíram as muralhas soterrando algumas embarcações ali varadas.



1588 — Inundações nas Velas, ilha de São Jorge - A 8 de Novembro, ocorreu nas Velas uma enxurrada que "levou muita gente ao mar e alagou muitas casas", dando origem a um romance popular.


1589 — Um raio mata duas pessoas na Terceira - A 26 de Setembro, durante uma tempestade (provavelmente um ciclone tropical), um raio atingiu uma casa palhoça na Serra de Santiago, Praia, matando o proprietário e um soldado castelhano que lá estava hospedado.


1591 — Sismo sentido em São Miguel e na Terceira - Em consequência de um sismo ficaram arruinados muitos edifícios, especialmente em Vila Franca do Campo e Água de Pau, povoação onde ficaram arruinadas as melhores casas. O Rei concedeu 150 000 reis para ajuda à reconstrução. O sismo foi também sentido na Terceira, onde a terra tremeu quatro vezes e parecia querer "subverter-se".




1593 — Mau ano agrícola provoca fome na Terceira e S. Jorge - O ano de 1593 foi um mau ano agrícola, o que associado às consequências da guerra de 1580-1583, do saque e dos pesados tributos para manutenção da força de ocupação castelhana, causou miséria e fome generalizada entre a população rural da ilha. Há notícia de terem morrido muitas pessoas de fome. Em São Jorge também se morreu de fome neste ano.


1599-1600 — Peste bubónica provoca cerca de 7 000 mortos na Terceira - O ano de 1599 ficou conhecido como o "ano do mal" já que uma epidemia de "antrazes" (peste bubónica) dizimou boa parte da população da ilha, apenas poupando poucas localidades. Foi um dos anos mais trágicos da história da ilha Terceira, encerrando uma época na qual em menos de duas décadas, para além da doença, a guerra, com o terrível saque e mortandade que se seguiu à entrada em Angra das forças castelhanas, e a fome marcaram a sua presença.



terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

José Armas Gomes da ilha das Flores Açores

 

José Armas Gomes, nasceu na ilha das   Flores em 1943.

Dedicou-se profissionalmente à lavoura e à pesca.

 Em 1969 foi nomeado Regedor da Freguesia, cargo que manteve até à sua extinção em 1976. No mesmo ano, foi eleito Presidente da Direção da Cooperativa de Lacticínios da Fazenda.

Depois da Autonomia da Região colaborou na fundação da União das Cooperativas de Lacticínios da Ilha das Flores, onde a cooperativa da Fazenda ficou integrada.



Em 1987 foi o Presidente da comissão instaladora da Associação Agrícola da Ilha das flores, tendo sido eleito para Presidente da Direcção durante 3 mandatos.


Foi igualmente Presidente da Federação Agrícola dos Açores, durante cerca de um mandato tendo pertencido à Direcção Nacional da Confederação Agrícola de Portugal.


Exerceu funções como deputado na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, pelo Partido Social Democrata, entre Junho de 93 e Abril de 94.




sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Sociedade Filarmónica Lira da ilha do Corvo

 

A Sociedade Filarmónica Lira Corvense, é a única filarmónica que existe no Corvo, foi constituída a 4 de Novembro de 1938, começando a sua actividade a partir de Setembro do ano seguinte, 1939, a fazer actuações fora da Ilha, com deslocações frequentes principalmente à ilha das Flores, sua vizinha.


Esta filarmónica deste que foi constituída teve vários momentos de dificuldade na sua história, chegando mesmo a ver a sua actividade suspensa principalmente durante a década de 1950 a 1960 devido ao enorme surto de emigração que aconteceu para os Estados Unidos e para o Canadá, aliado o um Serviço Militar Obrigatório, imposto pela ditadura de Oliveira Salazar durante a Guerra Colonial Portuguesa, que levava para combater nas colónias grandes parte da juventude portuguesa, que afastava assim da ilha grande parte da juventude da ilha.


O grande impulso de desenvolvimento desta filarmónica aconteceu com a Autonomia do arquipélago dos Açores quando muitos benefícios económicos foram dados às filarmónicas por diferentes ilhas como forma de apoiar a cultura.


Assim os corvinos agarraram a oportunidade e não só reconstituíram a filarmónica, como criaram uma escola de música e deram início à compra de novos instrumentos.


Foi em 1991 que se deu a grande reactivação da “Filarmónica Lira Corvense”. Foi neste ano que se criaram os estatutos próprios e se fez a eleição de uma Direcção.


Para este “ressurgir” da Filarmónica Lira Corvense muito também contribuiu a própria Câmara Municipal de Vila do Corvo com a sua colaboração quer a nível financeiro como logístico que chegou mesmo à cedência de uma sede.



quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

João da Castanheira um dos primeiros povoadores da ilha de Santa Maria Açores

 


João da Castanheira (século XV) foi um fidalgo português, povoador da ilha de Santa Maria e, posteriormente, da ilha de São Miguel, nos Açores.


Foi escudeiro-fidalgo do donatário da ilha, o então 5.° Duque de Viseu e 4.° Duque de Beja, Manuel I de Portugal (1495–1521).


Chegou à ilha de Santa Maria anteriormente a 1472, à época do 2.º capitão do donatário, João Soares de Albergaria. Recebeu sesmaria a oeste e próxima a Vila do Porto, que começou a cultivar e posteriormente vendeu, passando-se para a ilha de São Miguel, onde se fixou e deixou descendência. Estas terras foram mais tarde de Heitor Gonçalves Minhoto, intitulando-se Cabeçadas de João da Castanheira.


Foi lugar-tenente do capitão João Soares de Albergaria em Santa Maria, encontrando-se no desempenho destas funções, quando da passagem de Cristóvão Colombo (de 18 a 28 de Fevereiro de 1493), no seu retorno da descoberta das Antilhas. As tratativas com Colombo na ocasião encontram-se registadas no "Diário" de navegação deste, na obra de frei Bartolomé de las Casas e na de Fernando Colombo, filho do navegador.


O exercício desta função é confirmado por uma escritura de venda de seis moios de terra de semeadura, dada em sesmaria por João Soares de Albergaria a João da Maia e sua esposa, Guilhelma Fernandes de Alpoim, com data de 7 de Maio de 1492, onde se refere João da Castanheira como capitão na ausência de João Soares de Albergaria.  É coerente ainda com o contrato de casamento de João Soares de Albergaria com a sua segunda esposa, D. Branca de Sousa, celebrado em Lisboa em 1492.


João da Castanheira teve uma filha, Margarida de Matos, que se casou com Fernão do Quental, escudeiro-fidalgo que também foi povoador da ilha de Santa Maria, onde teve dadas, de acordo com a crónica de Gaspar Frutuoso. Indo com o sogro para São Miguel, lá se fixou, vindo a ser nomeado Ouvidor do capitão donatário, Rui Gonçalves da Câmara.



A respeito de ambos, Frutuoso refere ainda:


"Fernão do Quental e João da Castanheira, homens mui nobres e honrados, que vieram de Portugal e começaram a povoar a ilha, na Vila do Porto, e tiveram dadas nela, e, depois de descoberta esta ilha de São Miguel, vendendo o que tinham na de Santa Maria por pouco preço, se passaram a morar nela, e moraram na Ponta Delgada, acima da qual teve um deles uma serra, que do seu nome se chamou o Pico de João de Castanheira, dos quais direi adiante, quando tratar da mesma ilha."




terça-feira, 21 de janeiro de 2025

A lenda de Angra do Heroísmo ilha Terceira Açores

 

Segundo a tradição, o príncipe dos mares vivia apaixonado por uma linda princesa de cabelos louros que vivia próximo aos seus domínios. A princesa, entretanto, não correspondia aos seus amores por já se encontrar apaixonada por outro príncipe. O senhor dos mares vivia consumido por ciúmes que muitas vezes o levavam à violência, e decidiu chamar uma fada ao seu reino marinho, com o objectivo de mudar o rumo aos acontecimentos.


A fada veio e tentou durante bastante tempo que a princesa desistisse do seu amor e se apaixonasse pelo Senhor do Mar. Fez magias e quebrantos e exerceu todas as suas influências, mas sem nada conseguir devido ao profundo amor da princesa pelo seu príncipe. Furioso, o senhor dos mares acabou por expulsar a fada dos seus domínios.


Um dia, os dois apaixonados, que até ali tinham vivido só da troca de olhares e de suaves devaneios, trocaram o primeiro beijo. Foi um beijo rápido, mas o sussurro dos apaixonados foi escutado pelo senhor e príncipe dos mares, que acordou do leito de rocha de basalto negro e areia vulcânica onde dormia.

A fada também ouviu e atravessou apressadamente os céus em direcção ao reino do príncipe dos mares, pois via a oportunidade de se vingar do príncipe, por quem entretanto se tinha apaixonado, e da princesa que lhe roubava a felicidade.



Quando chegou perto do Senhor do Mar, viu-o furioso a bater-se contra a terra com furiosas e encapeladas ondas cobertas de espuma branca e disse-lhe baixinho: "Príncipe do mar, chegou a hora da vossa vingança. Aqui estou para fazer o que mandardes." Cego pelo ciúme e pela raiva, este ordenou-lhe em tom de ódio: "Correi, fada, fulminai o príncipe que roubou minha amada. Mas... lembrai-vos, só a ele!"

Aceitando o desafio com a cabeça e convidando o Senhor do Mar a assistir à vingança que ia preparar, a fada levou-o pela mão em direcção à praia onde estavam os dois apaixonados. Lá foram encontrar a princesa de cabelos soltos, dourados ao sol poente, levemente reclinada sobre o seu apaixonado.



Rapidamente, a fada soltou a mão do Senhor do Mar e se precipitou sobre o par enamorado, fazendo um encanto: o príncipe ficou transformado num grande monte (o Monte Brasil) coberto de denso arvoredo, levantando-se altivo de frente para o mar. A princesa recusou-se a abandonar o seu apaixonado e ficou para sempre reclinada na posição em que se encontrava. Com o passar os milénios, transformou-se na baía e na cidade de Angra do Heroísmo. Encontram-se os dois unidos e embalados para sempre pelas noites e pelos dias, pelo eterno soluçar angustiado do Atlântico, príncipe e senhor dos mares.



segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Os primeiros imigrantes que vieram das regiões da Holanda e Bélgica para os Açores

 


Govaert Lodwijk que deu origem aos nomes Gularte, Goulart e Luis.


Leon de Hurtere, cujos filhos emigraram para os açores, entre eles Joz van Hurtere que originou

Dultra, Dutra e Horta.


Jacob van Brugge, fundador da Vila da Praia na Ilha Terceira, em janeiro de 1451, com muitos descendentes, incluindo a família "de Bruges" local.



Willem de Kersemakere, que deu origem a Casamaca e Silveira este por sua esposa Margarida de


Sabuya possivelmente seu sobrenome original seria van der Haagen, de onde vem também Vandraga.


Willem van der Bruyn ou Guilherme de Brum.


Joz van Aertrycke que originou o sobrenome da Terra.


Pieter van de Roos, de originou os sobrenome da Rosa


Van de Olm - Fernão Dulmo, que fundou Quatro Ribeiras na Terceira.


van den Berghe (Berge)


Bettencourt

Bormans (Bermans)


Bulscamp (Bulcão)


Van Can (Cao),


Verstraeten (Estrada)


Fabritius Timmermans (Fabrício)


Van der Goes (Gois)


De Groot (Grotas)


Hustaerdt (Hustarte)


Lem, (Leme)



Van der Linden, Verlinden (Linde)


De Lis (Lis, Liz),


de Looze (Luis, Luiz)


Van Praet (Praet)


De Rouze (Rosa)


Silvester (Silvestre),




Van Rossem (Rossem)


Teeuwen, Teewen (Teves)


E os franceses:


French Bouillion (Bulhões)


Dumas (Dumas)


Jacques, Jacobs (Jacques)


Le Merchier (Lemerchier)


Pegas (Pegues, Piques)


Pernet


De Ponte, Dupont (Ponte)





sábado, 18 de janeiro de 2025

Foi há 76 anos o fatídico acidente aéreo no Pico da Vara Açores

 


Foi a 28 de outubro de 1949.


Por volta das quatro horas de uma madrugada de nevoeiro, depois de duas falhadas tentativas para aterrar no aeroporto da ilha de Santa Maria, um avião Lockheed Constellation da Air France, que fazia a ligação Paris-New York, esmagou-se no Pico da Vara (1.105 metros), concelho do Nordeste.


O enorme estrondo acordou os moradores das freguesias de Santo António Nordestinho, Algarvia e Santana, onde ainda há quem recorde essa noite e os agitados dias que se seguiram.


Muitos populares subiram a serra a pé, pelos estreitos trilhos, até ao local do acidente. Não sobreviveu nenhum dos 48 ocupantes do avião.


Havia corpos por todo o lado e a desgraça foi aproveitada por alguns. Constou na altura que o avião transportava muitos relógios de pulso e haverá pessoas que ainda conservam alguns desses relógios.



Houve também quem cortasse dedos das vítimas para se apoderar de anéis, pilhagem que levou as autoridades francesas a apelidarem os habitantes da ilha de “piratas de pé descalço” e originou um incidente diplomático entre a França e Portugal, motivando a deslocação de polícias franceses aos Açores para revistarem casas e fazerem apreensões.


Mas a grande maioria das pessoas subiu ao Pico da Vara por razões humanitárias. Populares e soldados idos de Ponta Delgada carregaram os cadáveres em panos de tenda até ao adro da igreja na Algarvia, onde foram metidos nos caixões para o regresso a França.


As vítimas eram sobretudo anónimos homens de negócios, mas a bordo seguiam três celebridades: o pugilista Marcel Cerdan, 33 anos, a violinista Ginette Nevau, 30 anos, e o irmão pianista, Jean Paul Nevau, e o pintor Bernard Boulet de Monvel.


A revelação do rolo de uma fotográfica encontrada entre os despojos mostrou uma fotografia tirada durante o voo por Cerdan, Jean Paul e Ginette abraçada ao seu Stradivarius, mas do violino apenas foi encontrado o arco.


Marcel Cerdan, ex-campeão mundial dos médios, dirigia-se a New York para se encontrar com a amante, a cantora Edith Piaf, e treinar para um combate desforra com o americano Jack LaMotta, que teria lugar no Madison Square Garden.


As vidas do pugilista e da maior cantora francesa de todos os tempos tinham-se cruzado num restaurante francês de New York em 28 de março de 1947 depois de Cerdan ter conquistado o título mundial dos médios ao vencer Harold Granger por KO técnico no Madison Square Garden e foi uma paixão fulminante apesar dele ser casado e ter três filhos.


Edith Giovanna Gassion, era este o verdadeiro nome de Piaf, contava ao tempo 32 anos de idade e estava no auge de uma fabulosa carreira e de uma vida singularmente trágica.


Nasceu a 19 de dezembro de 1915 numa rua de Paris, filha de uma cantora e um acrobata que atuavam pelas ruas e ambos alcoólicos.


 Foi criada pela avó paterna que tinha um prostíbulo e eram as prostitutas que cuidavam dela.


Tornou-se cantora como a mãe e cresceu a atuar com o pai pelas ruas. Em 1938, estreou-se num cabaret de Paris e triunfou de imediato.


Cantava e escrevia, e o primeiro grande sucesso de Piaf foi La Vie en Rose com letra de sua autoria e música de Louiguy, gravada em 1946. Foi gravada por inúmeros artistas nos EUA, entre outros por Bing Crosby, Tony Martin, Paul Weston, Dean Martin, Tony Bennett e Louis Armstrong.



O sucesso de La Vie en Rose trouxe Piaf a New York pela primeira vez em 1947 para atuar num night club da Rua 42, em Manhattan, chamado precisamente La Vie en Rose e onde Amália se apresentou pela primeira vez nos EUA em 1952, durante 14 semanas.


O romance de Piaf e Cerdan escandalizou muitos franceses, ela era a voz e ele os punhos da França do pós guerra.


Piaf já tivera (e viria a ter) uns quantos “queridos” célebres, entre outros Yves Montand, Charles Aznavour, Gilbert Becaud, George Moustaki, Eddie Constantine e até um jovem ator chamado Marlon Brando.  Mas Cerdan foi o seu grande amor e, em outubro de 1949, Piaf telefonou ao amado para que a viesse ver e Cerdan partiu para a morte nos Açores.  Piaf recebeu a notícia do desastre horas antes de atuar. Não cancelou o espectáculo, mas no final da quinta canção desmaiou no palco.  Nessa noite, em homenagem a Cerdan, Piaf dedicou-lhe uma das suas mais belas canções, Hymne à L’Amour, que ela compusera com Marguerite Monnot e que cantara pela primeira vez no La Vie en Rose.  A canção ficou como um momento sublime da paixão vivida pela cantora e o pugilista e, até à sua morte, a 10 de outubro de 1963, com 47 anos, sempre que cantou Hymne à L’Amour em público, Edith Piaf dedicava a canção a Marcel.



por Eurico Mendes, nos EUA *






( Cortesia ao Diário dos Açores  )


terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Fernando Machado Soares e o fado de Coimbra




Fernando Machado Soares  nasceu em São Roque da ilha do Pico Açores a  3 de Setembro de 1930  e faleceu em  Almada a 7 de Dezembro de 2014. Foi um poeta, cantor, intérprete e compositor no âmbito da Canção de Coimbra, jurista e juiz jubilado, mais conhecido pela sua Balada da Despedida do 6.º ano Médico (1958), intitulada "Coimbra tem mais encanto".

Era descendente do último Capitão-Mor das Lajes do Pico. Licenciou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, nos anos 50.
Participou no filme Rapsódia Portuguesa.


Após ter concluído o curso superior, suspendeu durante alguns anos a sua actividade artística. Porém, acompanhou o Orfeão Académico de Coimbra aos Estados Unidos (1962), onde cantou com êxito em Nova York (Lincoln Center), Boston, Chicago e Atlanta. Participou ainda num programa televisivo da NBC.

Autor de diversos temas célebres, entre eles a "Balada da Despedida do 6º Ano Médico" (1958); co-autoria de Francisco Bandeira Mateus.



Fernando Machado Soares, que foi juiz-conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, recebeu em 2006 o Prémio Tributo Amália Rodrigues “pela excelência da carreira artística e dedicação aos outros”.

Morreu aos 84 anos em Almada, cidade onde se realizou o funeral.


segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Embarcações naufragadas na Baía de Angra

 


1542 – Naufrágio da nau cognominada Grifo, capitaneada por Baltazar Jorge

A Grifo foi uma nau portuguesa da Carreira da Índia. Em 1536 D. João de Castro embarca para a Índia a bordo da nau.  Em 1542 a nau portuguesa, capitaneada por Baltazar Jorge naufraga nos Açores. Perdeu-se sobre a âncora.



1555 - Naufrágio da nau Assumpção, comandada por Jácome de Melo

A Nossa Senhora da Assunção foi uma nau de linha português.

Participou na Batalha de Matapão, sendo comandada pelo fiscal Pedro de Sousa Castelo Branco tinha 500 praças e continha 64 peças de artilharia.



1555 - Naufrágio da nau alcunhada de Algarvia Velha, acabada de chegar das Índias.

Nau que naufragou no regresso da India.


1586 - (17 de Setembro) – Naufrágio da nau Santa Maria, de nacionalidade espanhola e provinda de São Domingo. Devido ao nau tempo.

A Santa Maria, anteriormente chamada de La Gallega, foi a nau, do tipo carraca, capitânia do Almirante Cristóvão Colombo na viagem em que, navegando para Oeste pelo Oceano Atlântico, veio a descobrir o continente americano (1492).

De propriedade do mestre Juan de la Cosa, morador das vizinhanças do porto de Palos de la Frontera, e que a pilotava nesta viagem, era considerada pelo Almirante como uma embarcação pesada.


1587 - Naufrágio de um galeão português (Santiago) capitaneado por Francisco Lobato Faria e provindo de Malaca. Perdeu a amarra, salvando-se a gente e a fazenda.

em que se contam os grandes trabalhos e lastimosas coisas que acontecerão ao Capitão Manuel de Sousa Sepúlveda, e o lamentável fim, que ele e sua mulher, e filhos, e toda a mais gente houveram na Terra do Natal, onde se perderão a 24 de Junho de 1552.

Logo no início da obra encontramos o sem dúvida mais conhecido do todos os relatos da História Trágico-Marítima, que aqui merece ser resumido:



Manuel de Sousa Sepúlveda passara à Índia em 1534, para não ter que casar com uma senhora que seduzira, e cujos irmãos o perseguiam. No Oriente fora capitão às ordens de Martim Afonso de Sousa. Estivera presente na conquista de Diu em 1536, na armada do governador D. Estêvão da Gama ao Mar Vermelho em 1540, etc. Em 1544 fora nomeado capitão de Diu.


A 3 de Fevereiro de 1552, com a mulher e os filhos, largou de Cochim, na Índia, rumo a Lisboa, como capitão do galeão grande São João. O galeão vinha carregado com 7500 quintais de pimenta, e transportava mais de quinhentas pessoas. A 13 de Abril, à vista do Cabo da Boa Esperança, a nave foi acometida por fortes tempestades, acabando por naufragar a 8 de Junho, nas costas do Natal. Os cerca de 380 sobreviventes iniciaram, um mês mais tarde, uma longa marcha rumo a Moçambique.



A fome, as doenças, os ataques dos Cafres  e dos animais selvagens foram lentamente diminuindo o seu número. Quando atravessaram o rio de Lourenço Marques, nos fins de Dezembro, os sobreviventes eram apenas cerca de 120; e um filho de 10 anos de Manuel de Sousa Sepúlveda tinha já morrido. Nesta região foram os sobreviventes portugueses maltratados pelos Cafres, vindo a mulher do capitão e os seus filhos pequenos a morrer em Janeiro de 1553, em circunstâncias dramáticas. Manuel de Sousa Sepúlveda, depois de os enterrar, internou-se no mato para nunca mais ser visto.


O relato deste infortúnio foi redigido por um autor desconhecido, talvez baseado em informações de Álvaro Fernandes, guardião do galeão, e foi impresso pela primeira vez logo cerca de 1554. Camões, no Canto V de Os Lusíadas, faz o Adamastor profetizar a tragédia:


"Outro também virá de honrada fama,

Liberal, cavaleiro, enamorado,

E consigo trará a formosa dama

Que Amor por grã mercê lhe terá dado.

Triste ventura e negro fado os chama

Neste terreno meu, que duro e irado

Os deixará dum cru naufrágio vivos

Para verem trabalhos excessivos.


Verão morrer com fome os filhos caros,

Em tanto amor gerados e nascidos;

Verão os Cafres ásperos e avaros

Tirar à linda dama seus vestidos...