segunda-feira, 25 de junho de 2018
José Bensaude, fundador da Fábrica de Tabaco Micaelense
José Bensaude nasceu em Ponta Delgada a 1835 e faleceu em 1922 foi um importante e culto industrial, administrador e lavrador açoriano de origem judaica. Foi o fundador da Fábrica de Tabaco Micaelense (FTM) uma empresa pioneira no sector da indústria tabaqueira.
Fez os seus estudos em Ponta Delgada, sendo condiscípulo de Antero Tarquínio de Quental, de quem foi sempre amigo dedicado. As circunstâncias económicas não lhe permitiram tirar um curso universitário, nem continuar a dedicar-se às letras, como começara.
De 1861 a 1863, desempenhou o cargo de Secretário da Junta Administrativa do Porto Artificial de Ponta Delgada.
Em 1866, introduziu na Ilha de São Miguel a cultura e manipulação do tabaco, propondo a alguns amigos a fundação duma Sociedade destinada à exploração industrial da planta. Assim nasceu a Fábrica de Tabaco Micaelense, a primeira fundada nos Açores. Para obter bons produtos nas circunstâncias do ambiente, teve de dedicar-se a longas e difíceis experiências, e manifestou os seus dotes de Moralista na solução que deu ao problema de operariado na fábrica.
Ocupou-se, também, durante anos, do comércio de aprestos marítimos para navegação à vela.
De 1872 a 1887, administrou a Sociedade Exportadora Micaelense, cujo principal objecto era colher, acondicionar e exportar laranjas por conta alheia. De 1873 a 1912 ocupou-se, também, da Sociedade de Cultura de Ananases. Contribuiu para o desenvolvimento da cultura do chá e da indústria da espadana.
José Bensaude, fundador da Fábrica de Tabaco Micaelense, nos primeiros anos do século XX já era respeitado por conjugar os interesses empresariais com preocupações de cariz social e cultural. Com Vasco Bensaude, contribuiu sobremaneira para o desenvolvimento do do Grupo Bensaude, mantiveram-se as mesmas preocupações, bem como com o seu filho Filipe Bensaude. É na continuidade dessa tradição já secular que o Grupo Bensaude procura apoiar as mais diversas iniciativas, de natureza institucional, colectiva ou individual, com a preocupação de viabilizar projectos relevantes nos domínios mais diversos, nomeadamente no âmbito cultural e científico.
sábado, 23 de junho de 2018
Música Oficial Sanjoaninas 2018
As festas Sanjoaninas são consideradas as maiores festas profanas do arquipélago. Iniciadas logo após o povoamento na cidade Património Mundial de Angra do Heroísmo Ilha Terceira Açores
A Terceira é uma das nove ilhas dos Açores, integrante do chamado "Grupo Central". Primitivamente denominada como Ilha de Nosso Senhor Jesus Cristo das Terceiras, foi em tempos o centro administrativo das Ilhas Terceiras, como era designado o arquipélago dos Açores. A designação Terceiras aplicava-se a todo o arquipélago do Açores visto terem sido as terceiras ilhas descobertas no Atlântico (o arquipélago das Canárias era designado de Ilhas Primeiras e o arquipélago da Madeira por Ilhas Segundas, segundo a ordem cronológica de Descoberta). Com o avançar dos anos esta ilha passou a ser conhecida apenas por Ilha Terceira.
A riqueza da sua história e património edificado levou a que a Zona Central da Cidade de Angra do Heroísmo fosse classificada como Património Mundial pela UNESCO a 7 de Dezembro de 1983. A cidade é sede do Regimento de Guarnição n.º 1, uma das mais antigas unidades militares portuguesas.
As Sanjoaninas, festas dedicadas a S. João, ocupam as ruas de Angra do Heroísmo durante dez dias do mês de Junho. Cortejos, concertos musicais, touradas (de praça ou à corda), tasquinhas de petiscos, espectáculos de teatro e fogo-de-artifício e provas desportivas, têm o seu ponto alto no desfile das marchas populares.
Iniciadas logo após o povoamento, as Sanjoaninas são consideradas as maiores festas profanas do arquipélago.
Em 1934 surge pela primeira vez um cortejo de abertura com séquito real, como é hoje conhecido.
Desde então os cortejos têm evoluído de ano para ano, contando com temas cada vez mais arrojados.
Um dos pontos altos da festa é a noite de São João caracterizada pelas suas marchas.
Afficion tauromáquica está no sangue dos terceirenses, e como tal as suas maiores festas não podiam deixar de ser marcadas pela sua feira taurina.
Por esta altura a praça de toiros da nossa ilha Terceira, recebe nomes de relevo a nível nacional e internacional da tauromaquia.
Em 2010 as Sanjoaninas contam com uma equipa jovem e ambiciosa, que quer rejuvenescer o conceito das festas, sem quebrar com a sua tradição.
Apesar dos longos anos de edições consecutivas, as Sanjoaninas continuam a atrair sangue novo à comissão.
De 19 a 27 de Junho, as Sanjoaninas reúnem à semelhança de outras edições, cortejos, desfiles, marchas populares, exposições, desporto, etnografia, gastronomia, espectáculos e tauromaquia.
quinta-feira, 21 de junho de 2018
Angra, Berço do Liberalismo Sanjoaninas 2018
“Angra, Berço do Liberalismo” tem por objectivo lembrar às novas gerações a importância do concelho na génese da primeira manifestação a favor do Liberalismo”, explicou o Vice-Presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, José Gaspar.
A organização vai assim recriar o momento em que “na noite de 22 de Junho de 1828, reagindo à aclamação de D. Miguel, o Batalhão de Caçadores n.5 sob o comando de José Quintino Dias, prendeu o governador do castelo, Teófilo Rogério de Almeida, e o capitão-general, Manuel Vieira de Albuquerque Touvar, protegido no Palácio dos Capitães-Generais. De seguida, recorrendo ao alvará de 12 de Dezembro de 1770, foi constituído o governo interino, tornando a Terceira o único reduto onde o ideal liberal existia e onde menos de um ano depois, a vitória liberalista na batalha de 11 de Agosto de 1829, consolidaria essa condição, preparando o caminho para o Desembarque do Mindelo, que permitiu às forças liberais apanhar de surpresa o exército miguelista que haveria de as submeter ao prolongado Cerco do Porto. D. Miguel acabou por capitular em 1834, abrindo caminho à implantação definitiva do liberalismo em Portugal.”
Em relação ao cartaz das festividades, da autoria do designer Rúben Quadros Ramos, ilustra o amanhecer na cidade, na sequência da noite de 22 de junho de 1828, mantendo a estética e identidade gráfica que tem sido desenvolvida nos últimos anos, e que representa a cidade de forma inequívoca.
Nas palavras do designer “casas coloridas, janelas de vidros miúdos, varandas de ferro fundido, telhas de barro, entre outros detalhes, fazem de Angra uma urbe única. Mais do que figurativo, é o romper da escuridão para um novo capítulo da história nacional”, disse. “Afinal, tal como a lua, o liberalismo crescia e iluminava o céu e as casas das mentes mais despertas”e mais do que dar forma e cor às Sanjoaninas 2018, “este cartaz demonstra como Angra é uma fonte de inspiração para celebrar os costumes, os valores e a vida humana”, afirmou.
A edição de 2018 das festas Sanjoaninas decorre entre os dias 22 de junho a 1 de julho.
( Cortesia à Câmara Municipal de Angra do Heroísmo )
quarta-feira, 20 de junho de 2018
Roberto Ivens nasceu na ilha de S. Miguel Açores
Roberto Ivens nasceu a 12 de Junho de 1850, na freguesia de São Pedro, Ponta Delgada, filho de Margarida Júlia de Medeiros Castelo Branco, de apenas 18 anos de idade, oriunda de uma família de modestos recursos, e de Robert Breakspeare Ivens, de 30 anos, filho do abastado comerciante inglês William Ivens, residente em Ponta Delgada desde 1800. Robert Breakspeare Ivens era bisneto materno do famoso Thomas Hickling, vice-cônsul americano em Ponta Delgada.
Não sendo os pais casados, e dadas as diferenças sociais e convenções da época, fruto de amores furtivos e proibidos (mas tolerados), o nascimento deu-se numa casa arrendada, onde o pai havia instalado a amante, que, entretanto, fora amaldiçoada, deserdada e expulsa de casa pelo pai. A instâncias da mãe, o recém-nascido foi baptizado às escondidas como filho de pai incógnito, na igreja da Fajã de Cima, arredores da cidade. Entregue à parteira do lugar, Ana de Jesus, foi por esta levado à igreja sendo baptizada pelo cura, tendo como padrinho o irmão do vigário.
A criança foi entretanto criada na companhia da mãe e da tia, Ana Matilde. Com o aparecimento de uma nova gravidez, Roberto Breakspeare Ivens providencia uma empregada e uma casa na Rua Nova do Passal, Ponta Delgada. Por influência do Dr. Paulo de Medeiros, reconhece a paternidade sobre o pequeno Roberto, mesmo antes do nascimento do segundo filho, Duarte Ivens. Com apenas três anos de idade perde a mãe vítima da tuberculose.
Permanecendo em Ponta Delgada, beneficiando do estatuto social que o reconhecimento por parte da família Ivens lhe conferiu, frequenta a Escola Primária do Convento da Graça, onde desde logo foi apelidado de "Roberto do Diabo" dadas as travessuras em que se envolvia.
O pai, que entretanto casara, fixou-se em Faro, no Algarve, para onde leva os filhos em agosto de 1858.
Em 1861 Roberto Ivens é inscrito na Escola da Marinha, em Lisboa, ali fazendo os estudos que o conduziram a uma carreira como oficial de marinha. Foi sempre um estudante inteligente e aplicado, mas igualmente brincalhão. Um dos camaradas de curso confirmaria mais tarde este aspecto do carácter de Roberto Ivens: "Onde havia uma guitarra era chamado o Ivens e onde estava o Ivens era procurada uma guitarra".
Ao regressar a Lisboa, soube do plano governamental de exploração científica no interior africano, destinado a explorar os territórios entre as províncias de Angola e Moçambique e, especialmente, a efectuar um reconhecimento geográfico das bacias hidrográficas do Zaire e do Zambeze. Foi, de imediato, oferecer-se para nela tomar parte. Como, porém, a decisão demorasse, pediu para ir servir na estação naval de Angola. Aproveitou esta estadia para fazer vários reconhecimentos, principalmente no rio Zaire, levantando uma planta do rio entre Borud e Nóqui.
Por Decreto de 11 de maio de 1877 foi nomeado para dirigir a expedição aos territórios compreendidos entre as províncias de Angola e Moçambique e estudar as relações entre as bacias hidrográficas do Zaire e do Zambeze. Na mesma data foi promovido a primeiro tenente.
De 1877 a 1880, ocupou-se com Hermenegildo Capelo e, em parte, com Serpa Pinto, na exploração científica de Benguela às Terras de Iaca. No regresso, é feito Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e é nomeado a 19 de agosto de 1880 vogal da Comissão Central de Geografia. Por Decreto de 19 de janeiro de 1882, foram-lhe concedidas honras de oficial às ordens e a 28 de julho foi nomeado para proceder à organização da carta geográfica de Angola.
Em 19 de abril de 1883, é nomeado vogal da comissão encarregada de elaborar e publicar uma colecção de cartas das possessões ultramarinas portuguesas. Por portaria de 28 de novembro do mesmo ano foi encarregado de proceder a reconhecimentos e explorações necessários para se reunirem os elementos e informações indispensáveis a fim de se reconstruir a carta geográfica de Angola.
Face às mais que previsíveis decisões da Conferência de Berlim era preciso demonstrar a presença portuguesa no interior da África austral, como forma de sustentar as reivindicações constantes do mapa cor-de-rosa entretanto produzido. Para realizar tão grande façanha, são nomeados Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens.
Feitos os preparativos, a grande viagem inicia-se em Porto Pinda, no sul de Angola, em março de 1884. Após uma incursão de Roberto Ivens pelo rio Curoca, a comitiva reúne-se, de novo, desta vez em Moçamedes para a partida definitiva a 29 de abril daquele ano.
Foram 14 meses de inferno no interior africano, durante os quais, a fome, o frio, a natureza agreste, os animais selvagens, a mosca tsé-tsé, puseram em permanente risco a vida dos exploradores e comitiva. As constantes deserções e a doença e morte de carregadores aumentavam o perigo e a incerteza. Só de uma vez, andaram perdidos 42 dias, por terrenos pantanosos, sob condições meteorológicas difíceis, sem caminhos e sem gente por perto. Foram dados como mortos ou perdidos, pois durante quase um ano não houve notícias deles.
Ao longo de toda a viagem, Roberto Ivens escreve, desenha, faz croquis, levanta cartas; Hermenegildo Capelo recolhe espécimes de plantas, rochas e animais.
A 21 de junho 1885, a expedição chega finalmente a Quelimane, em Moçambique, cumpridos todos os objectivos definidos pelo governo.
Na viagem foram percorridas 4500 milhas geográficas (mais de 8300 km), 1.500 das quais por regiões ignotas, tendo-se feito numerosas determinações geográficas e observações magnéticas e meteorológicas.
Estas expedições, para além de terem permitido fazer várias determinações geográficas, colheitas de fósseis, minerais e de várias colecções de história natural, tinham como objectivo essencial afirmar a presença portuguesa nos territórios explorados e reivindicar os respectivos direitos de soberania, já que os mesmos se incluíam no famoso mapa cor-de-rosa que delimitava as pretensões portuguesas na África meridional.
segunda-feira, 11 de junho de 2018
Rui Teles Palhinha
O Professor Doutor Ruy Telles Palhinha nasceu em Angra do Heroísmo, Açores, a 4 de Janeiro de 1871. Foi professor em liceus de Santarém, onde também foi presidente da Câmara Municipal (1899-1900),[2] e Lisboa, e professor e director da Escola Normal Superior de Lisboa, onde ensinou Metodologia Especial das Ciências Histórico-Naturais. Na Universidade de Lisboa, foi professor e director da Faculdade de Farmácia e professor da Escola Politécnica, a actual Faculdade de Ciências, onde foi secretário e dirigiu a Biblioteca e o Jardim Botânico.
Foi o primeiro Reitor do Liceu de Camões, em Lisboa, de 1902 a 1911.
Era sócio da Academia das Ciências de Lisboa, do Instituto de Coimbra, da Real Academia de Córdova, da Sociedade Broteriana, da Sociedade de Geografia de Lisboa, da Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais, da Société Botanique de France, da Société Botanique de Genève, da Société Linnéenne de Lyon, etc.
Muitos dos escritos do Professor Palhinha - resultantes, sobretudo, das excursões botânicas aos Açores realizadas em 1934, 1937 e 1938 sob a sua direcção - incidiram sobre as plantas do arquipélago.
No Outono de 1957 trabalhava ainda no manuscrito dum catálogo dos espermatófitos açorianos. Brutal acidente de viação impediu-o, porém, de ultimar essa obra em que se ocupava com tanto entusiasmo e que considerava a pedra-de-fecho dos seus estudos acerca da flora dos Açores. Veio a morrer no dia 13 de Novembro desse ano.
A cidade de Angra do Heroísmo atribuiu o seu nome a uma das ruas do bairro da Carreirinha, junto à Escola Básica Integrada.
domingo, 10 de junho de 2018
Portugal !
Poema de Manuel Alegre
"Luís de Camões"
10-06-2012
Lido em Pádua, em Maio de 2012, por Hélia Correia
Tinha uma flauta.
Não tinha mais nada mas tinha uma flauta
Tinha um órgão no sangue uma fonte de música
Tinha uma flauta.
Os outros armavam-se mas ele não:
Tinha uma flauta.
Os outros jogavam perdiam ganhavam
Tinham Madrid e tinham Lisboa
Tinham escravos na índia mas ele não:
Tinha uma flauta.
Tinham navios tinham soldados
Tinham palácios e tinham forcas
Tinham igrejas e tribunais
Mas ele não:
Tinha uma flauta.
Só ele Príncipe.
Dormiam rainhas na cama do rei
Princesas esperavam no Belvedere
Ele tinha uma escrava que morreu no mar.
Morreram escravas as rainhas
Morreram escravas as princesas
Nenhuma teve o seu rei
Para nenhum chegou o Príncipe.
Por isso a única rainha
Foi aquela escrava que morreu no mar:
Só ela teve
O que tinha uma flauta.
Morreram os reis que tinham impérios
Morreram os príncipes que tinham castelos
Mas ele não:
Tinha uma flauta.
De fora vieram reis
Vieram armas de fora
Os príncipes entregaram armas
Ficou sem armas o povo.
As armas de fora venceram
Todas as armas de dentro.
Só não venceram o que não tinha armas:
Tinha uma flauta.
E as vozes de fora mandaram
Calar as vozes de dentro.
Só não puderam calar aquela flauta.
Vieram juízes e cadeias.
Mas a flauta cantava.
Passaram por todas as fronteiras.
Só não puderam passar
Pela fronteira
Daquela flauta.
E quando tudo se perdeu
Ficou a arma do que não tinha armas:
Tinha uma flauta.
Ficou uma flauta que cantava.
E era uma Pátria.
sábado, 9 de junho de 2018
Quem foi Curry Cabral
José Curry da Câmara Cabral nasceu na cidade da Horta, Açores, a 4 de Maio de 1844, filho de Alberto Curry da Câmara Cabral e de sua mulher, Mariana Adelaide Runquist Cabral. O pai pertencia a uma família de origem inglesa que na pessoa de Andrew Curry, seu tetravô, se fixara nos Açores no século XVIII, tendo-se ligada a algumas das mais influentes famílias locais, com destaque para os Arriaga
Residiu quase toda a vida em Lisboa, onde se matriculou na respectiva Escola Médico-Cirúrgica em 1864, tendo, depois dum curso distinto, defendido a sua teses inaugural a 23 de Julho de 1869, apresentando um trabalho intitulado As feridas articulares e a cirurgia conservadora, a propósito de um caso observado na enfermaria de clínica da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, que depois foi publicado .
Obtida a licenciatura, Curry Cabral iniciou a 7 de Fevereiro de 1870 actividade profissional no Hospital de São José, em Lisboa, exercendo as funções de cirurgião do banco de urgências, passando, a 10 de Dezembro de 1874, às funções de cirurgião extraordinário. A 2 de Julho de 1885 foi nomeado director da enfermaria, até atingir em 1900 o cargo de enfermeiro-mor, a que correspondia a direcção clínica daquele hospital. Como enfermeiro-mor, Curry Cabral, reformou o sistema administrativo daquele hospital, levando à aprovação de um novo regulamento para os internamentos, que vigorou em todos os hospitais portugueses. Para além do seu trabalho no Hospital de São José, foi ainda cirurgião-mor de enfermaria nos hospitais de Santa Quitéria e de D. Estefânia .
Entretanto iniciou a sua carreira académica, sendo nomeado por decreto de 11 de Dezembro de 1873, após concurso, preparador e conservador do Museu de Anatomia da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Exerceu aquele cargo até 10 de Fevereiro de 1876, data em que foi nomeado lente substituto da secção cirúrgica daquela Escola, ingressando assim na respectiva docência.
Como docente da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa foi promovido a lente proprietário da secção cirúrgica, por decreto de 8 de Novembro de 1876, sendo-lhe confiada a regência da cadeira de Anatomia Patológica, vaga pela transferência do lente António Maria Barbosa, um conterrâneo faialense. Mais tarde, aquando da jubilação do professor Barbosa, a 21 de Novembro de 1889, Curry Cabral pediu transferência para a cadeira de Medicina Operatória, o que obteve de imediato.
Publicou numerosas obras de natureza científica e académica, tendo sido um dos redactores da revista Medicina Contemporânea, um hebdomadário de ciências médicas que se publicou em Lisboa no ano de 1883. A sua fama como cientista e como professor de ciências médicas levou a que fosse de feito membro de várias associações científicas, nacionais e estrangeiras, entre as quais da Societé d'Hygiene de Paris, e eleito sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa. Entre 1898 e 1900 foi presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa. Exerceu também as prestigiosas funções de vogal do Conselho Superior de Instrução Pública.
Foi o principal impulsionador da instalação em Lisboa de um hospital para tuberculosos e outros pacientes de doenças infecto-contagiosas. Aquele hospital, ainda hoje conhecido popularmente como Hospital do Rego, foi erguido no local onde assentou o Convento das Convertidas de Nossa Senhora do Rosário, de religiosas franciscanas, fundado depois de 1768. Inaugurado em 1906, por obra do governo de Hintze Ribeiro, com o nome de Hospital do Rego, aquela instituição deu origem ao actual Hospital Curry Cabral, assim denominado, no ano de 1929, em homenagem ao Professor José Curry da Câmara Cabral.
Curry Cabral foi agraciado em 1904 com a comenda da Ordem de Santiago da Espada. Foi um clínico de prestígio, considerado a par de Sousa Martins, Manuel Bento de Sousa e Oliveira Feijão, uma das mais ilustres figuras da medicina portuguesa dos inícios do século XX.
quinta-feira, 7 de junho de 2018
Quem escreveu o Hino do Arquipélago dos Açores
O Hino dos Açores terá sido tocado em público pela primeira vez pela Filarmónica Progresso do Norte em Rabo de Peixe, na ilha de São Miguel, a 3 de Fevereiro de 1894. Nesse mesmo dia, António Tavares Torres, então presidente da Comissão Executiva da Câmara Municipal da Ribeira Grande, acompanhado de um grupo de amigos e da Filarmónica Progresso do Norte, foi a Ponta Delgada apresentar o hino. Depois da Filarmónica o ter executado em frente das residências dos membros da Comissão Eleitoral Autonómica, ao anoitecer, reuniu-se no Campo de São Francisco um largo grupo de apoiantes da autonomia, que depois percorreu as ruas da cidade em direcção ao Centro Autonomista frente ao qual se realizou um comício autonomista da campanha para as eleições gerais daquele ano. No comício discursaram, entre outros, Caetano de Andrade, Pereira Ataíde, Gil Mont'Alverne de Sequeira e Duarte de Almeida.
A 14 de Abril de 1894, dia das eleições gerais em que foram eleitos deputados autonomistas os Gil Mont'Alverne de Sequeira, Pereira Ataíde e Duarte de Andrade Albuquerque, realizou-se um cortejo pelas ruas de Ponta Delgada, integrando filarmónicas que tocavam o Hino da Autonomia, que os acompanhantes cantavam.
A 9 de Março de 1895, as filarmónicas também tocaram o Hino da Autonomia na Praça do Município de Ponta Delgada, numa festa organizada para assinalar a promulgação do Decreto de 2 de Março de 1895, que concedia, embora mitigada, a tão desejada autonomia.
Ao longo dos anos, e em função da evolução política, o hino terá tido várias letras. A primeira que se conhece é a do Hino Autonomista, na realidade o hino do Partido Progressista Autonomista, liderado por José Maria Raposo de Amaral, então maioritário em São Miguel. A composição é da autoria do poeta António Tavares Torres, natural de Rabo de Peixe e militante daquele partido.
Com o advento do Estado Novo e do nacionalismo, o Hino dos Açores foi votado ao ostracismo.
Com a autonomia constitucional o Hino dos Açores foi oficiamente adoptado pelo parlamento açoriano e a sua música, com arranjo de Teófilo Frazão sobre o original, oficialmente aprovada pelo Decreto Regulamentar Regional n.º 13/79/A, de 18 de Maio. Face à inexistência de uma letra com aceitação generalizada, foi encomendada uma nova à poetisa açoriana Natália Correia.
A versão oficial do Hino dos Açores foi cantada pela primeira vez em público a 27 de Junho de 1984, por alunos do Colégio de São Francisco Xavier. Estiveram presentes na cerimónia João Bosco da Mota Amaral, então Presidente do Governo Regional dos Açores, membros do Governo e diversas entidades oficiais. O Hino foi cantado por 600 crianças, vestidas de saia azul, blusa branca e laço amarelo, que tinham sido ensaiadas pela professora Eduarda Cunha Ataíde, ao tempo professora de música no Colégio de São Francisco Xavier.
terça-feira, 5 de junho de 2018
A bandeira dos Açores
A bandeira dos Açores foi aprovada pelo Decreto Regional n.º 4/79/A, de 10 de Abril, e regulamentada pelo Decreto Regulamentar Regional n.º 13/79/A, de 18 de Maio. Corresponde, com pequenas alterações de estilização, à primeira bandeira da autonomia hasteada pela primeira vez por José Maria Raposo do Amaral, em Novembro de 1876, na casa do Monte, em Ginetes, na ilha de São Miguel.
Nos termos do artigo 2.º do diploma legal que a aprovou , a bandeira dos Açores tem a seguinte descrição vexilológica:
A bandeira tem a forma rectangular, sendo o seu comprimento uma vez e meia a altura.
A bandeira é partida de azul-escuro e branco.
A divisão do lado da haste tem dois quintos (40%) do seu comprimento, tendo a outra divisão três quintos (60%).
Ao centro, sobre a linha divisória, tem um açor voante, de forma naturalista estilizada, de oiro.
Por cima do açor, e em semicírculo, tem nove estrelas iguais, de oiro, com cinco raios.
Junto da haste, no canto superior, tem o escudo nacional português.
As cores que são as mesmas da bandeira da monarquia liberal portuguesa que foi aprovada por decreto de 18 de Outubro de 1830, assinado em Angra, onde então estava instalada a Regência do Reino. Aquela bandeira foi hasteada pela primeira vez no Castelo de São João Baptista do Monte Brasil, da cidade de Angra ainda nesse ano. A primeira bandeira hasteada, e que se conserva no Museu de Angra do Heroísmo, diz-se ter sido bordada pessoalmente pela rainha D. Maria II de Portugal.
Na bandeira dos Açores, para além do escudete português, simbolizando a ligação do arquipélago e dos açorianos a Portugal, foi incluído um açor, ave associada ao nome do arquipélago, e nove estrelas de cinco raios que simbolizam as nove ilhas habitadas que compõem o arquipélago.
O desenho oficial da bandeira foi publicado em anexo ao Decreto Regulamentar Regional n.º 13/79/A, de 18 de Maio[4], tendo-se optado pela utilização na parte azul-escuro da bandeira do designado azul ultramarino.
A bandeira dos Açores foi oficialmente hasteada pela primeira vez a 12 de Abril de 1979 nas sedes dos departamentos da administração regional autónoma, havendo nessa tarde o encerramento de todos os serviços oficiais (Despacho Normativo n.º 21/79, de 12 de Abril; e Despacho Normativo n.º 22/79, de 12 de Abril).
domingo, 3 de junho de 2018
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